O setor de proteína animal encerrou 2024 com resultados satisfatórios, sobretudo com a alta do dólar. As exportações de carne de frango cresceram 3%, e a receita com embarques aumentou 1,3%, se aproximando de US$ 10 bilhões. Já as exportações de carne suína cresceram 10%, registrando recorde no ano passado. A receita aumentou 7,6% e, pela primeira vez, superou US$ 3 bilhões.
Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), conversou com o UOL sobre as projeções para os próximos meses, frente a um cenário internacional de aumento da gripe aviária - doença que ameaça granjas e rebanhos em diversos países concorrentes.
UOL - O que esperar para o próximo semestre, com o patamar de dólar acima dos R$ 6 e uma safra de milho que contribui para o custo acessível da ração?
O que enxergo de maneira bem clara é um bom primeiro semestre. Nós vemos na repetição desses elementos a conjunção do segundo semestre de 2024, que foi bem positivo e deve se repetir. Custo de grãos estável de julho para cá, safra de milho muito boa com uma saca que deve ficar perto dos R$ 70 e equilíbrio entre oferta e demanda. Além disso, temos as mesmas condições de alojamento, matrizes, capacidade produtiva, então vemos um primeiro semestre de bons resultados.
UOL - Outro fator que pode contribuir para isso é um possível aumento das exportações, devido à questão da gripe aviária em outros países? O senhor também preside o Conselho Internacional de Avicultura. Como enxerga este cenário?
É claro que não queremos ver nenhum país sofrendo com a influenza aviária, que continua atacando severamente muitas produções industriais. Recentemente, foi registrada a primeira morte de humano causada pela doença, além de casos de rebanho leiteiro nos Estados Unidos. Isso diminui o ímpeto dos concorrentes, principalmente Estados Unidos e Europa. Aqui no Brasil, nós não temos esse problema em granjas comerciais, reforçamos nossos protocolos de biossegurança e é por isso que nossas exportações seguem fortes.
UOL - Para 2025, a ABPA mira abertura de novos mercados? Houve um esforço grande do Ministério da Agricultura e Pecuária no ano passado neste sentido. Existe algum país específico para conquistar?
Veja que a exportação brasileira de carne suína tinha a China com maior importador do Brasil nos últimos cinco anos. A China reduziu em 38% as importações de carne suína, mesmo assim o Brasil conseguiu crescer nas suas exportações em 10%. Isso significa que o Brasil construiu uma capilaridade. O maior importador de carne suína do Brasil hoje são as Filipinas, que em 2023 importava 113 toneladas e esse ano importou 250 toneladas. A China caiu 38%, mas cresceu Chile, Japão, Singapura, Uruguai, México e vai continuar crescendo. Não é só abrir mercado que produz mudanças, mas ser um país reconhecido como livre de gripe aviária amplia as possibilidades de produtos exportados. Claro que temos expectativas, como abrir o mercado da Indonésia para suínos, temos uma missão para Nigéria e Senegal e países menores da América Central, que eram atendidos pelos Estados Unidos e agora passam a buscar o Brasil como alternativa.