27 outubro, 2024

Intercept Brasil

 

José Leite Lopes (Recife28 de outubro de 1918 — Rio de Janeiro12 de junho de 2006) foi um físico brasileiro, especializado em teoria quântica de campos e física de partículas. Foi o responsável pela primeira predição do bóson Z, cujos resultados serviram de base para o desenvolvimento da unificação eletrofraca, que deu o Nobel de Física de 1979 a Steven WeinbergSheldon Glashow e Abdus Salam.

Cientista de renome internacional, Leite Lopes combateu a ditadura e articulou a criação de instituições de pesquisa. Foi o grande articulador político da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), instituto que criou juntamente com César Lattes em 1949. Além disso, participou de articulações para fundar outras instituições importantes, como a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Foi presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF) de 1967 a 1971


Sábado, 26 de outubro de 2024

Quem deu as armas para o massacre de Novo Hamburgo?

Ele matou a família e dois policiais. Mas a bancada da bala fez silêncio.

O policial militar Éverton Kirsch Júnior, de 31 anos, saiu para trabalhar na terça-feira, 22 de outubro, para não voltar nunca mais.


O soldado da Brigada Militar – como é chamada a PM no Rio Grande do Sul –  foi chamado para atender uma ocorrência à noite. Um casal de idosos no bairro de Ouro Branco, em Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre, pediu ajuda da polícia: o filho deles, Edson Fernando Crippa, de 45 anos, mantinha os dois reféns.


A descrição da cena, feita por vizinhos, é aterrorizante: Edson Crippa, caminhoneiro, participava de uma reunião familiar – na sexta-feira, seria aniversário de sua mãe. Na casa, além dos pais, também estava o irmão de Edson, Everton, e sua cunhada. Após uma discussão, a polícia foi chamada.


Edson Crippa começou a atirar. Foram cerca de 300 disparos de pistolas calibre 9mm e .380. Crippa atirou em todo mundo ao redor: pais, irmão, cunhada, policiais. O pai e o irmão morreram ali mesmo. A mãe e a cunhada ficaram feridas.


Crippa também atingiu nove pessoas – sete delas, policiais. Éverton Kirsch Júnior morreu no local. Ele deixou sua esposa e um filho de 45 dias, que nunca teve a chance de criar memórias com o pai.


Crippa respondia a todas as tentativas de negociação da polícia com tiros. Atirando, também derrubou dois drones que tentaram se aproximar. Depois de horas de confronto, acabou morto pela polícia. Dentro de sua casa, ainda havia 300 munições intactas.


Edson Crippa era um CAC: tinha, desde 2020, registro como Caçador, Atirador e Colecionador. Em casa, tinha quatro armas em seu nome, todas absolutamente legais.


A depender da categoria, um CAC pode ter entre quatro a 16 armas e comprar entre quatro e 20 mil munições. Isso, vale lembrar, depois da mudança no governo Lula, que restringiu a liberação de Bolsonaro – antes, CACs podiam ter até 60 armas, dependendo da categoria, comprar até 180 mil munições por ano, inclusive armas de uso restrito, como a 9mm usada por Crippa.


Esse tipo de arma era de uso restrito, foi liberado para a população civil e voltou a ser restrito em 2023.


Para conseguir o porte de arma, a legislação brasileira exige que o cidadão passe por uma avaliação psicológica, com laudo de aptidão mental. Edson Crippa tinha histórico de esquizofrenia – ele chegou a ser internado quatro vezes –, mas isso não o impediu de ter o registro de CAC.


Também havia contra ele um boletim de ocorrência por ameaça, o que deveria ser outro impedimento. O MPF está investigando por que o homem conseguiu a licença mesmo com esse histórico.


A avaliação de saúde mental ocorre no momento de registro ou renovação da licença, ou seja, a cada dois anos. Houve tentativa de aumentar este prazo para 10 anos, mas o Conselho Federal de Psicologia se empenhou contra isso – e entendemos por quê.


É preciso dizer claramente: o massacre de Novo Hamburgo foi causado pela flexibilização nas regras para porte de armas, que não foi acompanhada de um sistema decente de fiscalização.


Em 2022, eram 783 mil registros ativos de CACs no Brasil – um crescimento de 665% desde 2018, impulsionado pelos decretos de Michel Temer e Jair Bolsonaro que afrouxaram as regras.


Além do Exército já ter demonstrado que não fiscaliza adequadamente esse setor – você pode ter uma ideia do problema nesta e nesta reportagem que já publicamos –, o massacre de Novo Hamburgo também evidencia que não há controle sobre quem são efetivamente as pessoas que têm registros de CACs.

O resultado? Aumento no número de crimes cometidos por essas pessoas. Como exemplo, vou deixar esse levantamento feito no Distrito Federal: de 2019 a 2024, o registro de crimes cometidos por CACs aumentou 1.000%.


A maioria dos crimes eram violências enquadradas pela lei Maria da Penha – ou seja, crimes cometidos contra mulheres, familiares, dentro de casa. Nós cantamos essa bola.


Prestem atenção no que disse uma das vítimas no DF: “Ele [atirador] era completamente descontrolado emocionalmente, descontrolado psicologicamente. E nessa autorização ele pedia a posse da arma para defender a família dele. Mas, com essa mesma arma, ele acabou com toda a família".


Edson Crippa matou sua família e dois policiais. Feriu outros vários. Onde estão os defensores da flexibilização de porte de armas depois dessa tragédia? Fomos checar em seus perfis no X.


Dos três mais estridentes da bancada da bala, só o deputado Sanderson manifestou "luto" pela morte do policial militar Éverton Kirsch Júnior – sem mencionar que o atirador era um CAC. Seus colegas de PL, Paulo Bilynskyj, de São Paulo, e Alberto Fraga, do DF – o relator do projeto que facilitou a posse de armas –, nem mesmo lamentaram a morte do colega de farda.

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