18 janeiro, 2025

Ponte Jornalismo

 

Uma PM que defende quem tem dinheiro e condena à morte quem não tem

Retornei de recesso/férias essa semana e já deparo com uma série de [maus] feitos da PM de São Paulo. Deveria estar surpresa? Não, mas achei, por um ínfimo instante de otimismo, que o governo Tarcísio iria colocar um cabresto na corporação depois da atenção midiática negativa recebida com o episódio do jovem atirado de uma ponte, sobretudo. 


Ah, ledo engano! Em pouco mais de 15 dias de 2025, já tivemos: adolescente morta pela corporação cujo velório teve “ronda” da PM que a baleouoperação em Paraisópolis depois da morte de um PM, gerando temores de uma vingança contra os moradores, manifestantes e jornalista detidos em protesto lembrando Reginaldo Júnior, o artista de rua África Menor, morto pela PM em Sorocaba; operação de guerra da PM e da GCM da capital paulista para acompanhao ato contra aumento da passagem em SP. Para falar só no que a Ponte conseguiu apurar desde seu retorno do recesso, dia 06/1. 


A operação que prendeu policiais responsáveis pela morte de delator do PCC também revelou que havia vazamento de informações internas de membros da PM e da Rota para a facção, policiais trabalhando como seguranças privados do PCC – e isso é só o começo das investigações que têm sido tocadas pela própria estrutura da segurança pública do Estado, e não por um órgão independente da sociedade civil ou da justiça. 


Fica mais e mais claro que a estrutura admite um tratamento quase maternal para o crime organizado e outro à base da bala para o pobre, o preto, o periférico. Uma estrutura criada para defender quem tem poder econômico e condenar à morte quem não tem. Vale lembrar que a polícia tem como gênese no Brasil a caça aos escravizados em fuga e a repressão a rebeliões de cativos e aos quilombos. 


Sem incorrer em exagero: a PM de São Paulo continua fora de controle, enquanto as lideranças se voltam para as eleições de 2026 – e, de certa forma, dentro do pragmatismo político, é agradável que as coisas estejam como estejam para aqueles que estão chefiando o Estado. A situação se prolonga com a conivência da Justiça, do MP, da parte da imprensa e da própria sociedade – afinal, tudo bem se quem estiver morrendo morar na periferia, sempre tida como “ninho de bandido”. 


Mesmo diante de uma maioria conivente, confortável e silenciosa, a Ponte segue, ano após ano, o seu compromisso de denunciar as violações dos direitos humanos das populações vulnerabilizadas e marginalizadas pelo Estado. Nosso jornalismo é feito por menos de 10 pessoas, sendo só 3 exclusivamente dedicadas a isso, mas, ao longo dessa década, conseguimos impactos importantes como, por exemplo, tirar mais de 100 pessoas inocentes da prisão de forma direta ou indireta. Não temos grandes investimentos, mas seguimos firmes na nossa missão de usar o jornalismo na defesa dos direitos humanos, sobretudo o direito à vida para quem hoje é alvo do Estado. 


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DESTAQUES

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PONTE DE ONTEM

Em janeiro de 2022, noticiamos o caso de Alysson Barbosa de Araújo, de 19 anos, preso depois de ser reconhecido pela cor da camisa. A acusação era de roubo de celular e a testemunha o reconheceu em meio a uma multidão que acompanhava as festas tradicionais de réveillon. Ele e o amigo Saulo Gabriel de França, de 18 anos, foram surpreendidos pelos policiais enquanto procuravam banheiro em um estacionamento ainda perto da praia, quase em frente a um posto policial. De acordo com o boletim de ocorrência, Alysson teria sido reconhecido ainda no calçadão, contrariando o artigo 226 do Código de Processo Penal. Nenhuma das vítimas da denúncia inicial permaneceu na delegacia para reconhecer o rapaz.

POR AÍ

MEC cria programa de apoio psicossocial para escolas que sofrem violência extrema (Notícia Preta, 17/1)


Força-tarefa da polícia de SP prende suspeito de envolvimento na morte de delator do PCC (Folha de S. Paulo, 17/1)


Justiça nega maioria dos pedidos por maconha medicinal gratuita no Brasil (Agência Pública, 16/1)


Professor: Prisão revela crise na PM de SP e Tarcísio como refém de Derrite (UOL, 16/1)


Moraes determina que Nunes dê explicações em 24 horas sobre muro construído na cracolândia (Folha de S. Paulo, 16/1)


Tarcísio nega demissão de secretário de segurança após pressão de familiares de mortos pela PM (Alma Preta, 14/1)


53% dos brasileiros apoiam linha dura de Tarcísio para polícia de SP (Poder 360, 14/1)


Mães de crianças menores de 12 anos poderão cumprir prisão domiciliar (Brasil de Fato, 10/1)


Conspirador da ditadura viveu 20 anos escondido da Justiça para escapar da prisão (The Intercept Brasil, 7/1) 

VAI LÁ

A Netflix fará o festival ‘Sintonia – O Último Baile‘ no dia 01 de fevereiro, em São Paulo. Quem quiser participar, deverá retirar os ingressos gratuitos neste sábado (18/1) em São Paulo. O evento acontece no Memorial da América Latina, com a participação do elenco da série Sintonia e shows de grandes nomes da cena do funk, rap e trap, como MC Hariel, Tasha & Tracie, MC IG e Duquesa, entre os confirmados. Para obter os ingressos, vá até um dos pontos físicos listados. As retiradas serão feitas até o horário limite de cada data ou até esgotarem os ingressos – que são limitados à lotação do espaço do evento. Cada pessoa poderá retirar até duas entradas por CPF.