A nova pesquisa Quaest a quatro dias da eleição, confirma o favoritismo de Ricardo Nunes (MDB) e o desafio hercúleo de Guilherme Boulos (PSOL) para virar votos até domingo. Nunes aparece com 44% das intenções de votos contra 35% de Boulos. Ao que tudo indica, Ricardo Nunes será reeleito prefeito no próximo dia 27. Uma corrida eleitoral sui generis, que quase premiou um outsider (Pablo Marçal), inspirador de amor e ódio no primeiro turno. Passaram pelo crivo Paulistano para uma segunda análise o político de carreira de um dos partidos mais tradicionais da nova República, Ricardo Nunes, e o nome da esquerda, Guilherme Boulos, ungido pelo nome mais forte da esquerda no Brasil, o presidente Lula.
A política tradicional já guarda o mérito de ter colocado o extremismo de Marçal para correr - por uma diferença de 81.865 votos entre Nunes e o ex-coach - no primeiro turno. Se não houver surpresas até o dia 27, Nunes pode frustrar também as expectativas do lulismo de ver sua jornada heroica sendo coroada outra vez nas municipais. A primeira vez foi em 2002, eleito após quatro campanhas derrotadas para presidente. Depois, reeleito em 2006, e outra vez em 2022, após a humilhante prisão em 2018.
Nunes iniciou a corrida eleitoral como um ilustre desconhecido de muitos dos eleitores que votarão nele. Sobreviveu ao desdém do ex-presidente Jair Bolsonaro - "não é meu candidato dos sonhos", chegou a dizer -, à pressão do B.O. contra ele, lavrado pela esposa, Regina Carnovale, e ao apagão da Enel em plena campanha. Teve a ajuda decisiva do governador, Tarcísio Nunes (Republicanos), que segurou sua mão desde o início e tomou as rédeas no segundo turno. Colocará o MDB no Olimpo, onde hoje reina o PSD, de Gilberto Kassab, ao levar a Prefeitura de São Paulo, joia da coroa no tabuleiro político.
A eventual derrota de Boulos, por outro lado, pode ser mais uma fatura da conta negativa da esquerda nesta eleição municipal. Com menos prefeituras que o PSDB - também afetado pela derrota de José Luiz Datena - Boulos acabou comprando algumas ideias que mostraram falta de identidade na reta final. Ora emulava Pablo Marçal com um tom acima do que mostrou no primeiro turno, ora repetia fórmulas que já foram bem-sucedidas duas décadas atrás, como a Carta ao Povo de São Paulo, que copiou o modelo da "Carta ao Povo Brasileiro", marco da política brasileira quando Lula assinou compromissos para quebrar o medo que havia dele no mercado financeiro.
O Brasil não é o mesmo de Lula 2003, e nem mesmo o mercado se autointitula assim. Estamos na era da Faria Lima, e de um país onde o medo é maior do que a expectativa de mudança com a esquerda. Barbas de molho e vida que segue.