O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última semana um extenso pacote de tarifas contra parceiros comerciais do país. O movimento resultou em uma oscilação intensa nas Bolsas de Valores mundo afora. Neste cenário, como proteger os investimentos? Veja abaixo.
O que está acontecendo?
EUA aplicaram tarifas sobre países. Na tentativa de recuperar empregos perdidos com a globalização da economia e forçar diversas nações a baixar impostos na importação de produtos norte-americanos, Trump divulgou um tarifaço de ao menos 10% contra parceiros comerciais, entre eles o Brasil.
A forma de calcular a taxa aos países é aplicar tarifas que representam metade do que os bens americanos são taxados. Se um País aplica uma taxa de 40% para determinado produto, ele será taxado em 20% a partir de agora.
Muitos foram taxados acima de 10%. Países que tem um fluxo e um superávit comercial maior com os Estados Unidos sofreram punições maiores. É o caso da China, taxada em 34%, do Japão, em 24%, e da Coreia do Sul, em 26%.
Tarifas foram suspensas por 90 dias. Na quarta-feira (9), o presidente dos EUA resolveu suspender as tarifas recíprocas e estabeleceu o piso de 10% para todos os países. Foi uma forma de responder a China, que retaliou os Estados Unidos com tarifas de 84%. Após a divulgação das medidas por Pequim, a Casa Branca elevou o tarifaço sobre os chineses para 125%.
Qual o impacto do tarifaço para os investimentos?
Tarifas adicionais sobre a China aumentam risco de desaceleração da economia global. Segundo o gestor da Trópico Investimentos, Fernando Camargo Luiz, o movimento pressiona os ativos de risco. Prova disso foram as oscilações em diversas Bolsas e moedas em todo o mundo ao longo da última semana.
Na renda variável, empresas expostas ao comércio global tendem a sofrer mais. Em especial as exportadoras de commodities e indústrias.
Renda fixa ganha com aversão a risco. Luiz explica que os investidores tendem a migrar para ativos mais seguros em períodos de crise, como os títulos do Tesouro americano. Isso pode pressionar os juros para baixo no exterior, ampliar a valorização do dólar sobre o real e pressionar a inflação no Brasil, afetando os juros futuros e podendo levar o mercado a revisar a curva para a Selic.
O primeiro impacto visível é o aumento da volatilidade, reflexo direto da incerteza sobre o fluxo de comércio global. Tarifas elevadas desorganizam as cadeias de produção, pressionam os custos e reduzem a previsibilidade sobre receitas e margens. Empresas com forte exposição ao comércio internacional -- especialmente nos setores de commodities, tecnologia e indústria -- estão entre as mais afetadas.
Carol Borges, head e analista de FIIs da EQI Research
Como proteger a carteira da instabilidade na economia?
Diversificação eficiente tende a ajudar na proteção do portfólio. A head e analista da EQI Research, Carol Borges, diz que os investidores devem distribuir os ativos por diferentes geografias, setores e moedas, aliando isso aos seus objetivos e tendo prazos bem definidos.
Estratégia evita decisões impulsivas. E pode mitigar as perdas em momentos de maior estresse.
Renda fixa deve priorizar aportes em títulos públicos pós-fixados. Segundo Borges, isso vale para todos os perfis de risco, do conservador ao arrojado, por três motivos: baixa volatilidade, alta liquidez (disponibilidade dos recursos) e retorno atrativo. Um exemplo de investimento é o Tesouro Selic (as LTFs).
Investidor conservador deve buscar renda fixa e liquidez. São exemplos investimentos pós-fixados e de proteção contra a inflação. Por outro lado, títulos prefixados e aqueles com retorno pelo IPCA+ oferecem bons retornos e ganhos reais. Mas eles devem ser balanceados com ativos mais líquidos e menos voláteis.
Perfil moderado pode ter parte da carteira na renda variável com perfil defensivo. Além de exposição a títulos que consideram a inflação, portfólio pode ser completado com setores de utilidades públicas (energia e água, por exemplo) e de consumo essencial, visto como mais resilientes.
Investidor arrojado pode priorizar qualidade dos ativos. De acordo com a analista da EQI, as preferidas nessa estratégia são empresas com boa estrutura de capital, geração de caixa consistente e expostas a mercados internos. Considerados mais cíclicos, fundos imobiliários (FIIs) e ações entram como apostas estratégicas, dentro do limite de risco da carteira. No entanto, mesmo investidor mais aberto a risco não deve ignorar a renda fixa.
Quais as dicas durante a instabilidade? E os riscos?
Evite decisões impulsivas. Momentos de volatilidade no curto prazo são naturais em períodos de estresse político, lembra Luiz, da Trópico Investimentos. A dica é fazer uma avaliação periódica da carteira, mas não desmontar estratégias de longo prazo. Outro ponto importante é fazer mudanças baseadas em objetivos, e não em ruídos de curto prazo, afirma a analista da EQI.
Caixa e ativos líquidos podem ajudar a aproveitar oportunidades. Isso porque em momentos de pânico é comum a desvalorização brusca, sobretudo no mercado de ações. É uma oportunidade de montar a carteira por preços mais atrativos. "Vale aproveitar a queda nos preços para investimentos de qualidade na hora de realocar o portfólio", diz o gestor da Trópico investimentos.
Investidores podem esperar alívio nas tensões para revisar a estratégia em momento oportuno. Borges lembra que investidores conservadores podem estar posicionados em ativos de risco, o que não é adequado, sobretudo nesse período de estresse.
Riscos vão de recessão global à inflação importada. Na visão dos especialistas, as tarifas podem desacelerar o comércio e afetar o crescimento das economias mundo afora. É que o dólar mais forte e as tarifas sobre produtos chineses, essenciais como matéria-prima, têm potencial para pressionar os preços.
Instabilidade geopolítica forçam mudança de postura de bancos centrais. Em um cenário mais tenso, as autoridades monetárias podem corrigir a rota e impactar a preficicação de ativos.