Donald Trump conseguiu o que parecia impossível: unir esquerda e direita no Brasil. Os dois campos se aliaram no Senado nesta terça-feira para aprovar um projeto de lei que permite ao país retaliar comercialmente os Estados Unidos em resposta ao tarifaço do governo americano, prometido para hoje. Parte das tarifas já está em vigor desde 12 de março, quando foi anunciada taxa de 25% sobre a importação de aço e alumínio brasileiros. O projeto autoriza o Executivo a adotar medidas contra barreiras comerciais ou legais impostas a produtos brasileiros. Entre elas está a possibilidade de sobretaxar importações de países que retaliem o Brasil. A aprovação unânime na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e no Plenário foi justificada pelo senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, como uma defesa da soberania brasileira no comércio global. A iniciativa marca uma rara convergência entre o PT e o agronegócio. Relatora do “PL da Reciprocidade” na CAE, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) foi ministra da Agricultura no governo Bolsonaro e faz parte da Frente Parlamentar da Agropecuária. Randolfe confirmou o apoio e brincou com um senador de direita: “Não fique triste, é a nossa aliança com o agro”. (g1) A expectativa é de que o texto seja votado na Câmara ainda nesta semana em regime de urgência. Tereza Cristina afirmou que o projeto não é uma “arma” contra o governo Trump, mas sim uma ferramenta para auxiliar o Brasil nas negociações. “O Brasil não é um país que afronta e retalia, mas precisa ter ferramentas para poder barrar medidas que sejam nocivas”, disse. Caso o projeto seja aprovado, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) terá poderes para suspender concessões comerciais e de investimentos em resposta a países ou blocos econômicos. Também poderá adotar medidas de restrição às importações e suspender concessões, patentes ou remessas de royalties, além de aplicar taxações extras. Pelas regras de hoje, o Brasil não pode aplicar tarifas unilateralmente, o que dificulta uma reação ao tarifaço. (Globo) Mas a tramitação na Câmara pode não ser tão simples. Embora alguns de seus integrantes integrem a bancada ruralista, há o temor de que o PL possa obstruir a votação para pressionar o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), a pautar o projeto que anistia os envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro e pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Motta fez um discurso pregando união sem mencionar partido diretamente. “Este episódio deve nos ensinar definitivamente que nas horas mais importantes não existe Brasil de esquerda e Brasil de direita”, disse. Segundo ele, é hora de seus pares terem “desprendimento político, sem qualquer tipo de mesquinhez”. (Folha) “Dia da Libertação” é como Trump tem chamado a data de anúncio do tarifaço. Seu governo aproveitou a véspera do comunicado para divulgar um relatório anual no qual analisa as práticas comerciais de diversos países — inclusive o Brasil, mencionado em seis das 397 páginas do documento. Segundo a Estimativa Nacional de Comércio, “o Brasil impõe tarifas relativamente altas sobre importações em uma ampla gama de setores, incluindo automóveis, peças automotivas, tecnologia da informação e eletrônicos, produtos químicos, plásticos, máquinas industriais, aço e têxteis e vestuário”. Diz o texto: “Os exportadores dos EUA enfrentam incertezas significativas porque o governo brasileiro frequentemente modifica as taxas tarifárias. A falta de previsibilidade torna difícil prever os custos de fazer negócios no Brasil”. (BBC) Míriam Leitão: “Há anos os EUA têm superávit na relação comercial com o Brasil. Isso, no entanto, não está sensibilizando o governo Trump. O caso do etanol poderia ser o caminho para uma negociação, se o Brasil aceitasse tarifas maiores para o combustível brasileiro. Mas o fato é que colocar tarifas maiores para os bens americanos vai ferir o próprio Brasil, provocando mais inflação. Por exemplo, precisamos de peças de avião da Embraer. Eles vão colocar uma tarifa sobre o avião, só que as peças que a gente compra para o avião vêm dos Estados Unidos. A gente taxa as peças, e o avião fica ainda mais caro”. (Globo)
As mudanças na comunicação do governo não conseguiram, até o momento, conter a queda na popularidade do presidente Lula, segundo pesquisa (íntegra) da AtlasIntel. De acordo com o levantamento, a parcela dos entrevistados que desaprova a atuação do chefe do Executivo passou de 53% para 53,6%, enquanto os que aprovam caíram de 45,7% para 44,9%. As variações estão dentro da margem de erro de 1 ponto percentual. Já o governo como um todo é considerado ruim ou péssimo por 49,6% (contra 50,8% no levantamento anterior), bom ou ótimo por 37,4% (ante 37,6%) e regular por 12,5% (contra 11,3%). Lula é mais desaprovado que aprovado tanto por homens quanto por mulheres, embora em proporções diferentes – 57,8% a 40,7% entre eles e 50,1% a 48,6% no caso delas. Sua desaprovação entre os evangélicos chega a 84,8%, porém o presidente é aprovado entre os católicos (53,4% a 46,3%), os que praticam outras religiões (50,9% a 45%), os que não têm religião específica (50% a 47,8%) e, principalmente, entre ateus e agnósticos (78,2% a 21,6%). Entre as regiões do país, Lula só tem maioria de aprovação no Norte (58,2% a 41,5%) e no Nordeste (54,1% a 41,9%). (Meio)
Há relativamente pouco tempo era incomum uma pessoa no Brasil se declarar “de direita” de forma aberta e firme. Isso mudou ao longo dos últimos 15 anos e hoje não apenas a direita, mas extrema direita conquista corações e mentes. No Meio Político desta semana, exclusivo para assinantes premium, Ana Carolina Evangelista analisa como se deu essa conquista e o que tem mudado no apoio ao campo bolsonarista expresso nas recentes manifestações de rua. Assine agora e receba ainda hoje o Meio Político.
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