Ajustando o GPS
Olá, Bolsonaro já é carta fora do baralho, mas a direita e o governo continuam procurando o caminho mais curto para 2026.
.Correndo atrás do prejuízo. O fracasso da manifestação bolsonarista em Copacabana chegou como um alívio para Lula. Mas nem deu tempo de degustar a boa fase, porque uma nova rodada da pesquisa PoderData confirmou que a sangria do governo ainda não chegou ao fim, com 44% dos eleitores considerando o governo Lula pior que o de Bolsonaro. Mesmo assim, na opinião de Marcos Gonçalves, não é possível dizer que os dados apontem tendências estruturais e ainda haveria tempo para reverter o quadro atual. A chave para isso é bem conhecida e parece consensual no Planalto: fazer com que a política econômica melhore a vida dos mais pobres. O caminho está certo, avalia Maria Hermínia Tavares, mas não se sabe ainda se medidas como o Pé de Meia, crédito consignado para trabalhadores e Vale Gás surtirão o efeito esperado. Além disso, não se vislumbra nada tão ousado como um Bolsa Família, um PAC ou um Minha Casa Minha Vida que marcaram os governos petistas do passado. Pode-se esperar, no máximo, um engorde do Programa Minha Casa Minha Vida, sem superar a lógica da pulverização de iniciativas. Aliás, a falta de uma identidade contribui para desmobilizar as bases de apoio do terceiro mandato de Lula. O que estimula o ministro da Comunicação social, Sidônio Pereira, a encontrar uma solução mágica para atrair jovens, evangélicos e empreendedores, agregando as atuais políticas públicas sob um slogan chamado “Prospera Brasil”. Porém, a aposta mais promissora é mesmo a reforma do Imposto de Renda, o que também ajudaria a recuperar a desgastada imagem de Fernando Haddad. A vantagem da proposta é que ela não implicaria em aumento da carga tributária, esvaziando o surrado argumento do mercado para se opor, além de ter caráter progressivo, prevendo a sobretaxação dos 141 mil contribuintes mais ricos - com renda superior a R$50 mil mensais - para isentar os 10 milhões mais pobres - que ganham menos de R$5 mil ao mês.
.Só falta combinar com... O plano de Lula seria perfeito se não dependesse do mercado e do centrão. A persistência da inflação em alta num contexto de juros elevados coloca o governo numa sinuca de bico. Afinal, é a primeira vez que Lula tem maioria de indicados na diretoria do Banco Central, além do próprio presidente do Banco, Gabriel Galípolo. E, no entanto, nada disso evitou que o Copom votasse por consenso um novo aumento da taxa Selic, que chegou a 14,25%, o mesmo patamar de 10 anos atrás. Depois disso, ainda é possível imaginar que Galípolo possa inverter a linha ascendente? Ou a batalha dos juros já foi dada como perdida? Por enquanto, a atuação do novo presidente do Bacen só prova que quem controla a instituição continua sendo a Faria Lima. A situação econômica tende a se agravar também porque não há sinais de que Trump pretenda revogar a sobretaxação sobre o aço e o alumínio brasileiro, o que nas projeções da OCDE pode prejudicar o crescimento do país. As outras dificuldades para implementar a agenda do Planalto estão dentro do Congresso. É verdade que a nova ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, fez bem o dever de casa e pavimentou os caminhos no Congresso para que a reforma do Imposto de Renda saia do papel. Mas a base aliada ainda espera acenos concretos por parte do governo, leia-se ministérios. Até lá, o que sobra para negociar é o varejo da liberação de emendas paradas e das indicações às presidências de Comissões na Câmara, cujos impasses começam a serem resolvidos. Com isso, a votação da Lei Orçamentária de 2025 foi destravada e o ano financeiro no setor público de fato começa.
.Morreu na praia. Jair Bolsonaro viu suas melhores chances de sobrevivência política morrerem nas areias de Copacabana. O ato que reuniu algo entre 18 e 30 mil pessoas, demonstrou que o ex-capitão ainda tem capacidade de mobilização, mas nada que seja suficiente nem para impulsionar a bandeira da anistia, seu veículo de propaganda para atacar o STF, nem para fortalecê-lo antes do julgamento e, muito menos, para assegurar um futuro político. O ato serviu como uma espécie de depuração: ficam com Bolsonaro os eleitores católicos mais conservadores, os pastores evangélicos ao estilo Silas Malafaia e a legítima extrema-direita, ainda que com três governadores. Por outro lado, libera o centrão e a direita mais pragmática do peso de um Bolsonaro a caminho da prisão. E, finalmente, Tarcísio de Freitas parece que pode colher anos de fidelidade ao bolsonarismo, podendo alçar um voo solo sem ser tolhido por seu criador. O fiasco do ato, somado ao desempenho mediano como cabo eleitoral nas eleições municipais, também tira de Bolsonaro a prerrogativa de definir a candidatura da direita nas eleições, mais especificamente de escolher um de seus filhos como candidato. Neste caso, Tarcísio vira a melhor opção para todos, preservando alguma influência do bolsonarismo, mas também tira a família miliciana do centro de gravidade, além de ter as bênçãos do mercado financeiro. Enquanto o fracasso do ato fortalece a direita, lhe abrindo caminhos, para Bolsonaro, a situação exige mudança de tática. O afastamento temporário de Eduardo Bolsonaro da Câmara é sinal de que agora a família do ex-capitão vai apostar no apoio de Trump e das big techs para compensar a perda de força nas ruas e no Congresso. Ou quem sabe preparar a fuga do patriarca. A campanha pela anistia deve perder força, ainda que continue sendo o melhor atalho para Bolsonaro tentar alguma sobrevida eleitoral, assim como o peso do ex-capitão em 2026 nem de longe será como o de Lula em 2018. A prioridade máxima é escapar ou minimizar os danos da prisão.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.Mamãe, nós vamos morrer? jornalista palestina em Gaza reporta o horror da retomada do genocídio em Gaza, matando mais de 400 pessoas. No Outras Palavras.
.Eis a nova estrutura do poder. O economista Ladislau Dowbor descreve o poder e os riscos das 117 corporações que controlam as finanças globais.
.O ciclo que se fecha na Ucrânia. O professor José Fiori analisa o destino da Europa após a derrota ucraniana.
.Polícias de SP prendem menos e matam mais, mesmo com menor número de confrontos. A letalidade da PM paulista aumenta mesmo com a diminuição de confrontos. Na Agência Ponte.
.“Eu escuto Bach e Resenha do Arrocha“. Um perfil do maestro Carlos Prazeres da Orquestra Sinfônica da Bahia.
.Coração de Estudante, o hino das Diretas Já. Às vésperas do lançamento do documentário sobre Milton Nascimento, André Bernardo resgata a história da canção símbolo da luta pela democracia. No DW.
.Elis Regina no Montreux Jazz Festival. Na semana em que comemoraria 80 anos, um show histórico de Elis Regina no tradicional festival.