O presidente da Câmara, Hugo Motta, encontra-se pressionado por ambos os lados do espectro político em relação ao projeto de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Para José Roberto de Toledo, enquanto o PT e o governo, principalmente o governo, estão pressionando Hugo Motta para ele nem sequer pensar em colocar em votação a anistia aos terroristas do 8/1, por outro lado, o bolsonarismo está indo às ruas para pressionar o presidente da Câmara justamente para fazer o contrário.
A pressão bolsonarista não se limita apenas às manifestações públicas. Como destaca Thais Bilenky, o bolsonarismo está indo às ruas literalmente. "No palanque, todos os governadores, deputados e políticos, os discursos sempre voltados para pressionar o Hugo Motta no domingo. E aí, durante a semana, em plenário, também continuaram fazendo suas gestões para o Hugo Motta pautar esse projeto de anistia", afirma a colunista do UOL.
O tema ganhou força após tentativas do PL de obstruir votações e suspender processos contra aliados bolsonaristas, como o deputado Alexandre Ramagem. Segundo Bilenky, a proposta está parada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados). "Não teve avanço desde então. Então, eles estão agora nessa pressão", afirma.
Publicamente, Motta tem mantido discrição sobre o assunto, apesar de ter recebido Bolsonaro em uma agenda não divulgada na quarta-feira. "O Mota publicamente ficou quieto, recebeu o Bolsonaro em uma agenda que ele não divulgou na quarta-feira, mas não pôs nada para votar", destaca Bilenky.
Como alternativa ao impasse, uma solução intermediária estaria sendo considerada. "O que se fala muito em Brasília, e, inclusive, se coloca na boca do próprio Hugo Mota, é uma solução meio-termo, que seria algo como diminuir a pena ou defender uma progressão de pena para quem foi condenado pelo 8/1, mas pelos crimes menos sensíveis", explica a colunista. A ideia seria distinguir entre os que foram condenados por atacar o Estado Democrático de Direito e aqueles responsabilizados apenas por danos ao patrimônio público.
O objetivo dessa estratégia, segundo Bilenky, seria "aprovar um projeto que tenha mais tranquilidade para passar na Câmara, para passar no Senado e para o Lula não vetar, porque, no limite, o Lula não sanciona uma anistia. E, aí, a coisa escala para o Supremo Tribunal Federal."
A complexidade da situação aumenta com a ausência temporária de Motta, que viajou para o Japão com o presidente Lula. Em seu lugar, assume a presidência da Câmara o deputado Altineu Cortes, do PL, descrito por Bilenky como "um deputado do PL bolsonarista, que foi o líder do partido totalmente bolsonarista."
Existe a preocupação de que, durante a ausência de Motta, o projeto possa ser colocado em votação. Uma manobra desse tipo poderia gerar ainda mais conflitos. "Pode ser isso, como pode acabar arranjando uma bela de uma encrenca do bolsonarismo, do Bolsonaro com o Hugo Mota", alerta Bilenky, destacando que "é uma jogada de alto risco, porque se ele faz isso, seja combinado ou não, mas pelas costas, na ausência do presidente da Câmara, isso dá argumentos para quem está em cima do muro."
Até o momento, o projeto sequer conseguiu as assinaturas necessárias para o regime de urgência, evidenciando a falta de consenso. "O fato é que essa urgência para ir direto para o plenário não teve assinatura até agora. Então, se eles não conseguiram voto para a urgência, quanto menos para o mérito", observa Bilenky, ressaltando que isso explica porque o PL tem lançado mão de várias táticas para conseguir fazer emplacar uma anistia que até agora não saiu.
Toledo resumiu a situação em uma frase: "Indo às ruas é uma anistia para o Hugo Mota", sugerindo que, entre tantas pressões conflitantes, o próprio presidente da Câmara poderia necessitar de algum tipo de perdão político pelo caminho que escolher seguir.