O duplo risco de ser jornalista na América Latina | DANIELA DIAZ | |
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Num clássico programa de rádio que os moradores de Bogotá ouvem há anos pela manhã, a apresentadora principal, uma aclamada jornalista, analisa as manchetes deste jornal: Ser jornalista nas Américas: uma luta por justiça, em meio à grandes desafios , leia. Depois, paradoxalmente, menciona a autora – a mesma que escreve esta coluna – a quem se refere como “a rapariga”, palavra que utiliza constantemente quando entrevista jovens mulheres. Esta profissão está repleta deste tipo de experiências, que fazem parte de uma grande rede de violência sexista que as mulheres jornalistas na América Latina enfrentam diariamente. Segundo um relatório do Relator Especial para a Liberdade de Expressão, a violência contra as mulheres nas redações do continente é permanente e diversificada, à qual se somam os ataques diários baseados no género. Lembremos que países como o México ou o Brasil têm os maiores números de feminicídios.
Numa tentativa de transformar essas experiências a partir de dentro, vários jornalistas que participam num programa de jornalismo com enfoque no género na DW Akademie reuniram-se há algumas semanas na Cidade do México. Lá elas não apenas discutiram suas reportagens, mas houve um espaço especial para falar sobre ser mulher e repórter em contextos muito adversos. A Americanas reúne três dessas histórias de coragem e amor à profissão, que demonstram a necessidade de continuar insistindo em um jornalismo mais justo para todos. |
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Contra a violência das drogas no México | |
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Enquanto a maioria das mulheres se manifesta em grandes comícios no Dia da Mulher, 8 de Março , os repórteres de Chilpancingo, no estado mexicano de Guerrero, não o fazem. Eles, em consenso coletivo, decidiram que o dia de sair para marchar e comemorar seria o dia 9 de março, pois preferiram ser o dia anterior à cobertura da luta dos outros. Assim, em organização e unidade, os repórteres daquela cidade encontraram uma forma eficaz de resistir à violência sexista em meio a uma já grave onda de criminalidade que sua região vive.
Entre elas está Alina Navarrete (a mulher que aparece na imagem que abre esta newsletter), que é repórter há dez anos. Para Navarrete, o machismo e a violência dos últimos anos têm sido um desafio. Em 2020, ela enfrentou assédio e ameaças legais por parte de acadêmicos de uma prestigiosa universidade de Guerrero, que foram acusados de assédio e tomaram medidas contra Alina após uma reportagem relatando o caso. Quando a maré pareceu baixar, Guerrero mergulhou no caos. Em Chilpancingo, o crime organizado assassinou o prefeito.
Esse acontecimento tornou tudo mais difícil para seus colegas. Para eles, ainda mais. Alina deve superar o ódio dos políticos que uma vez a difamaram por tornarem visíveis as queixas das vítimas de assédio. Quando a cidade onde mora fica paralisada e ela tem que se deslocar sozinha no transporte público em meio às manifestações, a ansiedade aparece. “Inevitável: como mulheres, enfrentamos uma violência muito acentuada. Agora, sendo imprensa, enfrentamos todos os ataques: bloqueios de informação, ameaças, difamações”, sustenta. Ele decidiu se proteger com um símbolo católico que sempre carrega consigo. |
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Contra a violência estatal em Cuba | |
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Uma mulher amamenta em uma delegacia enquanto aguarda um interrogatório policial. Eles a veem e ficam emocionados. Eles a deixaram ir. Ana (nome fictício para proteger sua identidade) sempre se refere a essa cena para falar sobre o que significa ser jornalista em Cuba. A jornalista prefere não mencionar seu nome verdadeiro nem tirar fotos dela. Ele tem medo da perseguição que viu sofrer muitos de seus colegas. Ele ressalta que, embora a repressão seja para todos, piora para as mulheres devido à carga de cuidados.
Mais ainda se envolver questões relacionadas à violência de gênero. De repórteres a ativistas, eles foram criminalizados em Cuba por tornarem o problema visível. Em 2019, o país tentou legislar uma lei para prevenir e mitigar a violência sexista. Muitos assinaram a petição, outros ficaram com medo. O projeto nunca foi aprovado e os principais promotores foram questionados pela segurança do Estado. “O código penal mantém a pena de morte, mas se recusou a classificar o feminicídio”, explica.
Num país onde expressar-se pode custar-lhe pena de prisão, a mãe dele confiou-lhe para ficar longe de problemas. Ana tenta ouvi-lo, mas não consegue ficar indiferente às injustiças e destaca o caso de Brenda Díaz, uma mulher trans que está presa em uma prisão masculina. Quem cobre este tipo de temas e quem os protagoniza teve que aprender a conviver com a angústia da perseguição ou a possibilidade do exílio. “Esse é um livro que estou tentando evitar”, observa ele. |
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Contra o racismo no Chile | |
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| | Martina Paillacar Mutizábal, jornalista Mapuche./ DANIELA DIAZ |
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Martina Paillacar Mutizábal fala pouco e quando o faz não perde a seriedade. Antes de falar espanhol, apresenta-se em Mapudungún, língua do povo Mapuche. Ela é jornalista no território ancestral Wallmapu e trabalha no Mapuexpress , um coletivo comunitário de informação que surgiu em 2020. Seu povo enfrentou historicamente a desapropriação e a violência colonial. Muitos encontraram no jornalismo uma forma de revitalizar a sua visão de mundo, a sua cultura e, sobretudo, de se apropriarem das narrativas sobre o seu povo.
Desde o último surto social, os ataques e o racismo pioraram para os Mapuche. E para as mulheres a situação piora. Lembre-se do caso de uma colega, Carol Gallardo, fotojornalista Mapuche que foi despida enquanto fazia seu trabalho em Valdivia, no sul do Chile, no contexto de vários protestos. Como se não bastasse a repressão militar e policial que sofrem, também lidam com a sub-representação, inclusive nos mesmos grupos de comunicadores Mapuche. A soma de tudo isso às vezes resulta na exclusão dos próprios repórteres desses espaços. Outras, como Martina, resistem em meio à precariedade, apesar de afirmarem ter sido expostas a diversas situações de violência.
Para o repórter, esta repressão e isolamento têm impacto direto na liberdade de expressão, de imprensa e na democratização dos meios de comunicação. Portanto, para manter viva a história de seus colegas, Martina dedicou seu tempo a documentar os jornalistas Mapuche que abriram seu caminho. “Aqui continuamos lutando, resistindo e buscando a transformação social, porque apesar de tudo temos um firme compromisso com os direitos humanos e uma profunda reflexão sobre ser indígena”, finaliza. |
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Nossas recomendações da semana | |
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Pelo “histórico de ataques que sofreu”: Boric perdoa Katty Hurtado, condenada no Chile pelo assassinato de seu ex-companheiro. A mulher estava presa há mais de sete anos. Organizações feministas promoveram a sua libertação, argumentando que ela agiu em sua defesa e que a sua vida “foi marcada por situações de violência sexista”. Uma adolescente deficiente foi estuprada e forçada a dar à luz: sua mãe é acusada de negligência e o estuprador está em liberdade. A história de Luz, de 14 anos, que está hospitalizada na República Dominicana após ter complicações na gravidez, é “uma enorme cadeia de negligências e falhas do Estado”, segundo seu advogado. Quatro anos à procura de Francisca Mariner e o corpo esteve sempre na morgue. A mãe da adolescente, assassinada em 2020 pelo ex-companheiro, a procurou por Cancún durante quase cinco anos diante da incompetência das autoridades, que tiveram o corpo perdido em Semefo. O Irã detém um jornalista italiano em Teerã. A repórter do jornal 'Il Foglio' Cecilia Sala foi detida em 19 de dezembro e está presa desde então. Tabata Amaral, política: “A minha ligação com os jovens não é por causa de Harvard, é porque sei o que é trabalhar.” Dizem que ela é muito técnica, chata até, mas o Brasil a conhece simplesmente pelo primeiro nome. Essa familiaridade reflete a confiança numa deputada que não despreza a política e expressa o que aprendeu de origem humilde. Blake Lively processa diretor e co-estrela de 'Breaking the Circle' por assédio sexual A atriz afirma que Justin Baldoni, responsável por um dos filmes de maior sucesso de 2024, armou uma campanha difamatória contra ela em plena promoção. O difícil fim de um relacionamento com um narcisista. São pessoas que querem controlar tudo, carecem de empatia, só pensam em si e apontam os outros como insuficientes. Eles podem criar relacionamentos de dependência.
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