Imagine um veículo elétrico bem diferente desses que já circulam pelas ruas. Isso porque, em vez de rodar pela cidade e ficar parado no meio do engarrafamento, ele liga suas hélices e sai voando.
Estamos falando dos eVTOLs, aeronaves de motor elétrico de propulsão, de decolagem e pouso vertical, fabricadas pela Eve, empresa de mobilidade aérea urbana da Embraer. Estes modelos - que farão os céus parecerem com os antigos desenhos dos Jetsons, de onde, aliás, a empresa tirou a inspiração para um de seus modelos - estão avançados e devem fazer seu primeiro voo de teste ainda neste ano. O produto está previsto para entrar no mercado em 2027 e já existem 2.800 cartas de intenção de compra de eVTOLs com um valor total aproximado de US$ 14 bilhões. O planejamento da empresa é uma produção inicial de 120 unidades por ano.
"Os eVTOLs nascem com o objetivo de encurtar as distâncias nos grandes centros urbanos e assim devolver o tempo para as pessoas. Tudo com a eletrificação como referência", diz Larissa Maraccini, Vice-Presidente de Pessoas, Marketing, Comunicação e ESG da Eve.
O princípio do eVTOL é o mesmo do helicóptero, porém a diferença é que ele servirá para viagens de curta distância, como pontos na mesma cidade. A sustentabilidade de toda sua produção é um outro diferencial - desde o motor, que será acionado por energia renovável, até mesmo a pintura a base de água e baixos ruídos.
Como se trata de uma nova modalidade de transporte, ainda não há uma regulação fechada para os eVTOLs e este é o principal foco no momento. No final do ano passado, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) divulgou os critérios finais de aeronavegabilidade que estes veículos devem possuir. A partir de então, a Eve direcionou seus esforços para definir os meios de conformidade das aeronaves, que serão produzidas em Taubaté, interior de São Paulo, cidade próxima à São José dos Campos, sede da Embraer.
A seguir, a executiva da Eve fala um pouco mais sobre estas aeronaves que tanto povoam o nosso imaginário e que prometem revolucionar a mobilidade urbana - com sustentabilidade.
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Ecoa: Quando teremos, enfim, carros voadores elétricos pelos ares das cidades?
Larissa Maraccini: Existe uma ansiedade mesmo. No momento, o processo de desenvolvimento do produto corre em paralelo com o processo de certificação. Dentro do nosso cronograma, falamos que nossa entrada em serviço está pautada para 2027, pois não adianta ter um produto e não ter a certificação para operá-lo, que é uma condição básica. Então, temos colocado muita energia nesta área junto aos órgãos reguladores, pois é um desafio: ninguém tem uma base pronta para esta certificação. A indústria de aviação é muito regulada porque é de alta profundidade e preza pela segurança acima de tudo. Estamos construindo este novo mercado juntos, em parceria. Tudo neste produto requer parcerias, aliás. Uma delas com a Anac, por exemplo, para desenvolver projetos dos vertiportos, pois o eVTOL precisará de um espaço para pousar e decolar - no início, podemos usar helipontos, mas, na medida em que ganharmos escala, precisaremos de infraestrutura. É um veículo novo, que não existe. Não é um helicóptero, nem um avião.
Ecoa: E o que é este produto?
Larissa Maraccini: Ele é um veículo de pouso e decolagem vertical, diferente de qualquer outra aeronave. É 100% elétrico e vai voar nos grandes centros urbanos. Estamos falando de uma indústria que está em construção. Isso envolve fornecedores, operadores, reguladores. Precisamos de todo um setor e stakeholders que vão acompanhar a gente nesse projeto. Então, isso significa desenvolver desde uma bateria potente até o piloto e o operador que vai estar na linha: tudo requer uma capacitação específica. Temos aqui não apenas um desafio de produto, e sim uma oportunidade de desenvolver toda uma cadeia.
Ecoa: Como serão estas baterias e quais os desafios de sustentabilidade que elas impõem?
Larissa Maraccini: Estamos fazendo estudos em baterias que nunca foram feitas antes. Afinal não se trata de uma bateria qualquer: ela é destinada a um veículo que voa. O mercado hoje discute veículos híbridos, elétricos, mas tudo muito focado em terra. E eu acho que existem outras avenidas para o ar, outras tecnologias que, à medida em que a gente estuda, gera e certifica um produto, abre caminho para outras empresas. Estamos gerando conhecimento para melhorar produtos já existentes. Nosso desafio agora é usar a tecnologia da bateria para o nosso mercado. Nosso fornecedor é a BAE Systems, que está há mais de 25 anos estudando e desenvolvendo essa competência. Pensamos agora na vida da bateria, sua destinação, as opções de segunda via. Para cada um desses temas, há um grupo de trabalho com soluções diferentes e sempre com a sustentabilidade em foco.
Ecoa: Além de serem elétricos, quais as outras características sustentáveis dos eVTOLs?
Larissa Maraccini: A proposta do eVTOL é ser um veículo simples, que demanda pouca manutenção e, portanto, um potencial custo de operação mais baixo. Quando eu falo deste custo mais baixo, eu estou falando de sustentabilidade. Todas as operações de fabricação serão alimentadas por energia limpa e renovável, assim como as tintas utilizadas são a base de água. O time de engenharia também está focado na questão da acessibilidade dentro da aeronave, que irá operar com emissões de carbono zero e baixo ruído.
Ecoa: Como estão os testes no momento?
Larissa Maraccini: Teremos o primeiro teste no ar, não tripulado, no segundo semestre deste ano. Por enquanto, estamos fazendo testes em solo das partes da aeronave, projetada com capacidade para quatro passageiros e um piloto. Antes de voar, há inúmeros testes de todos os subsistemas de engenharia. Mas também estamos ansiosos para chegar logo aos céus.