19 junho, 2019

A Voz do Dono e o Dono da Voz - Chico Buarque de Hollanda

Francisco Buarque de Hollanda  (Rio de Janeiro19 de junho de 1944), é um músicodramaturgoescritor ator brasileiro.




Álbum Almanaque - 1981.

Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de acetato - de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz, a voz resulta um prato
Que gira para todos nós
O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes
Deus deu ao dono as nozes
Às vozes Deus só deu seu dó
Porém a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes
Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria se prensar, queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz
Foi revelada na assembléia - atéia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel, trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz
E o dono foi perdendo a linha - que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém

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Não Mexe Comigo - Maria Bethânia


Maria Bethânia Viana Telles Velloso (Santo Amaro18 de junho de 1946)





Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só

Eu tenho Zumbi, Besouro, o chefe dos tupis
Sou Tupinambá, tenho os erês, caboclo boiadeiro
Mãos de cura, morubichabas, cocares
Zarabatanas, curares, flechas e altares

A velocidade da luz, o escuro da mata escura
O breu, o silêncio, a espera
Eu tenho Jesus, Maria e José
Todos os pajés em minha companhia
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, eu não ando só

Não misturo, não me dobro
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo
Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que cobre meu corpo
Garante meu sangue, minha garganta
O veneno do mal não acha passagem
E em meu coração, Maria acende sua luz e me aponta o caminho

Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã
Giro o mundo, viro, reviro
Tô no recôncavo, tô em fez
Voo entre as estrelas, brinco de ser uma
Traço o cruzeiro do sul com a tocha da fogueira de João menino
Rezo com as três Marias, vou além
Me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas
Durmo na forja de Ogum, mergulho no calor da lava dos vulcões
Corpo vivo de Xangô

Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva

Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva

Medo não me alcança
No deserto me acho, faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampo
Meus pés recebem bálsamos, unguentos suaves das mãos de Maria
Irmã de Marta e Lázaro, no oásis de Bethânia
Pensou que eu ando só? Atente ao tempo!
Não começa, nem termina, é nunca, é sempre
É tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibra
Fulmina o injusto, deixa nua a justiça

Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão
E pra onde você for, não leva o meu nome não
E pra onde você for, não leva o meu nome não

Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão
E pra onde você for, não leva o meu nome não
E pra onde você for, não leva o meu nome não

Onde vai, valente?
Você secou, seus olhos insones secaram
Não veem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira
Seus ouvidos se fecharam  a qualquer som, 
Nem o bem, nem o mal pensam em ti, ninguém te escolhe

Você pisa na terra, mas não a sente, apenas pisa
Apenas vaga sobre o planeta, e já nem ouve as teclas do teu piano
Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona, não tem alma
Você é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo

O que é teu já tá guardado
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar

O que é teu já tá guardado
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar

Eu posso engolir você, só pra cuspir depois
Minha fome é matéria que você não alcança
Desde o leite do peito de minha mãe
Até o sem fim dos versos, versos, versos
Que brotam do poeta em toda poesia
Sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi

Quando choro, Se choro, e minha lágrima cai
É pra regar o capim que alimenta a vida
Chorando eu refaço as nascentes que você secou
Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio
Vivo de cara pra o vento na chuva, e quero me molhar
O terço de Fátima e o cordão de Gandhi cruzam o meu peito
Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!

Não mexe comigo, que eu não ando só



Eu não ando só, que eu não ando só

Carta de amor
(Paulo César Pinheiro / Maria Bethânia)

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Liz e Lennon



Liz e Lennon

por Zé Rosa


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Pesquisadores criam tecnologia que anima retratos

Pesquisadores do Samsung AI Center de Moscou desenvolveram uma tecnologia que anima retratos realistas, que pode funcionar em alguns instantes com uma única fotografia estática.
Os resultados são incrivelmente precisos, e transformam qualquer imagem em uma animação. Alguns exemplos usados pelos pesquisadores estão em imagens de Marylin Monroe, Salvador Dali e o quadro Monalisa, por exemplo.





O que torna essa tecnologia tão impressionante é que ela não simplesmente recorta um rosto e cria uma animação baseada em um catálogo de expressões. Em vez disso, o Few-Shot Adversarial Learning usa recursos faciais comuns em humanos para manipular o novo rosto. Basicamente, a tecnologia aprende a aparência da pessoa e usa o que sabe sobre as expressões humanas e combina as duas.
Mais impressionante ainda, é que ela é capaz de gerar uma cabeça falante em um novo ângulo de visão.
Claro que nesses casos não fica tão perfeito a reprodução do rosto em si, mas é uma questão de tempo até que isso seja aperfeiçoado. Quando isso ocorrer, a gente vai começar a se perguntar o que é real ou não.
Isso nos faz pensar que esta tecnologia pode ser interessante, mas ao mesmo tempo medonha.

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