De repente, não mais que de repente, Iowa entra no mapa na véspera da eleição. E mais: Julia Roberts, Trump sombrio e Kamala sorridente.
Era sábado já quase meia-noite quando recebi a notificação no meu e-mail: "Uma pesquisa chocante em Iowa." Parei tudo e corri abrir a mensagem. Basicamente ela me dizia que Ann Selzer, uma pesquisadora de um baita renome, reconhecida por contrariar todo mundo com suas pesquisas e invariavelmente estar certa, está dizendo que Kamala Harris lidera a corrida em Iowa por 3 pontos.
Se você já é leitor assíduo da nossa cartinha matinal, sabe que nunca mencionamos Iowa antes nesta corrida eleitoral porque Iowa simplesmente não importava na fila do pão.
Iowa é considerado um estado vermelho, ou seja, que vota nos candidatos republicanos. Ninguém tinha dúvida disso. Trump ganhou duas vezes lá e com muita vantagem. Em 2020, foram quase dez pontos a mais do que Biden.
O resultado da pesquisa é um choque total porque ninguém esperava. Todo mundo só fala dos tais sete estados que decidem a eleição (e que fazem parte de uma listinha de estados conhecidos como campos de batalha, listinha esta da qual Iowa não faz parte nesta eleição).
Para você ter uma ideia do babado. Em junho, Selzer dizia que Donald Trump liderava por 18 pontos (àquela altura, o candidato democrata ainda era o Biden). Em setembro, Kamala estava apenas 4 pontos atrás de Trump. E agora está na frente.
Nate Silver, um importante analista de pesquisas (e que é a pessoa que assina a newsletter que piscou na minha tela no sábado), diz que é uma tremenda coragem de Ann Selzer divulgar esse resultado porque dentro das estatísticas a chance dela estar errada é simplesmente altíssima. Ou seja, se ela estiver certa será coroada como a rainha ever das pesquisas.
Mas o que os analistas estão dizendo sobre a pesquisa de Selzer?
É que talvez ela tenha capturado também um movimento pró-Kamala que esteja se espalhando em outros estados do Centro-Oeste americano. Iowa fica ao lado de Michigan e Wisconsin (estes estão na listinha dos estados campos de batalha que decidem a eleição).
Sem contar que em uma eleição apertada, se Kamala de repente contar seis votinhos no colégio eleitoral que ela não esperava, as chances dela crescem.
Detalhe: Ann Selzer só faz pesquisa em Iowa.