Causou barulho nas redes sociais a notícia de que montadoras chinesas já estão fabricando veículos literalmente no escuro, em espaços sem ou com muito pouca iluminação.
Chamadas de "dark factories" (fábricas escuras, em inglês), tais unidades sinalizam como será o futuro da produção de carros - se há algum tempo, funções repetitivas ou que exigem muita força já são cumpridas por robôs, as máquinas começam a assumir quase todo o processo produtivo, incluindo tarefas mais delicadas e complexas.
Tal nível de automação se destaca, principalmente, entre montadoras chinesas - dentre elas, a Zeekr, que vende carros elétricos no Brasil, importados do país asiático
Na fábrica da Zeekr em Hangzhou, na China, já existem linhas de montagem tão automatizadas que nelas mal há iluminação
Tal abordagem pode oferecer produtividade inigualável. Por outro lado, ainda há sutilezas com as quais só os humanos sabem lidar durante a manufatura de produtos variados, incluindo os automotivos.
Por que usam mais robôs
Um dos maiores benefícios das fábricas robotizadas é evidente: não há necessidade de pausas para descanso, tampouco de ambiente climatizado e iluminação adequada.
Por causa disso, explica a Zeekr, a economia de eletricidade ligada ao controle do ambiente em sua dark factory passa de 60%.
No caso dos robôs responsáveis pela pintura e pela aplicação de camadas protetoras contra corrosão, também há economia de tempo e dinheiro - com erro quase zero, o robô pintor praticamente não desperdiça tinta, explica a montadora.
No setor de soldagem, há um dos maiores robôs da unidade: uma prensa maior do que um casa, responsável por juntar diferentes partes das carrocerias. Esse processo reduz o tempo gasto com soldas, diminui o peso do veículo e aumenta a resistência estrutural.
Para tarefas que a prensa não resolve, existem 703 robôs "flexíveis", que cumprem a soldagem precisamente.
Os humanos também são dispensáveis nas etapas de colagem das borrachas de porta, instalação de para-brisa e colocação dos pneus.
Onde a presença humana ainda é essencial
Curiosamente, países como Singapura e Coreia do Sul tem fábricas, em média, ainda mais automatizadas do que as chinesas.
O Brasil fica um pouco abaixo da média global, mas com potencial de grande avanço, segundo a publicação Universal Robots.
Tanto aqui quanto na China, destaca o estudo, a redução na quantidade de acidentes de trabalho também é outro atrativo da automação.
As marcas japonesas por outro lado, ainda pretendem contar com a mão humana por muito tempo.
De acordo com Tom Shoupe, diretor de operações da Honda, há itens, como a suspensão, que têm espaços apertados. Em alguns casos, o operário precisa parafusar uma peça com a mão esquerda e outra com a mão direita, colocando a força correta em ambas.
É algo que a Zeekr tenta amenizar direto na fase do projeto, desenhando itens que evitem tais frestas. Com uso de conectividade 5G, inteligência artificial e afins, a marca diz ser capaz de, ainda no computador, checar se tudo se adapta às demandas robóticas na manufatura.
Mas, independentemente disso, há o que estudiosos chamam de feeling ou sutileza; para alguns, são habilidades inalcançáveis por robôs.
Não temos nada que substitua o toque e outros sentidos humanos, como visão, audição e olfato Tom Shoupe, executivo da Honda, em entrevista à Bloomberg.
Outra questão (mais ampla) é de que os robôs nos recebem salário, e economistas apontam para o risco econômico que isso pode causar com eventuais demissões em massa.
Em estudo recente, a consultoria McKinsey estima que, até 2030, cerca de 375 milhões de empregos podem ser afetados pelo avanço dos robôs nas fábricas em geral.