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O ar está seco e insuficiente para arrefecer os corpos que percorrem as estradas secas adjacentes à M50, com exceção de Emília Santos. Com apenas aquelas leves rajadas de vento no rosto, a senhora de 70 anos consegue pousar nas suas ilusões mais distantes na fronteira com o município de Fuenlabrada. “Estava caminhando por El Muro de Gijón, na praia de San Lorenzo”, diz ele ao parar. “Aí o barulho de um carro me interrompe e estou aqui de novo, para minha consternação”, confessa. Santos, natural das Astúrias, iniciou o seu percurso por volta das 10 da manhã, e afirma “estar cansado de Móstoles. No verão, com o calor e o mato, fico deprimida. Depois ressuscito na primavera”, explica. Estas caminhadas matinais, além de uma forma de viajar às origens, eram uma espécie de terapia durante os meses de verão. Um percurso diário de 8 a 10 quilómetros que representa um ligeiro alívio da depressão que sofre desde a morte da filha. “Não é nada especial. Eu diria que 90% de nós, idosos, somos assim, há mais problemas do que hipertensão ou colesterol, é só perguntar por aí”, ressalta. Para Emília, como para o resto das pessoas que viajam por estas paragens, o calor não é motivo para parar, embora admita que prefere não sair do pé da estrada por segurança. A verdade é que a percentagem de mulheres que frequentam estes locais quase vazios dos centros urbanos suburbanos é bastante baixa.
Talvez Emília se refira a quem, como Luis Chana, 53 anos, viaja quase de cueca por estas terras selvagens às seis da tarde e com uma temperatura de 38 graus. “Se alguém ficar chateado, deixe-o ficar chateado. “Não estou machucando ninguém”, diz ele. O homem, com a língua de fora, segura no braço esquerdo como se fosse um bebê uma mochila contendo seu kit de sobrevivência: um litro de água, um borrifador e protetor solar. Antes de chegar a meados do verão, o bronzeado de Chana era quase perfeito, limpo e brilhante, bronzeado sob os raios do sol seco nas caminhadas matinais e vespertinas. “A verdade é que aqui moramos quem não conseguiu comprar casa no centro, e aqui mora quem não vai bronzear-se na praia. Afinal é um campo, só precisamos de um pouco mais de água”, explica.
O mapa geográfico desses oásis artificiais em forma de fontes está registrado em sua cabeça por José Antonio Álvarez, 47 anos. José Antonio descansa à sombra da única árvore que se avista em vários quilómetros de distância, um olmo, perto do Ensanche Sur de Alcorcón. Os ciclistas que passam por ele param para perguntar se ele está bem. “Estou apenas brincando com a máquina”, ele responde. Sentado no chão, com sua nova bicicleta com rodas de 29 polegadas apoiada na cerca, Álvarez alterna jogar jogos do Sonic em seu console portátil com alguns vídeos do YouTube onde relata acontecimentos atuais. O cérebro de José Antonio, taxista de profissão, desenvolveu a capacidade de memorizar cada fonte por onde passa, tanto no centro de Madrid onde trabalha como nos arredores. Assim, seus percursos de 40 a 60 quilômetros consistem em ir de um para outro, tomar uma bebida e seguir em frente. “Começo no Parque Ovejero em Móstoles, depois vou para Los Pinos de Alcorcón e de lá vou para o mais legal de todos, no Parque Polvoranca, uma das fontes perto de Leganés”, descreve. Este verão Álvarez dificilmente sairá de Madrid, apesar de ser uma das piores épocas do ano para trabalhar no táxi. “Os dias serão estendidos em 12 ou 14 horas se você quiser ganhar o mesmo valor”, afirma. Mesmo assim, ele se sente privilegiado. Caminhões de carga como aqueles em que ele trabalhou não param de passar atrás dele. “Quanto maior o caminhão, maiores os problemas. Lá aprendi onde na Espanha se bebe melhor”, diz ele. |