Há cerca de dois anos, o ChatGPT veio mudar a relação das pessoas com a Inteligência Artificial. Foi um daqueles momentos mágicos que, tenho a certeza, um dia mais tarde será recordado como um ponto de viragem no mundo da tecnologia, tal como os lançamentos do IBM PC (1981), da World Wide Web (1991), do Google (1998) ou do iPhone (2007). Mas e se, na realidade, a Inteligência Artificial estiver na calha para nos dar muitos destes momentos? Esta semana, de forma discreta, pode muito bem ter acontecido um deles. O ChatGPT é incrível. É o mais próximo de uma superinteligência que já tivemos. Mas é muito limitado para aquilo que é esperado de uma superinteligência. Se pedir ao ChatGPT para reservar uma viagem, não consegue. Se pedir para adicionar um evento ao meu calendário, não consegue. Se pedir para atualizar um documento com a minha lista de despesas, não consegue. A comunidade da Inteligência Artificial sabe, há já muito tempo, que o caminho terá de ser mais ambicioso. E é por isso que ouvimos falar cada vez mais nos Grandes Modelos de Ação (Large Action Models, ou LAM), que são sistemas de IA capazes de executar ações complexas. Nos EUA, por exemplo, a Motorola já está a integrar os LAM nos smartphones – peça ao assistente uma boleia para casa e ele sozinho escolhe a aplicação de transporte, define o ponto de partida e de chegada, apresentando o trajeto e o preço final ao utilizador à espera do ‘ok’ final. A Anthropic, uma das mais proeminentes empresas de IA do momento, anunciou esta semana que o assistente Claude já consegue fazer isto, mas em esteroides. O vídeo é impressionante. Se tiver uns minutos, veja-o. Veja-o, porque este sim vai ser o futuro da IA. Pedirmos a um assistente para executar uma tarefa altamente complexa, de uma forma altamente personalizada (com base nos nossos ficheiros, dados ou gostos pessoais), e termos um ChatGPT, um Gemini, um Claude ou um Zé Gato (bem que podia ser o nome de uma IA portuguesa) a fazer algo que nos demoraria horas ou dias, mas em poucos minutos. Mustafa Suleyman, um dos cofundadores da DeepMind e atualmente o líder de Inteligência Artificial da Microsoft, já tinha partilhado que, para ele, o teste Turing no tempo destes assistentes inteligentes é outro: resumidamente, fazer com que um assistente digital, sozinho, consiga criar uma empresa e faturar um milhão de dólares. Sim, é para aí que caminhamos. Por isso agarre-se – e, já agora, tenha alguma paciência, pois pelo meio ainda vamos ter que levar com muitos anúncios inúteis relacionados com a IA. Faz parte da caminhada. Mas o destino final vai valer muito a pena. Boas leituras! |