Os mercados despencaram pelo mundo em resposta ao anúncio das tarifas recíprocas anunciadas ontem por Donald Trump e ao temor de uma recessão global.
As bolsas asiáticas fecharam e as europeias abriram em forte queda. O índice Nikkei do Japão caiu quase 3%.
Na Europa, por volta das 9h da manhã (horário de Brasília), as principais bolsas registravam queda de cerca de 2%. Antes da abertura, os índices futuros indicavam quedas fortes nas bolsas de Nova York e de São Paulo.
O dólar também está em queda de mais de 2% em relação a outras moedas internacionais, assim como o preço do petróleo, que recuou cerca de 3%.
"As tarifas foram piores do que o esperado, não há como dourar a pílula", disse ao Financial Times Zhikai Che, chefe da área de mercados emergentes do banco BNP Paribas.
O mundo reage
As reações internacionais ao pacote tarifário de Donald Trump vão da indignação e ameaça de retaliações aos pedidos de diálogo. Não houve ainda, porém, o anúncio de nenhuma medida concreta.
Uma das notas mais fortes foi a da China, que afirmou se opor veemente às tarifas e disse que adotará "contramedidas para se proteger".O país é o principal alvo da guerra comercial americana e sofrerá uma sobretaxa de 54%: os 34% de ontem, mais 20% anunciados anteriormente.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o bloco está "preparado para responder" ao que chamou de "duro golpe à economia mundial", mas defendeu o diálogo.
A Alemanha apoiou a União Europeia na busca de uma "solução negociada", mas a França defendeu que o bloco retalie "os serviços digitais" americanos.
O Japão ameaçou recorrer à OMC, e a Austrália disse que as medidas "não são o ato de um amigo".
Alívio no Brasil
A inclusão do Brasil no grupo dos países sujeitos apenas à tarifa mínima de 10% foi recebida com alívio por especialistas e representantes da indústria e do comércio.
"Pode dificultar alguma exportação, mas pouca coisa", disse à Folha de S. Paulo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.
Em nota, o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, disse que, com a taxação mais alta a países concorrentes, "pode haver uma vantagem competitiva para o Brasil, já que o custo adicional será repassado ao consumidor americano".
Há preocupação, porém, com a possibilidade de que países que sofreram uma taxação mais alta dos EUA desviem sua produção para outros mercados, aumentando a concorrência com o Brasil, ou que reduzam os preços de seus produtos exportados para o mercado brasileiro.
'Trump contra a globalização'
As tarifas anunciadas ontem por Trump foram manchete nos principais jornais internacionais. O Wall Street Journal, principal diário econômico e jornal de maior tiragem nos EUA, afirmou que "com o novo regime, Trump quer acabar com a era da globalização", mas alerta que há obstáculos no caminho do objetivo do presidente de revigorar a indústria americana.
O Financial Times destacou o temor de "grandes perdas" nos mercados de ações e citou Francesco Pesole, estrategista do banco ING, para quem "a perda de confiança em ativos em dólar é um voto de não confiança nos primeiros 100 dias do governo Trump".
O francês Le Monde afirmou em sua manchete que "Trump lançou sua guerra comercial mundial". O espanhol El País notou que Trump anunciou uma tarifa universal de 10%, "mas impôs um castigo maior aos seus principais sócios", em uma referência à tarifa de 20% contra a União Europeia.
O anúncio
As tarifas recíprocas foram anunciadas por Donald Trump com pompa em uma cerimônia com quase todos os seus ministros no jardim da Casa Branca.
O presidente americano anunciou que os EUA taxarão todos os países com uma alíquota correspondente à metade do que cada país cobra dos EUA.
A tarifa mínima, porém, será de 10%. O Brasil, a Argentina, o Reino Unido, a Turquia e a Arábia Saudita estão no grupo dos países que pagarão essa tarifa mínima.
Os produtos de países da União Europeia serão taxados em 20%. As maiores tarifas incidirão sobre economias asiáticas. A China estará sujeita a tarifas de 54% (34% anunciados ontem, mais 20% já em vigor); Vietnã a 46%; Taiwan, 32%; Coreia do Sul, 25%; Japão, 24% e Taiwan, 32%.
Canadá e México pagarão apenas os 20% anunciados anteriormente.
As medidas incluem o petróleo, que continua isento, e produtos cujas novas tarifas já haviam sido anunciadas anteriormente, como carros e autopeças e aço e derivados. A entrada em vigor está prevista para este sábado.