26 dezembro, 2019

Musical: Samba na Veia, É Candeia

“Candeia, quando funda o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo juntamente a Wilson Moreira e Paulinho Viola, posiciona-se para além da música. Ele não somente se coloca contrário ao processo de industrialização cultural do samba como enxerga o samba como uma ilha de resistência de valores identitários negros diante desse processo. E, no palco, este lado do poeta Candeia, idealista e militante, se fará presente”, conta a atriz Rita Teles.



A fundação da escola de samba G.R.A.N.E.S. (Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba)Quilombo marca o processo de dissidência de Candeia da tradicional escola de samba Portela.  Rita também ressalta que posições evidentemente machistas do compositor não passarão despercebidas. “É um momento importante para trazer à cena o machismo em nossa sociedade, principalmente a violência contra a mulher negra. Trata-se de uma peça biográfica em que esses ganchos serão usados como ferramenta para dar voz ao nosso protesto.” 








A montagem Paulista recebeu uma enorme aceitação do público, que lotou todas as apresentações. Atriz e produtora executiva do espetáculo, Rita Teles acredita que, além da questão do tema e dos cuidados com a montagem, a peça se fortaleceu muito por evidenciar o protagonismo da cena cultural independente, bem como pela representatividade de um elenco e de músicos majoritariamente oriundos do samba, das artes e de movimentos sociais afirmativos, sobretudo do movimento negro.
Para o diretor, Leonardo Karasek, o espetáculo defende o protagonismo de artistas negros que são a parcela majoritária na formação do elenco. Para ele, “É Samba na VeiaÉ Candeia” ultrapassa as definições de um musical e se encaixa, perfeitamente, como uma peça biográfica. “O cenário reforça todo o simbolismo da trajetória de Candeia como homem negro e crítico social. A estruturação da montagem reforça o sentido da imersão do público no universo do compositor. E, nesse caminho, fazemos um convite para a releitura do mundo nos olhos de Candeia, com todas suas facetas e vivências como corpo e voz de movimento e atuação política por meio do samba”, diz.
O ator Marcelo Dalourzi interpreta Candeia com maestria e paixão. Os aspectos cotidianos da vida do músico, a utilização do samba como instrumento de resistência cultural da população negra do subúrbio carioca e a sua maneira singular de compor sobre os amores, as vicissitudes da vida e seu estilo musical sem perder a possibilidade de contestar males sociais como o racismo e apropriação cultural ganham destaque na encenação.
A direção musical é de Edinho Carvalho, compositor, pesquisador e responsável pela direção harmônica e melódica do Projeto Samba de Terreiro de Mauá, que faz todo o acompanhamento musical do espetáculo. A trilha sonora tem arranjos e também direção do músico Abel Luiz.
“Pintura sem arte”, “Testamento de Partideiro” e de “De Qualquer Maneira” são alguns dos sambas que compõem a vasta discografia de Candeia e integram o espetáculo. A trilha também conta com canções que, exaltadas na voz de outros célebres sambistas, como “Preciso me Encontrar”, consagrada por Cartola, ícone da Estação Primeira de Mangueira; “O Mar Serenou”, eternizada pela cantora e madrinha da Velha Guarda Musical da Portela, Clara Nunes e “Dia de Graça”, defendida pela voz de Elza Soares, interpretada por Josi Souza.
Outros temas do espetáculo são composições dos habituais parceiros de Candeia, como “Riquezas do Brasil”, de Waldir 59; “Me Alucina”, de Wilson Moreira; “Falsas Juras”, de Casquinha; e “Coisas Banais”, de Paulinho da Viola. O espetáculo conta, ainda, com a coreografia do ator e dançarino Jefferson Brito e participação da cantora Sueli Vargas.
Para Rita Teles, “É CandeiaÉ Samba na Veia” exerce papel fundamental na releitura do compositor como crítico dos mecanismos de apropriação cultural dos valores e processos históricos de identidade negra. “Candeia, quando funda o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo com Wilson Moreira e Paulinho Viola e outros sambistas, posiciona-se para além da música. Ele não somente se coloca contrário ao processo de industrialização cultural do samba, como o enxerga como uma ilha de Resistência de valores identitários negros diante desse processo. E, no palco, este lado do poeta Candeia, idealista e ativista se faz presente”, conta.


Ficha técnica:
Direção: Leonardo Karasek
Texto: Eduardo Rieche
Direção Musical: Edinho Carvalho e Abel Luiz
Arranjo Musical: Abel Luiz
Preparação Vocal: Daisy Cordeiro
Coreografia: Jefferson Brito
Produção: Núcleo Coletivo das Artes Produções
Figurino: Gabriela Rocha
Cenário: Raifah Monteiro
Iluminação: Rodrigo Alves
Ilustração: Bruno Will
Fotos: Osmar Moura
Criação Gráfica: Zeca Dâmaso
Assistente de Direção: Augusto Vieira
Assessoria de Imprensa: Baobá Comunicação
Plano de comunicação virtual: Eduardo Araújo

Elenco: 
Danilo Ramos (David do Pandeiro, Claudionor, Edgar)
Denise Aires (Leonilda Candeia, ela na Foto abaixo)

Jair de Oliveira (Candeia Pai, Locutor da apuração, Homem 1)
Jefferson Brito (Waldir 59, Armando, Mestre sala Quilombo e encerramento, Picolino,Jorge Coutinho, Mauro)
Jose Nelson Junior (Mazinho, Seu Neco, Seu Teco)
Josi Souza (Elza Soares, Dona Maria, Médica)
Leo Dias (Casquinha, Zé com fome)
Marcelo Dalourzi (Candeia)
Rita Teles (Firmina, Apagado, Porta Bandeira da Quilombo)

Suelen Ribeiro (Clara Nunes, Pequena, Prostituta 2, torcedora Portela, diretora artística)

Sueli Vargas (Manoel, Narrador, Dona Benvinda)

Viviane Clara (Prostituta 1, torcedora Portela, Porta Bandeira Encerramento)
Wallace Andrade (Brêtas, Homem 2, Argemiro, João Chapeleiro)

Músicos:
Brito da Cuíca (cuíca)
Danilo Ramos (tamborim)
David Silveira (cavaquinho)
Didi Carvalho (surdo e percussão geral)
Eder Ventura (cavaquinho)
Edinho Carvalho (cavaquinho)
Hosana Meira (tamborim)
Jader Morelo (pandeiro e percussão geral)
Jefferson Motta (violão de 7 cordas)
Leo Dias (tamborim e pandeiro)
Marcelo Glick (atabaque e percussão geral)
Marlene Oliveira (prato e faca)
Ocimar Dias (agogô)
Paulo Novais (bandolim)

Performance:
Dan Rodrigo (representando Orixá)

Foto de Osmar Moura
Viva Clara Claridade!!!