Se você der uma rápida olhada ao seu redor neste momento, não importa onde esteja, vai encontrar no mínimo uns dez objetos essenciais para a sua vida - de panelas a canetas, passando pelo chuveiro, aspirador de pó, computador e até a cadeira em que está sentado. Tudo está ali graças a uma atividade polêmica entre ambientalistas: a mineração.
"As pessoas brigam com a mineração, mas nem imaginam quantos minerais têm no seu inseparável celular. A mineração é essencial para este mundo que está aqui e não vai desaparecer. Ela precisa, isso sim, ser cada vez melhor e mais responsável. Este é o debate", pontua Malu Paiva, vice-presidente executiva de Sustentabilidade da Vale.
Na entrevista a seguir, a executiva conta um pouco dos projetos ESG desta gigante, que é hoje a maior produtora de minério de ferro e níquel do mundo, e de como a tragédia de Brumadinho veio para abrir os olhos da companhia.
***
Ecoa: A mineração é uma atividade economicamente essencial, porém é polêmica do ponto de vista ambiental. Você concorda?
Malu Paiva: As pessoas que brigam com a mineração são as mesmas que são incapazes de viver sem um celular. Você sabe quantos minerais estão presentes no celular? Dezenas. Os minérios são essenciais para o cotidiano de todos nós. Estão em tudo: nas panelas em que cozinhamos, nos fogões, geladeiras, equipamentos aéreos, até nos esportes, nas barras de futebol. Em tudo. Então, um primeiro ponto é que precisamos nos aproximar da sociedade. E o principal debate não é por que existimos e sim como existimos. Devemos fazer uma mineração melhor e não acabar com ela.
Ecoa: Isso é possível?
Malu Paiva: Sem dúvida. Nós somos os primeiros interessados na preservação porque dependemos da natureza. Não temos opção: vamos explorar onde estão os minérios. E precisamos que a área seja preservada, é interesse do nosso negócio. É por isso que investimos tanto em preservação: somos hoje responsáveis pela conservação de 800 mil hectares dentro da Amazônia, em Carajás - isso dá cinco cidades do tamanho de Londres. Usamos menos de 3% do território para produzir 60% do minério de ferro da melhor qualidade que a Vale tem. Então, a conclusão é clara: ao trabalhar de maneira responsável, você preserva o ambiente, gera desenvolvimento, e extrai o melhor produto.
Ecoa: O que mudou para a Vale desde o desastre de Brumadinho?
Malu Paiva: Acredito que Brumadinho tenha sido um grande ponto de inflexão na vida da Vale. Com certeza esta empresa não é mais a mesma. Eu chamo a atenção para duas grandes transformações: a primeira é todo o trabalho voltado à segurança, que é prioridade absoluta, tudo foi redesenhado a partir daí. E teve o outro lado cultural: Brumadinho disparou uma grande mudança de cultura na empresa, de como atuar a partir daqui. Todos os dias trabalhamos para não ter mais Brumadinhos e entendemos que construir junto será melhor para todos.