A extração dos recursos naturais triplicou nas últimas cinco décadas e pode aumentar 60% até 2060, aponta relatório do PNUMA
Desigualdades fundamentais estão no centro do uso global de recursos naturais. | Foto: Sebastian Pichler | Unsplash
A extração dos recursos naturais triplicou nas últimas cinco décadas, em decorrência da significativa expansão de infraestrutura em muitas partes do mundo e dos altos níveis de consumo de materiais, especialmente em países de renda média-alta e alta. A extração de material deve aumentar 60% até 2060 e pode atrapalhar os esforços para alcançar não apenas as metas globais de clima, biodiversidade e poluição, mas também a prosperidade econômica e o bem-estar humano, de acordo com um relatório publicado pelo Painel Internacional de Recursos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O Panorama Global de Recursos 2024 (Global Resource Outlook 2024), desenvolvido pelo Painel Internacional de Recursos com autores de todo o mundo e lançado durante a sexta sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, pede mudanças políticas abrangentes para que a humanidade viva dentro de suas possibilidades e reduza em um terço o crescimento projetado para o uso de recursos, ao mesmo tempo em que expande a economia, melhora o bem-estar e minimiza os impactos ambientais.
O relatório conclui que, desde 1970, o uso de recursos cresceu de 30 para 106 bilhões de toneladas – ou de 23 para 39 quilos de materiais usados em média por pessoa por dia –, acarretando impactos ambientais dramáticos. No geral, a extração e o processamento de recursos são responsáveis por mais de 60% das emissões de aquecimento do planeta e por 40% dos impactos da poluição do ar relacionados à saúde.
A região entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecida como MATOPIBA, é considerada a vitrine do agronegócio brasileiro. Mas esse modelo vem acelerando o desmatamento no Cerrado. Foto: Fernanda Ligabue | Greenpeace
A extração e o processamento de biomassa (por exemplo, culturas agrícolas e silvicultura) são responsáveis por 90% da perda de biodiversidade relacionada à terra e estresse hídrico, bem como um terço das emissões de gases de efeito estufa. Da mesma forma, a extração e o processamento de combustíveis fósseis, metais e minerais não metálicos (por exemplo, areia, cascalho, argila) são responsáveis por 35% das emissões globais.
“A tripla crise planetária das mudanças climáticas, da perda da natureza e da poluição é impulsionada por uma crise de consumo e produção insustentáveis. Devemos trabalhar com a natureza, em vez de apenas explorá-la”, disse Inger Andersen, diretora-exectiva do PNUMA. “Reduzir a intensidade de recursos dos sistemas de mobilidade, habitação, alimentação e energia é a única maneira de alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e, em última análise, um planeta justo e habitável para todos.”
No centro do uso global de recursos estão desigualdades fundamentais: países de baixa renda consomem seis vezes menos materiais e geram 10 vezes menos impactos climáticos do que aqueles que vivem em países de alta renda. Os países de renda média alta mais do que dobraram o uso de recursos nos últimos 50 anos devido ao seu próprio crescimento em infraestrutura e à realocação de processos intensivos em recursos de países de alta renda. Ao mesmo tempo, a utilização de recursos per capita e os impactos ambientais conexos nos países de baixo rendimento têm permanecido relativamente baixos e quase inalterados desde 1995.
Onde os níveis de consumo são muito altos, um maior foco na redução dos níveis de consumo de recursos e materiais para complementar a ação sobre a produção e a eficiência de recursos pode reduzir cerca de 30% do uso global de recursos em comparação com as tendências históricas, ao mesmo tempo em que desenvolve a economia global, melhora vidas e permanece dentro dos limites planetários.