17 janeiro, 2015

Mooca é outro mundo! Por Gabriel Francisco Pereira.



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Sob o sol escaldante das 13h (de Brasília) do verão Paulistano, a Mooca, um dos mais “caipiras” bairros de São Paulo, vê um movimento anormal se instaurar na rua mais famosa de São Paulo, a Javari. A resposta é óbvia: é dia de jogo do Juventus. Após três meses sem futebol no local com a precoce eliminação da equipe na primeira fase da Copa Paulista, a rua volta a ser turbinada por torcedores na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Mas esqueça tudo o que você pensa sobre São Paulo e o que você imagina do futebol moderno: ali é outro mundo.
O bairro da Mooca por si só é peculiar. Situado logo no início da zona leste Paulistana, a poucos quilômetros do centro, tem ares de interior em uma região em que características do passado são preservadas. São ruas pequenas e apertadas, por onde o movimento – é claro, pois estamos em São Paulo -, é grande. Mas o cenário é de muitas casas – daquelas de garagem com portão furado de ferro -, comércio local e apenas poucos prédios, apesar da especulação imobiliária já começar a crescer na região.  
Tudo isso se reflete na Rua Javari. Para quem cresceu no interior - como no meu caso -, é como se sentir “em casa” mesmo na maior metrópole do Brasil. No estádio, onde o Juventus enfrentou o Santo André em dia de rodada dupla da Copa São Paulo, todos os negócios são em família, realizado por pessoas que estão há tempos no local. A atenção dada a cada um ali, não só ao jornalista com um caderninho na mão e uma mochila nas costas, é de se espantar.
É um contraponto a uma impressão que muitos visitantes têm de São Paulo. Se em pesquisa divulgada recentemente pelo jornal Folha de S.Paulo os paulistanos são descritos como os mais “egoístas, invejosos e orgulhosos” do Brasil por outros cidadãos nacionais, uma ida a um jogo do Juventus tem o poder de mudar e muito essa sensação de frieza da selva de pedra.
Rua Javari esteve lotada para jogos da Copa São Paulo
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra
Laços de Família
Após chegar e dar uma volta pelo estádio para ver o movimento – lotado, em plena quarta-feira à tarde -, converso com uma senhora que vende balas e doces no corredor principal da Javari. “Meu sobrinho também fez a faculdade disso que você faz, mas até agora não deu certo”, diz Carmem Luiza Moraes, 73 anos, que a todo momento tenta criar empatia e ser simpática comigo, chamando-me até de apelidos.
Carmem está há mais de 15 anos naquele mesmo lugar. Ao seu lado, uma outra moça, mais jovem, também trabalha. A mais velha explica que é sua irmã caçula e que veio substituir outra de suas irmãs, que morreu recentemente. O negócio, contudo, não é de Carmem:  seu irmão, José da Silva de Andrade, um senhor que chega pouco depois do início da conversa e também se posta na mesinha recheada de balas, amendoins, chocolates e chicletes para atender aos clientes, é o responsável por comandar a venda.
“É ele quem compra as balinhas e os docinhos. Ele paga uma comissão para gente, até quando não vendemos nada. Mas agora está dando, na última rodada saímos daqui com mais de R$ 200”, conta, com os olhos abertos e admirados com o valor, grande para o local, ínfimo para os dias atuais do futebol moderno. Enquanto conversamos, sai o único gol do Juventus no duelo, o primeiro da partida. “Você veio dar sorte”, comemora.
De lá, me movimento rapidamente para a loja oficial da equipe para verificar o movimento. Vazia, óbvio, pois a partida estava em andamento. Olho os quadros expostos e começo a ver algumas peças de roupa. Compro uma camiseta e puxo uma conversa com a garota no caixa. “Ultimamente, vendemos até mais para torcedores de fora, como do Santo André agora, do que para torcedores daqui. Acho que é pela cor que todo mundo gosta e pela tradição”, diz a bela jovem, de cabelo preto e óculos grandes modernos com aro vermelho.
Descubro que seu nome é Regina. A garota é bastante nova e difere do padrão de vendedores já idosos do estádio. Esbelta, veste um shortinho estampado e, claro, uma camisa grená do Juventus. "A loja é da minha mãe. Desde que eu me entendo por gente estou aqui. Mas você devia falar com meu pai, ele está desde os 11 anos no Juventus e conhece todas as histórias do time. Ele é gerente de esportes, mas está trabalhando no bar agora. É um senhor de cabelo branco, se chama Oswaldo”, sugere.
Copa São Paulo tem como uma das sedes a Rua Javari
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra
É para lá que vou. Espero o movimento de venda no local diminuir e me aproximo. Aos 62 anos, Osvaldo, um senhor de camisa listrada em azul-esverdeado e branco, calça jeans e bastante falante, conta que já fez tudo dentro do Juventus: foi de jogador e técnico de futsal a gerente de esportes. Ah, durante as partidas trabalha no bar também, é claro.
“A gente faz tudo aqui. Tem que ajudar. Vou ser bem sincero: o bar não dá dinheiro. A gente tem que ter porque está no Estatuto do Torcedor. E nenhuma empresa quer pagar, pois sabe que o lucro não é grande”, fala com simpatia - enquanto pede desculpas por estar mastigando amendoins – o morador da Mooca.
Os preços praticados no local nem de longe lembram o Padrão Fifa das novas arenas: refrigerantes, salgadinhos, água, cerveja sem álcool e um pão com mortadela custam entre RS 3 e R$ 4. Apesar da falta de lucro, o senhor de 62 anos esboça um ato de bondade depois da conversa de cerca de 10 minutos sobre diversos assuntos. Esfomeado, tento comprar um pão com mortadela e um refrigerante e retiro R$ 10 da carteira.
“Não precisa pagar não”, ele diz. Me indigno com a tentativa e só consigo convencê-lo a aceitar o pagamento cum um último argumento: “sou do interior, torço para um time de lá, então sei a dificuldade e quero ajudar”. “Tudo bem”, aceita, puxando os R$ 3 de troco.
O último ato de generosidade tão atípica em São Paulo é feito pelo “tio dos cannolis”, a grande celebridade da Rua Javari. Seu Antônioacompanhado na venda da mulher Fátima e da filha Naiara, distribui cannolis gratuitamente para vários conhecidos da Mooca e até para faxineiras. Dá, também, para a reportagem, que desta vez é obrigada a aceitar após ter comprado – e pagado – por quatro unidades do doce vendido a R$ 3. Quando digo que busco a assessora do clube, o senhor de 65 anos, que se recupera de oito infartos, não se cansa de procurar até achá-la e me apresentar, com felicidade no rosto, a Cristina.
A mais conhecida canção do cantor Criolo exalta a frieza dos habitantes de São Paulo. Virou expressão corriqueira da agitada metrópole e palavra dita a todo o tempo, em brincadeira ou não. Você sabe de que música falo:

“Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita”


O corintiano Criolo, talvez, nunca tenha pisado na Rua Javari.
 Em cada canto, há muita atenção para dar, conversa para puxar, alma quente para desvendar. 
Ali a generosidade reina sobre a ganância, e a vaidade é apenas vestir uma camisa grená com um J estampado em um escudo. 
Há muito amor em Carmem, Regina, Osvaldo, Antônio e, provavelmente, em tantos outros rostos invisíveis de São Paulo. 
Mais Javari, por favor.
  • Gabriel Francisco Ribeiro
Direto de São Paulo (SP)
 

Mooca é outro mundo! Por Gabriel Francisco Pereira. by Viva Mooca

Aproveitando:

Bom, a receita federal ainda não liberou o total arrecadado anual, mas temos até outubro. Então vamos fazer as comparações na arrecadação de impostos federais no estado de SP:
De janeiro a outubro de 2013: R$ 359.054.120.658,00
De janeiro a outubro de 2014: R$ 388.190.761.465,00

O total de recursos transferidos pra SP:
2013: R$ 32.795.493.197,08
2014: R$ 35.240.298.150,08

O aumento no retorno pra SP foi de R$ 2.444.804.953,00.
O aumento da arrecadação só de janeiro a outubro, foi de R$ 29.136.640.807,00.
Ou seja, o aumento do retorno pra SP no ano inteiro, foi menos de 10% do que aumentou a arrecadação de janeiro a outubro.

Orgulho de Ser Paulista

Eu: não é bem Amor que falta em São Paulo...
É muita celebridade recebendo verbas públicas para "jogar para plateia"

Sulinha Imprensa Livre
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