Oi,
Essa é mais uma edição do Guia Paulicéia, o compilado de coisas legais para ver/fazer em São Paulo enviado semanalmente para apoiadores da Tá Todo Mundo Tentando.
Nessa edição, a professora e pesquisadora Paula Jacob, cinéfila avançada e autora da ótima Arte em Cena por Paula Jacob, sugere onze espaços para ver bons filmes em São Paulo — nenhum em shopping center, claro. Todos os botões levam para as páginas de programação de cada sala, e as fotos são de divulgação, a não ser quando indicado em contrário.
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Com a palavra, Paula!
Existem alguns tipos de passeio que me deixam feliz: cafés, museus, livrarias e cinemas. Às vezes um combo de todos eles juntos, às vezes não dá tempo – então operamos com a realidade.
Se você não me conhece, sou Paula Jacob, prazer!, crítica, professora e pesquisadora de cinema e literatura.
Bom, deve imaginar a quantidade de coisas que vejo e leio ao longo do mês. Por conta da pandemia, tinha me acostumado até demais em receber os links antecipados das estreias para assistir em casa ou mesmo aguardar alguma coisa chegar no streaming antes mesmo de cogitar sair para ver. Hábito terrível que foi devidamente cortado (dentro do possível, lembra?) quando me comprometi com ir ao cinema pelo menos uma vez na semana. Digo isso porque, muitas vezes, cancelamos os programas depois de alguém desmarcar por imprevistos diversos ou aquela preguiça de última hora bater. Mas é tão legal se fazer companhia.
Então, quando a Gaía gentilmente me convidou para fazer uma lista de lugares que curto em São Paulo, primeiro pensei nas livrarias que tanto frequento. Mas a lista dela já é demasiado maravilhosa, então logo falei: cinemas!
Te conto a seguir as razões de serem um ponto de encontro tão importante — para mim e para a cidade.
Cinesala
Clássico dos clássicos na capital Paulista, ele já foi Cine Fiammetta (1962) e Sala Cinemateca (1989) até chegar no Cinesala (2014) que conhecemos hoje. Sobreviveu, resistiu, encontrou no novo grupo de sócios um respiro necessário para a sua consistência de curadoria e proposta para o bairro de Pinheiros. Com apenas uma sala de exibição e o charmoso Barouche de bomboniere, ele abraça diversos gêneros de filmes em uma escala de horários bastante democrática. Gosto também da experiência de andar na rua e de repente decidir entrar para assistir o que estiver passando naquele momento.
Reag Belas Artes
Outro grande cinema de rua de São Paulo é o Belas Artes, que desde 1956 opera como exibidor de filmes das mais variadas origens. Foi em 1980 que remodelaram o formato para oferecer seis salas de exibição, como conhecemos hoje, sempre priorizando um longo tempo de cartaz, além de mostras especiais, eventos tradicionais, como o famoso “Noitão”, e estreias disputadas. Facinho de chegar de metrô, o endereço também passou por diversas versões do nome por questões de patrocínio, quase foi fechado em diversas ocasiões, mas sobreviveu e segue firme com a sua curadoria.
Além disso, tem o Belas Artes à La Carte, serviço de streaming proprietário maravilhoso para entrar em contato com obras clássicas do cinema.
Cine Marquise
Histórico cinema do Conjunto Nacional, na Av. Paulista, foi aberto em 1963 e passou por nomes, reformas e até incêndio ao longo da sua existência. Foi Cine Rio, Cine Arte Um, Cinearte, Cine Bombril, Cine Livraria Cultura, Cinearte Petrobras e, enfim, desde 2021 é Cine Marquise. Possui três salas, pequena, média e grande, com sistema de som excelente. Como é um cinema entre o cult e o mainstream, tem uma diversidade maior de público e de filmes em cartaz. Indico tomar um café n’A Casa de Antonia, logo ao lado, antes ou depois da sessão – eu amo particularmente o cinnamon roll, mas qualquer bolo, docinho, pão que você pedir vai ser uma delícia!
CineSesc
Pertinho dali, descendo a Rua Augusta sentido bairro, você encontra o CineSesc. O que mais gosto na programação deste cinema são os especiais.
Já vi todos os filmes do Kubrick, Lynch, Wong Kar-Wai, Paul Thomas Anderson, entre outros grandes diretores, na charmosa sala com bomboniere interna. Adoro também o tanto que eles abraçam mostras específicas, de cinema russo, cinema sueco, cinema árabe, e festivais prestigiados, como o nosso “É Tudo Verdade”, de documentários, cuja edição 2025 começa nessa quinta e vai até 13/04.
Possui ainda uma plataforma digital própria, o Cinema em Casa, com um catálogo gratuito – um sonho!
Espaço Petrobrás de Cinema
Todo paulistano sabe quantas vezes esse cinema mudou de nome, ficou sem nome, mas o quanto a Rua Augusta, do outro lado da Av. Paulista, não pode existir sem ele.
Agora, com patrocínio da Petrobras, consegue estender seu tempo de vida com as cinco salas de exibição, cafezinho e livraria cheia de bons livros sobre arte, cinema e cultura. É sempre um ótimo lugar para descobrir novos diretores e pérolas que acabam sendo distribuídas em poucos endereços.
Anexo Augusta
Do outro lado da rua, o resistente Anexo Augusta, que quase foi demolido no ano passado (para a dor de qualquer cinéfilo!), é um recanto de boas histórias.
Recebe sessões especiais e também encontros como o Clube do Professor, estende a exibição de excelentes histórias que antes estavam no Espaço de Cinema, ou aproveita os nichos para passar por lá aquele-filme-que-ninguém-viu-só-você.
O Café Fellini, no coração da estrutura, é o ponto de encontro perfeito para um esquenta pré sessão, ou um acalorado debate pós.
Reserva Cultural
Fã de cinema francês que sou, não deixo de frequentar o Reserva por nada! Idealizado por Jean Thomas Bernardini, fundador da distribuidora Imovision, o local preza por exibir filmes independentes ou fora do circuito mainstream.
Claro que há espaço nas salas e na agenda para os filmes mais pop, mas não desliza em perder a essência da curadoria proprietária, que também está disponível em um ótimo streaming com mais de 500 filmes selecionados.
Tem um restaurante com ótimos pratos que fazem aceno para a gastronomia francesa e ainda um café com opções de doces, salgados e lanches para refeições mais rápidas. Por muito tempo, também foi aquele cinema que não vendia pipoca, mas agora é possível garantir o seu saquinho e entrar feliz na sessão.
Cine LT3
Cinema de rua, no bairro de Perdizes, possui uma sessão por horário e exibe filmes brasileiros com bastante frequência, dando preferência para produções brasileiras. É possível também realizar eventos privados (como qualquer outro desta lista!), mas aqui, por ser um cinema bem modesto, torna a experiência mais aconchegante e próxima. Ficará mais fácil de acessá-lo quando a obra de extensão do metrô finalizar – há uma estação prevista a poucos metros do local!
Cineclube Cortina
Próximo a diversas livrarias do Centro, restaurantes e bares excelentes, o Cortina é uma experiência diferente de todos os outros. A começar pela sala, que, no lugar de poltronas tradicionais, convida a audiência a sentar em espreguiçadeiras.
Exibe filmes do circuito comercial, mas é um ótimo local para conhecer novos projetos culturais e boas festinhas. No bar-restaurante proprietário no andar de cima, você encontra drinks autorais inspirados em séries e filmes (oi, Sex and the City!) e comidinhas boas para compartilhar.
No momento, o cinema, bar e restaurante estão fechados para reforma, mas o restante do espaço está aberto para shows e festas. Vale deixar no radar!
Cinemateca Brasileira
Saindo um pouco da rota de cinemas de rua, queria trazer também instituições culturais que têm um cuidado imenso com a preservação do cinema. Caso da nossa querida Cinemateca Brasileira, que já enfrentou diversos cortes financeiros, incêndios, perda de acervo e dificuldades diversas para se manter respirando.
Felizmente, nos últimos anos, isso vem mudando de cenário, inclusive com a conclusão do projeto Nitratos, que fez a digitalização da biblioteca física de filmes para evitar a perda de pérolas e, hoje, possui o maior acervo online de cinematografia brasileira. As mostras que acontecem lá são sempre especiais, com recortes muito específicos, o que coloca o público em contato com histórias, diretores e movimentos desconhecidos do grande público.
Museu da Imagem e do Som
Não é porque sou professora do MIS-SP, mas acho o museu parada obrigatória em qualquer visita a São Paulo. As exposições proprietárias, como a de Billy Wilder, ou as importadas e adaptadas – quem lembra de Bowie, Kubrick, Tim Burton? – formam o público interessado na sétima arte usando o lúdico como ferramenta de aproximação.
Na grade da programação ainda existem as exibições dos circuitos Cinema e Psicanálise, Cine Debate, Cine Kids, CineCiência e Cinematographo, que evidenciam a diversidade de públicos e olhares para as obras. O educativo também é focado em cursos técnicos e teóricos sobre os fazeres fílmicos (para quem busca algo mais prático) e o pensar diante do cinema.
Veja também: Narrativas Visuais no Cinema
Estão abertas inscrições para o curso Arte em Cena: Narrativas Visuais no Cinema, que a Paula Jacob ministra no Museu da Imagem e do Som.
Siga os links para saber mais e fazer inscrição: