Em 2020, quando a faixa do 6 Ghz foi direcionada ao Wi-fi, as teles chiaram. Queriam reservá-la para o 6G, previsto só para 2030. A Anatel não topou. O leilão do 5G no ano seguinte já foi o maior do mundo em capacidade, o que exigiu bastante investimento das empresas. Mostrou ainda que ampliar o espectro licenciado naquele momento não tinha necessidade, ainda mais se incluísse uma faixa que não poderia ser operada por falta de equipamentos. Ficaria 10 anos na gaveta.
O jeito foi destinar essas avenidas no ar ao Wi-fi. Mas, para o presidente da Anatel, a indústria de fabricantes venceu a batalha e passou a jogar parada.
O pessoal do Wi-fi se acomodou quando conseguiu a faixa. Não fez investimento, desenvolvimento e não trouxe os equipamentos. Eu sempre fui transparente com isso. Já falei, 'Cara, o espectro não é seu. É um ativo público e o nosso dever, enquanto servidor público de um órgão de Estado, é garantir uso eficiente'
Carlos Manuel Baigorri
Alguns equipamentos até foram homologados, ou seja, liberados para venda por aqui. Mas uns são caros para o consumidor final, outros não estão disponíveis em lojas de varejo e parte é destinada a empresas.
Outros nem isso. Um dos casos simbólicos é a Meta. Até 2021 chamada de Facebook, a empresa mudou de nome para atestar seu compromisso com o metaverso, mescla entre os mundos físico e digital. A porta de entrada para essa realidade são os óculos de realidade aumentada Quest. Por isso, ela foi uma das norte-americanas a fazer lobby pelo Wi-fi na faixa dos 6 Ghz. Só assim, o equipamento funcionaria plenamente, argumentava. O aparelho está em sua terceira versão e ainda não é vendido no Brasil.
Enquanto isso, os equipamentos para internet móvel via 6 Ghz, inexistentes em 2020, tiveram os primeiros protótipos apresentados em 2023 e chegam ao mercado em 2025. As chinesas já querem vender e as teles, a começar pelas chinesas e indianas, já buscam comprá-los.
Enquanto isso, os pedidos de nulidade começaram a correr dentro da Anatel. As associações representantes das empresas já foram chamadas a se manifestar. Depois, a procuradoria da agência analisa a questão e a remete ao conselho.
O que está em jogo é o futuro do Wi-fi e do 6G brasileiros. O desfecho, no entanto, será o resultado de um cabo de guerra entre aspectos tecnológicos e tensões geopolíticas. E as mãos de poderosos da China e dos EUA estarão puxando de um lado e de outro desta corda.