Certamente o encarecimento do produto impacta o orçamento dos lares. No acumulado do ano, até meados de setembro, o café subiu 21,5% nas gôndolas dos supermercados, segundo o IPCA-15, prévia quinzenal do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Secas severas, estoques reduzidos em países concorrentes e dificuldades logísticas no comércio internacional são os principais fatores que levam aos preços atuais. Além disso, a desvalorização do real torna a exportação mais rentável, e a indústria nacional precisa oferecer preços competitivos ao produtor.
A onda é favorável aos cafeicultores, que têm sido mais bem pagos. Mas há ponderações a fazer nessa equação complexa.
Por quanto tempo a bonança permanecerá? Como o clima estará na safra 2025? Até onde torrefadores e varejo conseguem assumir os preços sem repassar ainda mais aos clientes? Como ficará o preço dos insumos importados? Qual é o limite de preço que o consumidor final vai suportar pagar? Ninguém consegue cravar as respostas neste dilema que é a indústria a céu aberto.
Daí, então, o agricultor prefere olhar a xícara meio cheia (desculpem o trocadinho inevitável) e ver o momento como propício à disseminação dos cafés especiais. Para o consumidor disposto a pagar R$ 23 por meio quilo do café extraforte torrado e moído, agora pode ser a hora de desbravar cafés de torra clara e média, com grãos de qualidade superior, a um preço que parte dos R$ 28 nos grandes centros.
Cleunice Maria Gomes, produtora da Fazenda Sequóia, diz que, no momento, a alta do café especial não tem acompanhado as altas do café commodity. Se, por um lado, o preço pago pelo especial não tem sido tão vantajoso ao produtor no mercado interno, por outro, para o consumidor que pode financeiramente, escolher cafés melhores não está tão distante da realidade do café "comum".
A Fazenda Sequóia existe desde 1975 e é uma empresa da São Miguel Holding, que detém 50% do Grupo 3Corações. Porém, mesmo quem atua recentemente no mercado vê o momento como oportunidade de despertar o paladar mais refinado dos cafés.
Luciano Beite, diretor da pequena torrefação Vibe Coffee, de Vila Velha (ES), está há dois anos no mercado. Ele compra grãos com pontuação elevada, em lotes pequenos, e está assumindo as margens elevadas entre cafeicultor e o B2B/B2C com a estratégia de educar o paladar dos clientes e fidelizar um novo consumidor de café premium.
João Paulo Dias da Fonseca é presidente do Conselho de Administração da cooperativa de crédito Cresol Minas Gerais. Ele reconhece que o momento é positivo ao produtor rural, por isso, o conselho é investir no plantio de novos pés de café, infraestrutura de irrigação e maquinário.
As exportações estão aumentando, inclusive para China e sudeste asiático, e isso pode impactar no volume internamente, além das intempéries climáticas. Ter mais café é bom para produtores e consumidores.
Joao Paulo Dias da Fonseca, presidente do conselho da Cresol Minas Gerais
Caio Alonso, diretor da Espresso&CO e um dos realizadores da Semana Internacional do Café, conta que o evento espera movimentar aproximadamente R$ 60 milhões em negócios, além de reforçar para baristas e mercado externo a eficiência da cadeia produtiva do café.
A organização da feira levou para Belo Horizonte uma comitiva de 18 países com forte potencial de compra, como China, Coreia do Sul, Alemanha, França, Inglaterra e Emirados Árabes. Também há um reconhecimento do tamanho da feira para os vizinhos da América do Sul.
Diante disso, para você, apreciador de café, é bom aproveitar enquanto o café especial está relativamente com o preço equiparado ao grão tradicional... antes que o comprador internacional pague melhor e leve tudo.