19 outubro, 2024

Intercept Brasil

Soneto do Orfeu
São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
...
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Uma mulher que é feita de música,
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.

 

O nome proibido da eleição em SP

Perguntei a Ricardo Nunes sobre sua relação com Osvaldo Maciel. Foi o bastante para ele anunciar me processar criminalmente.

Osvaldo Cavalcante Maciel. Se você é jornalista ou morador de São Paulo, onde o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, caminha para a reeleição, te faço um alerta: jamais pergunte sobre Osvaldo Cavalcante Maciel para a equipe do candidato.


Eu fiz isso ontem – e vou te explicar agora o perigo.


Para começar: Maciel é um dos empresários presos e condenados por uma das maiores fraudes da história do sistema bancário brasileiro, um caso que foi capa dos jornais em 1995. Ele integrou uma quadrilha que desviou R$ 1,6 bilhão do Banco do Brasil, em valores atualizados.

O caso teve ampla cobertura da imprensa. Uma das reportagens menciona a relação de Maciel com políticos da capital e da grande São Paulo.

Há cerca de dois meses, a excelente série Endereços, do site De Olho nos Ruralistas, revelou uma suposta ligação entre Maciel e Ricardo Nunes. Uma das reportagens, intitulada "Como o prefeito de SP ficou subitamente milionário, em 1994”, ouviu um ex-vizinho de Nunes que afirmou que o prefeito era empregado de Maciel.


Procurei uma a uma as sabatinas e entrevistas de Nunes – com especial atenção para os relatos sobre seu passado empresarial. Afinal, nunca tinha ouvido falar sobre essa experiência profissional. E não encontrei nenhuma menção a isso.


É claro que resolvi apurar. Fiz um mergulho nos processos judiciais e administrativos que tratavam da fraude do BB e tentei contato com cada um dos envolvidos. Cheguei a falar com um ex-servidor do BB condenado pelo caso, mas demorei a conseguir contato com Maciel.


Até que, há duas semanas, consegui falar ao telefone com Julianno Maciel. Hoje empresário na zona sul de São Paulo, ele é filho de Osvaldo. Ele me disse que mostrou a reportagem do De Olho nos Ruralistas ao pai – e que, apesar de condenado, Maciel seria inocente.


Antes de desligar, perguntei a ele: “O Ricardo Nunes era funcionário do seu pai? O que ele fazia pro Maciel?”. E ouvi a seguinte resposta: “De fato, o Ricardo Nunes foi funcionário do meu pai. Foi funcionário. Eu confirmo. A função dele na companhia eu não sei”.


Aqui, pela integridade da informação, é importante fazer as seguintes ponderações: i) Nunes nunca foi investigado ou relacionado a qualquer tipo de crime associado à fraude no Banco do Brasil; ii) não existem acusações ou provas de que ele teria se envolvido ou beneficiado financeiramente do crime.


Fiz as seguintes perguntas à assessoria de imprensa de Nunes: “Por quantos anos o prefeito trabalhou com Maciel? Qual função? Entre 1994 e 1996, o prefeito foi remunerado com parte do patrimônio de Maciel?”, questionei, com base nas alegações da reportagem.


Como resultado, há poucas horas, recebi uma das respostas mais violentas em anos cobrindo temas como extremismo, corrupção e crime organizado. O texto foi assinado pelo advogado criminalista Daniel Bialski – e anuncia “imediatamente” um processo judicial contra os supostos caluniadores.


“O site Intercept Brasil procurou a campanha de Ricardo Nunes, com acusações graves, caluniosas e totalmente infundadas que tentam vincular o prefeito a um escândalo de fraude bancária ocorrido em meados da década de 1990”, começa o texto.


Você pode ler a resposta na íntegra aqui, mas acho importante saberem que o comunicado atacou o De Olho nos Ruralistas por uma suposta ligação com uma familiar de Guilherme Boulos, do PSOL (o site, que já havia sido alvo de intimidação semelhante, afirma que mantém todas as informações publicadas, obtidas, em sua maior parte, em documentos públicos, e não foi acionado judicialmente até o momento). Para nós, o comunicado de Nunes anunciou, antes mesmo de publicarmos qualquer coisa, que está ingressando com um processo criminal.


“[A defesa] adianta, inclusive, que vai ingressar, imediatamente, na Justiça, e adotará as medidas criminais contra os autores, asseclas e participes das acusações falsas, caluniosas e inescrupulosas que procuram de forma criminosa envolver Nunes em algo que não tem qualquer relação com a sua história ou com seus atos”, diz a nota.


O comunicado assinado por Bialski também insinua que as reportagens sobre o tema têm “mandantes”: “Buscaremos a condenação por esses crimes também dos aloprados que atuam como mandantes dessa tentativa desesperada de tumultuar e manchar a reputação e a dignidade do prefeito – uma farsa que fere a democracia e desrespeita os eleitores”.


Segundo o advogado, "Ricardo Nunes jamais recebeu nenhum centavo do senhor Oswaldo Cavalcante Maciel; jamais se beneficiou de qualquer parte do patrimônio dele". No entanto, o questionamento objetivo sobre o tempo em que Nunes trabalhou para Maciel continuou aberto.


Não houve resposta objetiva à pergunta: Ricardo Nunes de fato trabalhou para Maciel? Essa história ainda estava em apuração. E mandar perguntas é passo básico nesse processo. Diante da dúvida que persistiu, discutimos internamente e avaliamos que a não-resposta do candidato – e a ameaça de processo diante de um questionamento simples – nos obrigou a trazer essa informação ao conhecimento dos leitores. Afinal, Ricardo Nunes é o líder na corrida eleitoral para a prefeitura da maior cidade da América Latina.


Da minha parte, admito que temos um mandante: você, leitor, que tem o direito inegociável de saber de cada detalhe da história dos seus governantes. Nada mais. Este é o papel do jornalismo. Não podemos nos curvar às ameaças de ninguém.

Publiquei ontem essa entrevista com Isaac Faria, um ex-líder comunitário do PT que aderiu à campanha de Ricardo Nunes.


Ele não teve vergonha de falar dos agrados do centrão: grava vídeos com drone em obras públicas na região, tem um podcast de R$ 20 mil por mês apoiado por aliados do presidente da Câmara, Milton Leite – mas argumenta que a comunidade melhorou.


Essa entrevista deu o que falar nas redes sociais e levantou muitas discussões nos comentários sobre os motivos que fazem um jovem largar a esquerda.


Se eu fosse você, não ficaria por fora. 👇

👩🏻‍🍼 A mãe do Nunes!


Como estamos falando de informações desconhecidas sobre Ricardo Nunes, acho que vale trazer essa curiosidade aqui: a mãe dele, Maria do Céu, ex-presidente da Câmara Municipal de Embu-Guaçu, foi candidata a vereadora neste ano pelo MDB.


Apesar de ter feito campanha nas redes sociais, fez só 6 votos e foi uma das menos votadas da cidade.

⛈️ A mãe do Nunes, parte 2


Isso aqui passou batido pela imprensa, mas eu achei curioso.


Pelo que dá para entender por esse story que publicou na conta oficial de sua campanha no Instagram, a dona Maria do Céu foi uma das pessoas impactadas pelo apagão: “A Enel está trabalhando, cadê a Sublapa?”, questionou, fazendo referência ao órgão ligado à gestão do filho.

🍼 O tio do Nikolas


Foi falha minha não ter trazido na edição da semana passada esse outro resultado aqui: o tio do Nikolas, Enéas Fernandes, do PL, fracassou em sua tentativa de virar prefeito de Nova Serrana, em Minas Gerais.


Mesmo com apoio do atual prefeito e do sobrinho, com vídeos e até emenda parlamentar, como revelei em reportagem aqui no Intercept, ele perdeu o pleito por lá.

🪂 O tio do Nikolas, parte 2


Faltando poucos dias para a eleição, Enéas publicou um vídeo com Jair e Michelle Bolsonaro. A carta na manga deveria surtir efeito, afinal Nova Serrana deu quase 70% dos votos para Bolsonaro no primeiro turno de 2022.


Mas ele fez menos de 40% dos votos e alguns comentários do post dizem muito: “Quem é Enéas?” e “Esse aí caiu de paraquedas na cidade”.

Eu sei que você já conhece o Ustrinha, vai ser a terceira vez que eu falo dele aqui. É o tenente-coronel do Exército que foi eleito vereador de Porto Alegre pelo PL, com o nome de urna Coronel Ustra – ainda que não seja coronel e que Ustra não seja seu último sobrenome.

Pois bem: ele ganhou moral com a vitória na eleição e agora tem circulado ao lado do prefeito Sebastião Melo, do MDB, na reta final da campanha. Sim, Melo e sua vice ao lado do homem que, meses atrás, sugeriu que Alexandre de Moraes deveria ser torturado.


Não foi só isso. Ustrinha também está com as portas abertas na sede da prefeitura de Porto Alegre: nesta semana, apareceu em reunião de trabalho com o secretário municipal de Administração, André Barbosa. “Um encontro muito produtivo”, escreveu o vereador eleito.


Por um momento, pensei se a eleição na capital gaúcha está tão decidida que o prefeito Sebastião Melo já nem se preocupa com quem sai na foto. Mas a verdade é que, hoje em dia, idolatrar torturadores dá muito voto.

Prefeito eleito na terça-feira


São João de Meriti teve um prefeito eleito na terça-feira seguinte à eleição. Isso porque o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro anulou os votos do candidato Professor Joziel, do partido Democracia Cristã, e mudou o resultado da eleição – ou, pelo menos, acelerou.


O motivo? Um erro na chapa. O registro de Felipe Juventude, que era candidato a vice-prefeito, foi indeferido, e ele não conseguiu regularizar a situação dentro do prazo legal. Resultado: os poucos votos de Joziel (ele fez apenas 1,1%) foram anulados. Mas isso teve um grande impacto.


Com a saída de Joziel, Léo Vieira, do Republicanos, que havia sido o mais votado, com 49%, e estava se preparando para disputar o segundo turno, conquistou a vitória no primeiro turno, por ter superado a marca de 50% dos votos válidos.


Valdecy da Saúde, que tinha 33,01% dos votos e seria o adversário de Léo Vieira no segundo turno, já tinha até começado a campanha – apesar das baixas chances de reverter o resultado. Foi assim que a eleição municipal de São João Meriti acabou numa terça-feira.