Centrais sindicais que participaram do movimento Lula Livre e líderes de partidos historicamente alinhados ao PT têm demonstrado descontentamento com a atuação política do ex-presidente.
Centrais sindicais que participaram do movimento Lula Livre e líderes de partidos historicamente alinhados ao PT têm demonstrado descontentamento com a atuação política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que ele deixou a cadeia, em novembro de 2019.
Segundo
eles, Lula tem feito uma política muito "estreita". O movimento é
interpretado por petistas como uma tentativa de isolar Lula e o PT e
levar a centro-esquerda para projetos mais amplos como os de Ciro Gomes
(PDT) ou do apresentador de TV Luciano Huck (sem partido).
Força
Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e
União Geral dos Trabalhadores (UGT) não foram convidadas para reunião
nacional da campanha Lula Livre marcada para este sábado, dia 18, em São
Paulo. Em 2018 estas centrais (e outras quatro) aceitaram transferir o
centro da comemoração do Dia do Trabalho de São Paulo para Curitiba em
solidariedade a Lula. Alguns de seus dirigentes se engajaram
pessoalmente na campanha pela libertação do petista.
Agora,
reclamam que o ex-presidente, desde que saiu da cadeia, só recebe
dirigentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT). "Depois da saída da
prisão Lula só se encontrou com CUT. Não recebeu nenhuma outra central.
A política dele está estreita. Lula só chegou à Presidência quando se
aplicou com empresários", disse o secretário-geral da Força, João Carlos
Gonçalves, o Juruna.
A
Força é ligada ao Solidariedade. A Central dos Sindicatos Brasileiros
(CSB) tem na presidência Antonio Neto, do PDT, e a UGT é presidida por
Ricardo Patah, do PSD. Até mesmo centrais que devem participar da
reunião Lula Livre, como a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil (CTB), que tem dirigentes ligados ao PCdoB e ao PSB, questionam a
postura de Lula.
"Queremos
ir lá para mostrar nossa opinião. O mundo não gira em torno do Lula. O
PT e a esquerda foram derrotados e construir a possibilidade de um
retorno terá que fazer um movimento mais amplo", disse o presidente da
CTB, Adilson Araújo, do PCdoB.
Patah,
da UGT, confirmou que não foi convidado para o evento mas minimizou o
fato de ainda não ter sido recebido por Lula. "Nós sabíamos que ele
teria um período de quarentena para resolver problemas pessoais. No
momento certo ele vai conversar com as centrais", disse ele.
Na
quinta-feira, 16, o deputado Orlando Silva, líder do PCdoB na Câmara,
publicou um texto no qual ataca Lula por ter dito em uma entrevista que
dificilmente alguém se elege presidente por um partido comunista e
exaltado o tamanho do PT em comparação com outros partidos de esquerda.
"Lula
considerar difícil a eleição de um comunista para presidente não
surpreende, afinal, ele considerava impossível uma vitória para o
governo do Maranhão. Flávio Dino foi eleito e reeleito governador sem
seu apoio. Mas qual a utilidade de reforçar a retórica anticomunista?",
questiona o deputado que foi ministro dos Esportes no governo Lula.
Dino
vai participar da reunião ao lado de José Genoino e Franklin Martins. O
governador do Maranhão está no centro da disputa desde que se reuniu
com Huck, no Rio de Janeiro, abrindo margem para especulações sobre uma
chapa Dino/Huck.
"O
PT mantém e manterá a relação com o PC do B e demais partidos de
esquerda. Flávio Dino é um tremendo quadro. Estamos e estaremos juntos",
disse o presidente estadual do PT de São Paulo, Luiz Marinho.
Na
entrevista à TVT veiculada quarta-feira, 15, Lula fez largos elogios a
Dino e admitiu a possibilidade de apoiar o governador do Maranhão, com
as ressalvas de que o PT tem mais estrutura e da rejeição à palavra
"comunista". Orlando Silva classificou os elogios como um "abraço de
urso". "Anote aí, o elogio de Lula a Flávio Dino é como um 'abraço de
urso', daí ser adequado Flávio saber o ponto exato de proximidade - ou
será esmagado", escreveu o deputado.
Em
conversas reservadas, petistas lembram da proximidade entre Orlando
Silva e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e enxergam uma
tentativa de levar aliados históricos do PT para o projeto de Huck. Nos
últimos meses o apresentador tem dado mais ênfase às questões sociais e
até elogiado programas dos governos petistas em suas manifestações, o
que é visto como uma inflexão na direção da centro-esquerda.
Segundo
o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, as centrais não foram
convidadas porque a reunião do Lula Livre é restrita às entidades que
participaram organicamente do movimento. "É uma reunião mais
organizativa. O objetivo é discutir o fato de que Lula está solto mas
não teve reconhecida sua inocência nem teve de volta seus direitos
políticos", disse ele.
Okamotto
rechaçou a possibilidade de antigos aliados estarem preocupados com a
possibilidade de Lula reaver seus direitos e ser candidato novamente em
2022. "Dou de barato que ninguém da esquerda tem um pensamento tão
raso", afirmou.
Orlando
Silva não foi o primeiro a questionar Lula publicamente depois que o
ex-presidente foi solto. No início do ano o presidente do PSOL, Juliano
Medeiros, criticou nas redes sociais o fato de o petista ter dito em
entrevistas que os EUA e a CIA estariam por trás das manifestações de
junho de 2013.
No
texto publicado nesta quinta, Orlando Silva usa trecho da música
"Demorô" do cantor Criolo para demonstrar seu descontentamento. "Onde
falta respeito a amizade vai pro lixo muda essa roupa, corta esse
cabelo".
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