28 fevereiro, 2025

Revista Zum

 

VESTÍGIOS DO TEMPO por Ishiuchi Miyako, Daniel Salum & Lucas Gibson

Desde os seus primeiros trabalhos nos anos 1970, a fotógrafa japonesa Ishiuchi Miyako se destaca por uma notável capacidade de reinvenção e experimentação, sempre em torno de temas como memória, corpo e a inevitável passagem do tempo.
 
Em conversa com os pesquisadores brasileiros Daniel Salum e Lucas Gibson, a artista fala sobre sua carreira e o seu olhar único para os vestígios que fizeram parte da vida de pessoas íntimas, famosas ou mesmo desconhecidas.
 
“Sua abordagem caracteriza-se por transformar objetos cotidianos e vestígios do passado em poderosos testemunhos visuais, elevando-os a agentes que comunicam tanto a resiliência quanto a fragilidade da condição humana.”

ESCULTURAS TEMPORÁRIAS por Luiza Sigulem & Paula Sacchetta
 
Um pouco antes da pandemia de covid-19, a fotógrafa paulistana Luiza Sigulem sofreu um acidente. Desde então, ela precisa do auxílio de uma cadeira de rodas para se locomover. Após um longo período de recuperação, Luiza foi buscar na fotografia uma forma de lhe ajudar a entender como acessar a cidade (e sua própria cidadania) a partir da sua nova perspectiva.
 
Em ensaio, a cineasta Paula Sacchetta conta a história da fotógrafa e do projeto Jeito de corpo, vencedor do prêmio Marc Ferrez em 2024. “Se o corpo num retrato cai num clichê, ela propunha fugir do tradicional a partir do limite de 1,40m, altura na qual ela fica quando está sentada. Soluções novas para se enquadrar tinham que partir dos próprios fotografados que passaram a dobrar suas colunas e abandonar o ‘normal’ da postura ereta.”

IMAGINÁRIOS QUE CATIVAM por Ronaldo Entler
 
No final do ano passado, a exposição Oficina do suor, do fotógrafo Sérgio Carvalho, que registrou imigrantes de países andinos submetidos a condições de trabalho análogos à escravidão, foi encerrada logo na sua abertura em São Paulo, após protestos do coletivo de artistas andinas Cholitas da Babilônia.
 
Partindo deste embate, o colunista Ronaldo Entler reflete sobre a crise que a fotografia documental enfrenta nos dias de hoje: “Não se trata do grau de fidelidade que a imagem pode manter com a realidade, mas da capacidade que um projeto tem de gerir a relação que estabelece com outras narrativas, as que se tornaram hegemônicas e as que foram ofuscadas.” [Foto: Sérgio Carvalho]

CABELO É MEMÓRIA por Meneson Conceição & André Santos-Bispo
 
Para o fotógrafo soteropolitano Meneson Conceição, a câmera fotográfica é um instrumento de reimaginação, fabulação e construção de narrativas visuais sobre afrografias negras.

Em conversa com o arte-educador André Santos-Bispo, Conceição destaca que sua série Corte de potência não apenas investiga, “em fotografias guardadas em álbuns de seus familiares, os contextos comportamentais decorrentes de imposições estéticos racistas sobre os corpos e subjetividades de pessoas negras, como também busca resgatar as afrografias de si e de outros homens negros”.

ARQUIVO ZUM

Na ZUM #22 - A constelação de corpos dissidentes da artista Fernanda Liberti inspirou uma carta da escritora carioca Stephanie Borges na matéria Como quem consulta um oráculo. "A questão não é apenas a possibilidade de nós, pessoas fora do padrão, nos vermos retratadas nas artes, na cultura pop, na literatura, mas de nos vermos a partir de perspectivas que não nos objetificam, que não naturalizam nosso sofrimento nem repetem narrativas coloniais".
colunista Moacir dos Anjos comenta trabalhos de Paulo Nazareth, do Coletivo 3Nós3Jaime Lauriano, Regina José Galindo, Clara Ianni e Jota Mombaça que criam equivalências sensíveis com o ato de sufocamento de vítimas de crimes de racismo. “E não é certamente por acaso que a maioria dos vitimados por asfixia, no passado ou agora, seja racializada, posto que é o racismo o que define, em contextos os mais distintos, quem tem ou quem não tem sua humanidade preservada.” [Imagem: Paulo Nazareth]

Em entrevista, o fotógrafo argentino Facundo de Zuviría comenta as particularidades históricas e estéticas da fotografia moderna argentina. “Essa modernidade se manifestou através de diferentes autores e estilos, em imagens que vão das primeiras abstrações e jogos óticos às fotomontagens e obras experimentais dos anos 1950 e que se baseavam em temas como a cidade, a forma, o retrato e um tipo próprio de surrealismo.” [Foto: Grete Stern]
RECOMENDAÇÕES 

David Lynch, falecido recentemente aos 78 anos, influenciou profundamente a fotografia e a arte com sua mistura única de surrealismo e um olhar sobre o cotidiano norte-americano. Em depoimentos ao site da revista Aperture, fotógrafos como Alec Soth, Gregory Crewdson e Todd Hido, entre outros, comentam a importância do cinema de Lynch e como ele inspirou suas próprias explorações de temas mais sombrios da vida americana. (Foto: Gregory Creedson) [Revista Aperture]

Em artigo, o crítico e fotógrafo Jörg Colberg avalia como as mídias sociais, particularmente o Instagram, estão deixando de ter valor para os fotógrafos. Esse declínio apresenta uma oportunidade de criar novas comunidades mais significativas para compartilhar fotografias. Colberg acredita que os fotógrafos devem construir espaços inclusivos que apoiem vozes diversas e promovam conexões genuínas. [Site CPh Magazine]
 

O fotógrafo indiano Sohrab Hura explora temas complexos por meio de sua arte, capturando as lutas e a beleza da vida ao longo do litoral da Índia. Seu trabalho inclui vídeos e fotografias que refletem experiências pessoais, particularmente a batalha de sua mãe contra a esquizofrenia. A abordagem inovadora de Hura mistura imagens estáticas e em movimento, convidando os espectadores a questionar a natureza da verdade na fotografia. [Site da The New York Review of Books]

Um novo documentário chamado The Stringer desafia a autoria da famosa foto Napalm Girl, alegando que ela foi tirada por um fotógrafo vietnamita, Nguyen Thành Nghe, e não por Nick Ut. O filme argumenta que a Associated Press creditou Ut indevidamente devido a vários preconceitos, incluindo racismo. A AP contesta essas alegações e sustenta que Ut é o fotógrafo legítimo da imagem icônica. (Foto: Gregorio Borgia/AP) [Jornal The Guardian]

INSCRIÇÕES ABERTAS

Chamada BALAM 11: Radical – até 4 de março
10×10 Photobooks Research Grants – até 10 de março
The Aftermath Project – até 14 de março
Center for Photographic Art Grants – até 18 de abril
National Geographic Society: Freshwater Storytelling – até 22 de abril