Em 2024, as vendas de máquinas agrícolas no país foram prejudicadas pela redução da safra de grãos, pela queda do preço das commodities e pela falta de atratividade das linhas de financiamento. A avaliação é de Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
De acordo com a entidade, foram 48,9 mil unidades de máquinas agrícolas vendidas no ano passado, o que representa queda de 19,8% em relação a 2023. Dentro dessa redução, chamou a atenção a performance de venda das colheitadeiras (-54%), cujo ticket médio é mais alto em relação a tratores de roda.
Mais de 55% das máquinas autopropulsadas são oriundas da China, cuja participação nas Américas dobrou em 2024. Houve aumento na importação do segmento agrícola de 7,7% para 12,7% no intervalo de um ano.
A importação de máquinas, considerando todos os mercados, passou de 9 mil unidades em 2020 para 26,4 mil em 2024. A exportação, no mesmo intervalo, passou de 12,8 mil para 20,6 mil unidades.
Além do argumento da retração da safra de grãos em 2023/24 — 23 milhões de toneladas a menos em comparação à temporada anterior, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) —, Leite chama atenção para a "invasão de máquinas importadas nas compras públicas".
O presidente da Anfavea diz ser contraditório o país ter R$ 1 trilhão anunciado para o PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento) e ao mesmo tempo sofrer "ataque" chinês. Junto ao PAC, ele defende a necessidade de políticas públicas bem equacionadas.
"Linhas de financiamento são um driver absoluto para o mercado de máquinas. Não adianta ter um mercado forte, com crescimento do agronegócio, se a taxa de juros não for atrativa. Sem isso, não conseguimos comercializar máquinas em volumes representativos", afirma.
Márcio de Lima Leite lembra que, em 2012/2013, o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil máquinas vendidas, quando a taxa de financiamento interna se mostrava competitiva em relação a outros países fabricantes. "Não é comparando [a taxa de financiamento] com a Selic, mas com as condições que os consumidores encontram em outros mercados", comenta.
Para 2025, portanto, a agenda prioritária da Anfavea é dialogar com o governo federal sobre condições atrativas de financiamento do Plano Sandra e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para máquinas agrícolas, incluindo novas fontes de crédito.
Diante do cenário atual, a projeção de vendas no atacado para máquinas agrícolas é igual ao resultado do ano passado. Quanto às exportações, a Anfavea espera crescimento de 1%.