12 abril, 2025

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Jair Bolsonaro, Donald Trum, tarifaço, PL da reciprocidade

Sábado, 12 de Abril de 2025

A vingança de Arthur Lira

Glauber Braga não está sendo cassado por chutar a bunda do MBL, mas por denunciar a perversidade do Orçamento Secreto.


Na política brasileira, poucas palavras se esvaziaram tanto quanto “decoro”. A cassação do mandato de Glauber Braga, aprovada esta semana pelo Conselho de Ética da Câmara, escancara como esse conceito virou arma política — e, neste caso, instrumento de vingança pessoal.


Glauber sempre foi incômodo. Chamou Eduardo Cunha de “gângster”, Moro de “juiz ladrão” e Bolsonaro de “genocida”. Mas o seu erro mais imperdoável foi ter chamado o então presidente da Câmara, Arthur Lira, do PP de Alagoas, de “bandido” por causa de seu Orçamento Secreto.


O episódio aconteceu em 2022 , no plenário, e quase passou despercebido na época. Glauber perguntou a Lira se ele não tinha vergonha do orçamento secreto. Lira jurou vingança e, como um de seus últimos atos, enviou uma denúncia contra Glauber ao Conselho de Ética, em Abril de 2024.

Dois anos depois do entrevero entre ambos, o contra-ataque de Lira chegou com a frieza típica do mais cruel dos vilões.

O pretexto para Lira levar a cabo sua promessa foi o chute de Glauber em Gabriel Costenaro, integrante do MBL, expulso da Câmara após insultar a mãe do deputado, doente e prestes a morrer. Glauber reagiu de forma dura, chutando suas nádegas e o expulsando do recinto.


Exagerado? Talvez. Mas é nossa obrigação notar que, na mesma semana em que a Câmara avançou para cassar Glauber, assistiu com normalidade o deputado Gilvan da Federal, do PL do Espírito Santo, dizer em sessão oficial: “Quero que Lula morra”.


E a fala não foi feita em um debate comum, mas numa discussão absurda: a de um projeto de lei que visa desarmar a segurança do presidente da República e seus ministros — tentativa de facilitar, através de uma lei, o que já foi plano golpista: o assassinato político de Lula.


O projeto, relatado por Gilvan e apresentado por Paulo Bilynskyj, do PL de São Paulo, foi aprovado pela Comissão de Segurança Pública. A Advocacia-Geral da União reagiu e pediu investigação. Mas será que a Câmara vai tratá-lo da mesma forma que Glauber?


A incoerência revela um padrão. Cassações, ameaças e manobras legislativas hoje seguem um projeto mais amplo de destruição institucional. E não se trata de apoiar Glauber ou o PSOL. Trata-se de reconhecer a violência que é retirar direitos políticos por motivos ideológicos — com o aplauso de quem tolera o intolerável.


O Brasil que celebra um Oscar por homenagear um parlamentar cassado, torturado e morto pela ditadura agora assiste, inerte, às viúvas desse regime tocarem adiante seu projeto. Cassam vozes dissonantes, armam os fanáticos e tentam desarmar o presidente.


Transformam a Câmara em arena de vingança e o “decoro” em ferramenta para calar opositores.


Lira venceu Glauber. Mas a derrota é nossa – e muito mais profunda.

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