28 outubro, 2024

The Intercept

 


O que você espera do jornalismo? Honestidade, compromisso com o interesse público e com os fatos?


Concordo que é isso que DEVERÍAMOS ter, mas ontem a Folha de S.Paulo nos lembrou que a mídia corporativa tem outros objetivos.


Você provavelmente sabe a que estou me referindo. Com as urnas do segundo turno abertas e as pesquisas mais recentes mostrando Guilherme Boulos diminuindo a vantagem de Ricardo Nunes na campanha para prefeito de São Paulo, os poderes econômicos entrincheirados resolveram agir.


Assim, o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas fez a jogada mais cínica de toda a eleição, à luz do dia: ele alegou, sem nenhuma prova, que o PCC havia enviado a ordem para votar em Boulos.


Em vez de a Folha, o jornal mais influente da cidade, pedir provas sobre a grave acusação, repetiu a declaração mentirosa sem comentários.

Imagem: Instagram, Folha de S.Paulo 27/10/2024

Se Tarcísio será condenado pelos tribunais eleitorais é duvidoso, mas está claro que o que ele fez é inadmissível e que suas intenções, endossadas pela Folha, eram nefastas.


Após sete anos da era Bolsonaro e de todo o lenga-lenga da grande mídia sobre a sujeira do tal governo, ninguém na imprensa pode alegar que não sabe como lidar com uma situação como essa ou com o impacto que a repetição acrítica de tais alegações pode ter.


Isso se chama “jornalismo declaratório” e é a maneira mais fácil para os jornalistas conseguirem cliques e também servirem como propagandistas com um pingo de disfarce de “apenas fazendo meu trabalho”.


Tarcísio queria influenciar ilegitimamente a eleição e a Folha decidiu ajudá-lo. É simples assim. Esse não é o trabalho do jornalismo, mas é o papel que a grande mídia vem desempenhando na sociedade.


Seja durante o golpe de 1964, as tentativas de impedir sucessivas presidências do PT, a Lava Jato, o “golpeachment” de Dilma, a ascensão de Bolsonaro ou a vitória de Nunes ontem. O plano não muda.


Não se engane, não há diferença entre o laudo falso de Pablo Marçal, a palhaçada do Padre Kelmon, o powerpoint de Deltan, o Gabinete de Ódio de Bolsonaro e o que Tarcísio e a Folha fizeram ontem. Só que alguns exemplos são criticados na grande mídia e outros são perpetuados por ela, dependendo dos interesses de quem atendem.


Inclusive, Folha e Marçal têm algo em comum: ambos publicaram documentos falsos. Em 2009, o jornal publicou uma falsa ficha criminal relatando a participação da então ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no planejamento ou na execução de ações armadas contra a ditadura militar (1964-85).


Vejo muitas pessoas desesperadas ontem e hoje. Elas acham que os obstáculos são grandes demais e que nunca mais teremos um governo minimamente progressista que realmente se preocupe com as pessoas comuns. O dinheiro é poderoso demais. Entendo o ponto de vista dessas pessoas, mas discordo respeitosamente.


O grande capital está com medo. É por isso que eles recorrem a esses truques sujos e é por isso que gastam bilhões de reais todos os anos em propaganda e campanhas de influência. Eles sabem que somos mais numerosos e que, se acordarmos e nos unirmos, eles vão perder.


Mas se quisermos ter alguma chance de ter uma sociedade que não promova exploração, racismo e genocídio, precisamos primeiro perceber quem está ou não ao lado do povo e apoiar movimentos e instituições que estão determinados a lutar em nosso nome.


Nestes tempos de ameaças e instabilidade cada vez mais graves, a cordialidade não será suficiente: precisamos ser corajosos.


E, a cada ano que passa, devemos também exigir mudanças cada vez mais radicais se quisermos evitar o pior do desastre climático e a crise democrática e sociopolítica que inevitavelmente resultará dele.


Não podemos nos organizar sem boas informações e não podemos depender de uma imprensa que se opõe aos nossos valores e interesses. Há muito a ser feito e não vai ser fácil, mas há algo que podemos começar hoje: apoiar a mídia independente sem rabo preso.


No Intercept Brasil, temos provado consistentemente que estamos dispostos a enfrentar os mais poderosos da sociedade e que não temos medo de reportar histórias que fariam com que repórteres fossem demitidos em outros veículos. Se não as reportássemos, você nunca saberia. É por isso que precisamos ter um jornalismo independente, mas ele só pode existir se pessoas como você se juntarem a nós e nos apoiarem todos os meses.


Qualquer quantia é extremamente importante, pois, ao contrário da Folha de S.Paulo, não temos uma empresa de operações financeiras, publicidade governamental, patrocinadores empresariais ou proprietários bilionários para nos sustentar. Dependemos de pequenas doações de nossos leitores.


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Abraço,


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