Sob o
sol escaldante das 13h (de Brasília) do verão Paulistano, a Mooca, um
dos mais “caipiras” bairros de São Paulo, vê um movimento anormal se
instaurar na rua mais famosa de São Paulo, a Javari. A resposta é óbvia:
é dia de jogo do Juventus. Após três meses sem futebol no local com a
precoce eliminação da equipe na primeira fase da Copa Paulista, a
rua volta a ser turbinada por torcedores na Copa São Paulo de Futebol
Júnior. Mas esqueça tudo o que você pensa sobre São Paulo e o que você
imagina do futebol moderno: ali é outro mundo.
O bairro da Mooca por si só é peculiar.
Situado logo no início da zona leste Paulistana, a poucos quilômetros do
centro, tem ares de interior em uma região em que características do
passado são preservadas. São ruas pequenas e apertadas, por onde o
movimento – é claro, pois estamos em São Paulo -, é grande. Mas o
cenário é de muitas casas – daquelas de garagem com portão furado de
ferro -, comércio local e apenas poucos prédios, apesar da especulação
imobiliária já começar a crescer na região.
Tudo isso se reflete na Rua Javari. Para
quem cresceu no interior - como no meu caso -, é como se sentir “em
casa” mesmo na maior metrópole do Brasil. No estádio, onde o Juventus
enfrentou o Santo André em dia de rodada dupla da Copa São Paulo, todos
os negócios são em família, realizado por pessoas que estão há tempos no
local. A atenção dada a cada um ali, não só ao jornalista com um
caderninho na mão e uma mochila nas costas, é de se espantar.
É um contraponto a uma impressão que muitos
visitantes têm de São Paulo. Se em pesquisa divulgada recentemente pelo
jornal Folha de S.Paulo os paulistanos são descritos como os mais
“egoístas, invejosos e orgulhosos” do Brasil por outros cidadãos
nacionais, uma ida a um jogo do Juventus tem o poder de mudar e muito
essa sensação de frieza da selva de pedra.
Laços de Família
Após chegar e dar uma volta pelo estádio
para ver o movimento – lotado, em plena quarta-feira à tarde -, converso
com uma senhora que vende balas e doces no corredor principal da
Javari. “Meu sobrinho também fez a faculdade disso que você faz, mas até
agora não deu certo”, diz Carmem Luiza Moraes, 73 anos, que a todo
momento tenta criar empatia e ser simpática comigo, chamando-me até de
apelidos.
Carmem está há mais de 15 anos naquele
mesmo lugar. Ao seu lado, uma outra moça, mais jovem, também trabalha. A
mais velha explica que é sua irmã caçula e que veio substituir outra de
suas irmãs, que morreu recentemente. O negócio, contudo, não é de
Carmem: seu irmão, José da Silva de Andrade, um senhor que chega pouco
depois do início da conversa e também se posta na mesinha recheada de
balas, amendoins, chocolates e chicletes para atender aos clientes, é o
responsável por comandar a venda.
“É ele quem compra as balinhas e os
docinhos. Ele paga uma comissão para gente, até quando não vendemos
nada. Mas agora está dando, na última rodada saímos daqui com mais de R$
200”, conta, com os olhos abertos e admirados com o valor, grande para o
local, ínfimo para os dias atuais do futebol moderno. Enquanto
conversamos, sai o único gol do Juventus no duelo, o primeiro da
partida. “Você veio dar sorte”, comemora.
De lá, me movimento rapidamente para a loja
oficial da equipe para verificar o movimento. Vazia, óbvio, pois a
partida estava em andamento. Olho os quadros expostos e começo a ver
algumas peças de roupa. Compro uma camiseta e puxo uma conversa com a
garota no caixa. “Ultimamente, vendemos até mais para torcedores de
fora, como do Santo André agora, do que para torcedores daqui. Acho que é
pela cor que todo mundo gosta e pela tradição”, diz a bela jovem, de
cabelo preto e óculos grandes modernos com aro vermelho.
Descubro que seu nome é Regina. A garota é
bastante nova e difere do padrão de vendedores já idosos do estádio.
Esbelta, veste um shortinho estampado e, claro, uma camisa grená do
Juventus. "A loja é da minha mãe. Desde que eu me entendo por gente
estou aqui. Mas você devia falar com meu pai, ele está desde os 11 anos
no Juventus e conhece todas as histórias do time. Ele é gerente de
esportes, mas está trabalhando no bar agora. É um senhor de cabelo
branco, se chama Oswaldo”, sugere.
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra
É para lá que vou. Espero o movimento de
venda no local diminuir e me aproximo. Aos 62 anos, Osvaldo, um senhor
de camisa listrada em azul-esverdeado e branco, calça jeans e bastante
falante, conta que já fez tudo dentro do Juventus: foi de jogador e
técnico de futsal a gerente de esportes. Ah, durante as partidas
trabalha no bar também, é claro.
“A gente faz tudo aqui. Tem que ajudar. Vou
ser bem sincero: o bar não dá dinheiro. A gente tem que ter porque está
no Estatuto do Torcedor. E nenhuma empresa quer pagar, pois sabe que o
lucro não é grande”, fala com simpatia - enquanto pede desculpas por
estar mastigando amendoins – o morador da Mooca.
Os preços praticados no local nem de longe
lembram o Padrão Fifa das novas arenas: refrigerantes, salgadinhos,
água, cerveja sem álcool e um pão com mortadela custam entre RS 3 e R$
4. Apesar da falta de lucro, o senhor de 62 anos esboça um ato de
bondade depois da conversa de cerca de 10 minutos sobre diversos
assuntos. Esfomeado, tento comprar um pão com mortadela e um
refrigerante e retiro R$ 10 da carteira.
“Não precisa pagar não”, ele diz. Me
indigno com a tentativa e só consigo convencê-lo a aceitar o pagamento
cum um último argumento: “sou do interior, torço para um time de lá,
então sei a dificuldade e quero ajudar”. “Tudo bem”, aceita, puxando os
R$ 3 de troco.
O último ato de generosidade tão atípica em São Paulo é feito pelo “tio dos cannolis”, a grande celebridade da Rua Javari. Seu Antônio: acompanhado
na venda da mulher Fátima e da filha Naiara, distribui cannolis
gratuitamente para vários conhecidos da Mooca e até para faxineiras. Dá,
também, para a reportagem, que desta vez é obrigada a aceitar após ter
comprado – e pagado – por quatro unidades do doce vendido a R$ 3. Quando
digo que busco a assessora do clube, o senhor de 65 anos, que se
recupera de oito infartos, não se cansa de procurar até achá-la e me
apresentar, com felicidade no rosto, a Cristina.
A mais conhecida canção do cantor Criolo
exalta a frieza dos habitantes de São Paulo. Virou expressão corriqueira
da agitada metrópole e palavra dita a todo o tempo, em brincadeira ou
não. Você sabe de que música falo:
“Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita”
O corintiano Criolo, talvez, nunca tenha pisado na Rua Javari.
Em cada canto, há muita atenção para dar, conversa para puxar, alma quente para desvendar.
Ali a generosidade reina sobre a ganância, e a vaidade é apenas vestir uma camisa grená com um J estampado em um escudo.
Há muito amor em Carmem, Regina, Osvaldo, Antônio e, provavelmente, em tantos outros rostos invisíveis de São Paulo.
Mais Javari, por favor.
Mooca é outro mundo! Por Gabriel Francisco Pereira. by Viva Mooca
Aproveitando:
Bom, a receita federal ainda não
liberou o total arrecadado anual, mas temos até outubro. Então vamos
fazer as comparações na arrecadação de impostos federais no estado de
SP:
De janeiro a outubro de 2013: R$ 359.054.120.658,00
De janeiro a outubro de 2014: R$ 388.190.761.465,00
De janeiro a outubro de 2014: R$ 388.190.761.465,00
O total de recursos transferidos pra SP:
2013: R$ 32.795.493.197,08
2014: R$ 35.240.298.150,08
2014: R$ 35.240.298.150,08
O aumento no retorno pra SP foi de R$ 2.444.804.953,00.
O aumento da arrecadação só de janeiro a outubro, foi de R$ 29.136.640.807,00.
Ou seja, o aumento do retorno pra SP no ano inteiro, foi menos de 10% do que aumentou a arrecadação de janeiro a outubro.
Orgulho de Ser Paulista
Eu: não é bem Amor que falta em São Paulo...É muita celebridade recebendo verbas públicas para "jogar para plateia"
Sulinha Imprensa Livre
Saúde, Sorte e $uce$$o: Sempre.
Saúde, Sorte e $uce$$o: Sempre.