A partir do dia 15 de março, as florestas plantadas certificadas pela FSC - certificadora florestal internacional - terão um ano para se adaptar a novos padrões definidos pela empresa para as áreas produtivas no Brasil. Isso significa que 52% das florestas plantadas no país (5,37 milhões de hectares) deverão se adequar a mudanças, como implementação de medidas anticorrupção, políticas de equidade de gênero e consideração de riscos de desastres naturais no plano de manejo.
Áreas de eucalipto, pinus e espécies nativas certificadas pela FSC deverão demonstrar com mais clareza valores de conservação da biodiversidade e engajamento junto às comunidades e culturas onde as florestas estão plantadas. Isso vale, sobretudo, para grandes áreas industriais, mas também para a silvicultura de pequeno porte. Em entrevista exclusiva ao UOL, Elson Fernandes de Lima, diretor executivo do FSC Brasil, fala sobre estes novos padrões, diretamente relacionados à indústria de construção civil e moveleira.
UOL - Estamos falando de uma mudança que vai impactar mais de 50% das florestas plantadas no Brasil. Por que esta mudança de regras?
Elson Fernandes de Lima - Na norma da certificação FSC, existe um conjunto de princípios e critérios adotados globalmente. O empreendimento tem que mostrar conformidade com esse conjunto, mediante auditoria internacional independente, para obter a certificação FSC Brasil. No Brasil, a partir de 15 de março, inicia-se uma série de novas normas e exigências para os padrões florestais. Agora, o padrão exige que haja mecanismos anticorrupção, política de gênero e valores ambientais e engajamento cultural. Esse padrão é uma visão mais contemporânea das demandas da sociedade atual.
UOL - Estas demandas estão mais afinadas com a agenda climática?
Elson Fernandes de Lima - Sem dúvida. Para o cumprimento do Acordo de Paris, o Brasil tem se destacado como importante player no mercado de carbono com árvores plantadas nativas. A norma de plantações contribui para a recuperação de floresta tropical para o mercado de carbono. O FSC não tem objetivo de quantificar carbono, mas o selo FSC possibilita que esses projetos tenham maior visibilidade e estejam aptos a receber o pagamento por serviços ecossistêmicos, incluindo, quem sabe, créditos de biodiversidade.
UOL - Como os novos padrões FSC se relacionam com a biodiversidade?
Elson Fernandes de Lima - Se o empreendimento tem uma área de manejo florestal com valor significativo de biodiversidade, é importante que ele mapeie e tenha mecanismos de proteção dessa biodiversidade. Se uma determinada empresa identifica que, na base florestal, ela abriga uma espécie ameaçada de extinção, ela deve proteger, detectar a área que a população utiliza e manter ações específicas para promover a conservação dessa espécie. Ao longo do tempo, ele precisa comprovar a preservação da biodiversidade para manter a certificação.
UOL - Para quem não cumprir o prazo, há alguma penalização?
Elson Fernandes de Lima - O empreendimento tem até um ano para ser auditado pelo padrão novo. Neste período, tanto o padrão novo quanto o antigo estarão sobrepostos. Se não cumprir o prazo, fica suspenso e tem um tempo de adequação. Esse prazo de um ano, portanto, é exatamente para conduzir essa transição. O risco prático de suspensão, eu acredito, é baixo de acontecer.