Retornei de recesso/férias essa semana e já deparo com uma série de [maus] feitos da PM de São Paulo. Deveria estar surpresa? Não, mas achei, por um ínfimo instante de otimismo, que o governo Tarcísio iria colocar um cabresto na corporação depois da atenção midiática negativa recebida com o episódio do jovem atirado de uma ponte, sobretudo.
Ah, ledo engano! Em pouco mais de 15 dias de 2025, já tivemos: adolescente morta pela corporação cujo velório teve “ronda” da PM que a baleou; operação em Paraisópolis depois da morte de um PM, gerando temores de uma vingança contra os moradores, manifestantes e jornalista detidos em protesto lembrando Reginaldo Júnior, o artista de rua África Menor, morto pela PM em Sorocaba; operação de guerra da PM e da GCM da capital paulista para acompanhar o ato contra aumento da passagem em SP. Para falar só no que a Ponte conseguiu apurar desde seu retorno do recesso, dia 06/1.
A operação que prendeu policiais responsáveis pela morte de delator do PCC também revelou que havia vazamento de informações internas de membros da PM e da Rota para a facção, policiais trabalhando como seguranças privados do PCC – e isso é só o começo das investigações que têm sido tocadas pela própria estrutura da segurança pública do Estado, e não por um órgão independente da sociedade civil ou da justiça.
Fica mais e mais claro que a estrutura admite um tratamento quase maternal para o crime organizado e outro à base da bala para o pobre, o preto, o periférico. Uma estrutura criada para defender quem tem poder econômico e condenar à morte quem não tem. Vale lembrar que a polícia tem como gênese no Brasil a caça aos escravizados em fuga e a repressão a rebeliões de cativos e aos quilombos.
Sem incorrer em exagero: a PM de São Paulo continua fora de controle, enquanto as lideranças se voltam para as eleições de 2026 – e, de certa forma, dentro do pragmatismo político, é agradável que as coisas estejam como estejam para aqueles que estão chefiando o Estado. A situação se prolonga com a conivência da Justiça, do MP, da parte da imprensa e da própria sociedade – afinal, tudo bem se quem estiver morrendo morar na periferia, sempre tida como “ninho de bandido”.
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