Não importa o que digam os envelopes no dia 2 de março, o Oscar de 2025 já entrou para a história do cinema brasileiro. Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, tornou-se o primeiro longa nacional indicado como melhor filme, prêmio máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Concorre ainda nas categorias de melhor filme internacional e melhor atriz, com sua estrela, Fernanda Torres, repetindo o feito da mãe, Fernanda Montenegro, que concorreu por Central do Brasil em 1999. A concorrência está acirrada. Emilia Pérez, musical sobre um chefão mexicano do tráfico que passa por uma cirurgia de redesignação sexual, liderou as indicações e está na disputa em 13 categorias — incluindo as três do longa brasileiro. Foi seguido por O Brutalista, épico histórico sobre a experiência do imigrante, e Wicked, versão para as telas de um sucesso da Broadway, ambos com dez indicações. Conclave, um thriller sobre a eleição de um novo papa, e Um Completo Desconhecido, sobre os primeiros anos de Bob Dylan, receberam oito indicações. Os vencedores serão anunciados na cerimônia do Oscar, em Los Angeles, que cairá no domingo de Carnaval. (CNN Brasil e Variety) As três chances de um filme brasileiro ganhar o Oscar pela primeira vez criaram uma onda de celebração no país, com reações de artistas, políticos, famosos e anônimos. O presidente Lula cumprimentou a equipe do filme. “Quanto orgulho!”, postou Lula em suas redes. “Meu coração de mãe está em estado de graça”, escreveu Fernanda Montenegro, vendo aos 95 anos a filha ganhar o mundo. “Saber que a história da nossa família é um símbolo da memória, do resgate que foi a luta contra a ditadura, é um final feliz para uma história que começou como uma tragédia, e muito nos honra, muito nos orgulha”, disse Chico Paiva, neto de Rubens e Eunice Paiva. (UOL) Tio Paulo tinha razão. Em uma entrevista ao programa Roda Viva em 1998, Fernanda Torres contou a história de quando um tio seu “lá na Tijuca” lhe disse, após ela vencer o prêmio de melhor atriz em Cannes, que queria vê-la um dia no Oscar. “O Oscar não vai rolar nunca”, ela respondeu para ele. Um trecho da entrevista viralizou nas redes após sua indicação. (g1) Com o Brasil todo ligado nas escolhas da Academia, era de se esperar que um filme nacional fazendo história no Oscar geraria um mar de memes — essa “forma superior de arte”, como disse Fernanda. E os brasileiros não decepcionaram. (Estadão) As indicações de Ainda Estou Aqui foram recebidas com surpresa por alguns veículos internacionais e revistas especializadas, como Hollywood Reporter, que chamou Fernanda Torres de “azarona do Oscar”. O Deadline ressaltou o sucesso do filme. (Hollywood Reporter e Deadline) O New York Times também recebeu com surpresa a indicação de Ainda Estou Aqui ao prêmio de melhor filme e Fernanda Torres como melhor atriz. O jornal destaca o papel exercido pelo Globo de Ouro, ao premiar Fernanda, dando visibilidade ao filme junto aos votantes do Oscar, enquanto a Variety credita as indicações também ao engajamento dos fãs nas redes. (New York Times e Variety) Crítico do Washington Post, Ty Burr afirma que o filme brasileiro “é um épico dentro de um épico: um drama familiar intenso contido no melodrama de um país enlouquecendo”. Já Sonia Rao disse que Ainda Estou Aqui “está em todo lugar”, sendo uma das grandes surpresas na categoria de melhor filme, ainda que esperado nas outras duas. (Washington Post) Leonardo Sanchez: “O longa de Walter Salles trata de um dos capítulos mais sombrios dos livros de história, na ressaca da ascensão de um discurso que rejeita os horrores da ditadura militar e, por tabela, tentou grudar a maior parte do cinema nacional e a classe artística à pecha de inimigos da nação. Para além da guerra ideológica que se instaurou no Brasil, as indicações desta semana também servem de injeção de otimismo num setor cambaleante desde a pandemia de Covid-19. (Folha) Renata Almeida Magalhães: “Ainda estou aqui é o resultado dessa insistência, desse ciclo evolutivo, mas, sobretudo, é um filme que nos faz lembrar que o Brasil vale a pena. Continuamos únicos e interessantes, capazes de fazer com que uma história profundamente brasileira, contada por um cineasta brasileiro, se conecte com o mundo”. (Globo) |