A manifestação realizada por Jair Bolsonaro em Copacabana no último final de semana evidenciou o enfraquecimento político do ex-presidente, que tenta mobilizar apoio para um projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, enquanto enfrenta a perspectiva de se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF).
O ato, que segundo estimativas oficiais reuniu cerca de 18 mil pessoas, ficou muito abaixo das expectativas anunciadas por Bolsonaro, que havia falado em um milhão de pessoas nas ruas, depois 500 mil. A baixa adesão foi interpretada como um sinal de "desespero" do bolsonarismo, especialmente após o episódio envolvendo o deputado Eduardo Bolsonaro, que anunciou que ficaria nos Estados Unidos por tempo indeterminado.
"Foi uma demonstração de covardia jamais vista, porque não tem ninguém ameaçando você aqui, efetivamente. Quem corre o risco de ser preso é o pai, não é ele", aponta José Roberto Toledo sobre a atitude do filho do ex-presidente. Eduardo Bolsonaro comunicou que se licenciaria da Câmara, embora tenha direito a apenas quatro meses de licença não remunerada, enquanto seu visto de turista nos EUA permite permanência de apenas 90 dias.
A estratégia de Eduardo Bolsonaro, segundo levantamento da Arquimedes, conseguiu desviar atenções da proposta de isenção do Imposto de Renda apresentada pelo governo no mesmo dia. "O Eduardo Bolsonaro ganhou de 10 a 1 do governo nas redes sociais. Só se falou nisso", diz Toledo.
O ex-presidente concentra agora seus esforços na aprovação de um projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro antes do dia 25 de março, quando o STF decidirá se aceita a denúncia contra ele e outros acusados de participação na "trama do golpe". Caso a denúncia seja aceita, Bolsonaro se tornará réu.
No Congresso, a articulação para a anistia enfrenta obstáculos significativos. O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, declarou-se contrário à votação do projeto de anistia antes da eleição de 2026, afirmando que não quer "contaminar o processo eleitoral". A declaração provocou reação imediata do pastor Silas Malafaia, que o chamou de "cretino" em vídeo publicado nas redes sociais.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), afirmou que a decisão sobre pautar ou não o projeto de anistia será tomada de forma colegiada pelos líderes, e não por decisão unilateral. Essa postura reflete a dificuldade de conciliar os interesses divergentes na coalizão que elegeu Motta para a presidência da Casa.
O PSD, outro partido importante para definir o destino da proposta, está dividido. Segundo Gilberto Kassab, presidente do partido, metade da bancada vai votar contra, metade vai votar a favor do projeto de anistia. O PSD possui 44 deputados, o mesmo número da bancada do Republicanos, tornando-se peça-chave nas articulações parlamentares.
A tensão sobre o tema deve aumentar à medida que as eleições de 2026 se aproximam, já que a coalizão que elegeu Hugo Motta para a presidência da Câmara, unindo PT e PL, terá dificuldades em conciliar posições tão antagônicas. "No caso da anistia, não dá para conciliar os interesses do PT com os interesses do PL, do interesse do Valdemar e do Bolsonaro com os interesses do Lula", destaca Toledo.
No STF, a defesa de vários indiciados tentou sem sucesso afastar os ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin do julgamento, alegando suspeição. O plenário do Supremo, no entanto, garantiu a permanência de ambos, assim como a do ministro Alexandre de Moraes, que já havia sido alvo de tentativas semelhantes.
A turma que julgará o caso é composta por Moraes, Dino, Zanin, Luiz Fux e Cármen Lúcia. Um recente almoço na casa de Alexandre de Moraes, com comparecimento em peso de seus colegas, foi interpretado como sinal de que o ministro mantém forte influência no tribunal.