11 abril, 2025

Brasil de Fato

 

Quais os maiores dilemas do Brasil?

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Sexta-feira, 11 de Abril de 2025

EQuais os espaços que a classe trabalhadora tem para trocar, conversar e criar planos para mudanças de paradigma no seu dia a dia? A Conferência Dilemas da Humanidade reuniu cerca de 70 intelectuais, líderes políticos e de movimentos populares do mundo nesta semana a fim de ser um destes espaços, e o Brasil de Fato estava lá.

 

Organizada pelo Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pelo Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e pela Assembleia Internacional dos Povos (AIP), a quarta edição da conferência trouxe o escritor e historiador indiano Vijay Prashad logo na mesa de abertura, que pode ser conferida em nosso canal no YouTube.

Se o diretor geral do Instituto Tricontinental começou assim, ele terminou sem deixar o público na mão, pois trouxe propostas práticas para ajudar nos primeiros passos de governos progressistas, sugerindo a criação de uma cartilha assim como as que a Rússia e a China criaram.

 

A inspiração da China, e as relações com o país, também foram tema central na conferência — especialmente porque esteve em alta na semana devido à disputa tarifária com Donald Trump. Pensando na promoção do Sul Global, por exemplo, a sugestão do economista chinês Lyu Xinyu é “uma combinação de independência e abertura ao mundo exterior”, o que faz sentido para o desenvolvimento de uma economia forte e que tenha parcerias estratégicas.

 

A partir desta inspiração, que inclui a própria disputa EUA versus China, foi defendida uma nova arquitetura global ao longo de toda a programação do Dilemas. Marcio Pochmann, presidente do IBGE, acredita que o conceito de modernidade definido pelos EUA está esgotado e em colapso, o que abre a possibilidade de repensar um novo projeto que sirva ao Sul Global.

 

A desdolarização acompanha essa possibilidade, como afirmou o jornalista do Brasil de Fato Rodrigo Durão, que participou do podcast O Estrangeiro diretamente da cobertura da conferência: “Existem inúmeros problemas estruturais no sistema financeiro mundial que impedem isso de acontecer, mas algumas transações ocorrerem em outras moedas já é uma realidade”.

Dependência do dólar e de países do Norte Global, influência de tarifas externas, histórico opressor: a força do capitalismo em nações como o Brasil é sentida desde sempre, mas está cada vez mais forte conforme o sistema entra em crise.

 

As possibilidades de desenvolvimento foram discutidas no Dilemas da Humanidade, e a industrialização pode ser considerada uma forma de gerar riqueza distribuída e empregos de qualidade. Mas, como a socióloga Adriana Marcolino, diretora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aponta, o cenário industrial em países da “periferia do capitalismo” é marcado pela subordinação e pela precarização do trabalho.

 

Parece utópico sonhar com um desenvolvimento industrial que gere riqueza aos trabalhadores que possuem empregos de qualidade quando a batalha interna no Brasil ainda é pelo fim da escala 6x1. A precarização do trabalho é uma realidade constante.

 

Mas isso não tira a relevância dos espaços de discussão e troca de conhecimento. Em uma das mesas da conferência, por exemplo, a economista equatoriana Magdalena León defendeu a necessidade de existir uma economia mais abrangente, mais totalizante, que vá além do “conceito de que economia é igual a mercado e visualizando todo o conjunto de processos que, juntos, nos permitem satisfazer as necessidades humanas”.

 

Discutir para satisfazer as necessidades, ultrapassando o básico do tempo de descanso, boa remuneração, direito a lazer, pode ser o ponto de partida para realmente ter alguma mudança. Seja aproveitando o momento internacional ou se inspirando em experiências bem-sucedidas, o Brasil não precisa ficar à margem de possibilidades de desenvolvimento focado no trabalhador.

 

Cabe a nós, do Brasil de Fato, noticiar as discussões, possibilidades, e caminhos para outro mundo possível. No mínimo, outro país possível. E pode caber a você nos ajudar a seguir fazendo este trabalho, se tornando um apoiador fixo a partir de R$ 1 por dia.
 

Que nunca paremos de questionar e discutir.
 

Rafaella Coury

Coordenadora de Redes Sociais