Faz 23 anos que o médico Jim Withers sai, três vezes por semana, por Pittsburgh, procurando seus pacientes: os moradores de rua.
A
gente sempre imagina um médico vestido todo de branco, arrumado, com um
estetoscópio no pescoço, não é? Essa é a imagem clássica. Mas o médico
que você vai conhecer largou o jaleco e mudou o jeito de se vestir para
cuidar de moradores de rua em Pittsburgh, nos Estados Unidos.
“Ele
me tirou da rua e Deus o abençoa por isso. Ele não quer que eu continue
dormindo no chão, passando frio”, diz uma ex-moradora de rua.
Outro ex-morador de rua também fala de seus momentos mais difíceis.
“Eu
desmaiei várias vezes. É assustador quando você sai e pensa que você
pode morrer e seu corpo ficar semanas jogado”, revela Victor Harmend,
morador do abrigo.
A vida deles e de muitos outros que
viviam debaixo das pontes de uma cidade, no estado da Pensilvânia, nos
Estados Unidos, foram salvas graças a Jim Withers.
Faz 23
anos que o médico sai, três vezes por semana, por Pittsburgh, procurando
seus pacientes: os moradores de rua. No início, ele até se vestia como
um deles.
“Eu sujei as minhas roupas, o meu cabelo. Eu achei
que era importante, no começo, me conectar às pessoas não como um
médico, mas como alguém da realidade deles. Depois de 5 ou 6 meses eu vi
que não precisava mais me vestir daquele jeito. Eu podia me vestir
normalmente que eles me aceitariam e eu aprendi como ser um médico de
rua. Esse novo conceito”, afirma o doutor Jim Withers.
O
doutor Withers fez das ruas uma sala de aula para muitos médicos e
estudantes de medicina, que passaram a segui-lo nesta missão de ajudar
os moradores de rua, exclusivamente pelo amor ao próximo e à profissão.
“Aqui
é onde vivem as pessoas que estão sofrendo. É onde os cuidados médicos
devem chegar. Nós temos que aprender e vir até eles”, destaca o médico.
O
Fantástico acompanhou o doutor Withers durante uma noite nessa “missão”
com os desabrigados. Está muito frio. E embaixo de uma ponte, várias
pessoas estão abrigadas em barracas. O doutor Jim Withers sai
perguntando: “Vocês estão precisando de alguma coisa?”
A
primeira a responder foi Nicole. Ela tem fortes dores no joelho e não
consegue dormir. É examinada e recebe os medicamentos de que precisa.
Outra
moradora de rua, Amanda Petronio, saiu de sua barraca e foi ao nosso
encontro quando ouviu a voz do doutor Withers. Ela está há dois meses na
rua.
Amanda diz que graças ao doutor Withers, ela está tomando remédio para pressão e diabetes.
O
Fantástico pergunta o que significa a presença dele. E ela responde: “É
alguém que se importa comigo mais do que minha própria família”.
Com a ajuda da população e de voluntários, o doutor Withers já tratou 10 mil desabrigados, e tirou 1,2 mil pessoas das ruas.
“Não
existem livros sobre isso, ninguém que te ensine isso. Então eu virei
um médico de rua, coloquei remédios na minha mochila e comecei a ir às
ruas, ouvir as pessoas que estavam deprimidas. Aqui eu tenho coisas para
má digestão e dores. Aqui eu tenho loção para pele irritada e
infecções. Material para fazer curativos e remédio para pressão. Eu
carrego também meias, elas são muito importantes não só para proteger do
frio, mas de infecções”, afirma o doutor Withers.
O Fantástico pergunta o que eles precisam mais: dos medicamentos ou às vezes uma atenção, uma conversa é mais importante?
“Eles
precisam de esperança. Saber que as pessoas ainda se preocupam com
eles. Que eles não estão sozinhos. Isso dá a eles coragem para tentar
novamente”, responde o médico.
Foi o que aconteceu com David
Mooey. Depois de viver 10 anos nas ruas, com pedras nos rins e
depressão, recebeu o tratamento médico de que precisava.
“Eu achava que viveria embaixo da ponte para o resto da minha vida”, revela David Mooey, ex-morador de rua.
Hoje,
ele está com os problemas de saúde controlados, e com auxílio do
governo, há cinco meses saiu das ruas para um apartamento.
O Fantástico pergunta como ele define a ajuda que recebeu. “Uma libertação”, diz.
Para
chamar a atenção da população da cidade para o seu projeto com os
moradores de rua, o doutor Withers criou um memorial embaixo de uma
ponte da cidade com o nome de todas as pessoas que morreram sem
assistência.
Fantástico: É um tipo de protesto?
Doutor
Withers: Sim, é para lembrar que existem seres humanos vivendo nestas
condições, que estão morrendo por isso, e que não vamos esquecê-los.
Para
isso acontecer, é preciso que muitos outros médicos sigam seu exemplo.
Hoje, cerca de 80 grupos em diferentes países já praticam a medicina de
rua. A missão do doutor Withers é espalhar esse serviço pelo mundo
inteiro
Saúde, Sorte e $uce$$o: Sempre.