Segunda-feira, 24/06/2024 | | |
| "Ninguém prega ESG no deserto", diz Fábio Barbosa, CEO do grupo Natura &Co |
| | Mariana Sgarioni |
| Considerado referência do ESG no Brasil e no mundo, Fábio Barbosa abriu caminho para tudo o que se sabe sobre negócios sustentáveis hoje. As iniciativas implantadas por Barbosa no Banco Real, a partir dos anos 2000, foram escolhidas como objeto de estudo na Harvard Business School e publicadas em artigo, em 2005. Até hoje são utilizadas como estudo. O executivo hoje é CEO da Natura &Co, membro do conselho do ItaúUnibanco, da CBMM (fornecedora de tecnologia de nióbio), da Ambev, do CLP (Centro de Liderança Pública - Brasil) e da Fundação das Nações Unidas. A seguir, ele faz uma análise de sua trajetória e de como está a evolução das práticas sustentáveis no momento. |
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| | | Fábio Barbosa, CEO do grupo Natura&CO | Divulgação |
| Ecoa: Há 25 anos, você estava à frente de um dos maiores bancos do país. E decidiu mudar totalmente a forma de fazer negócios. Por que? Fabio Barbosa: Na época, não existia responsabilidade social, ninguém falava sobre ambiente, nada. Me perguntavam na época: "Mas o que é isso?". Eu dizia: "Não sei, vamos pensar juntos". O que as empresas achavam que responsabilidade social significava apoiar creches, hospitais, escolas. Não é isso. Minha provocação é: o que interessa não é o que a empresa faz fora de seus muros e sim no seu dia a dia. Ser correto dentro do seu negócio e não apenas fora. Imperava a ideia de passar a caneta no cheque e a borracha na consciência. Ecoa: Provavelmente você encontrou muita resistência. Barbosa: No Banco Real, pela primeira vez na história, naquela época, decidimos não financiar uma determinada empresa que cortava madeira indevidamente no Paraná. Fui muito questionado por isso, levantavam a suspeita de que perderíamos negócios. Pois bem. Logo depois disso, apareceu um madeireiro que trabalhava com madeira certificada, um dos únicos no país, disposto a fazer negócios exclusivamente conosco. Você não perde fazendo as coisas certas. Ecoa: Você abriu caminho para muitas ações que hoje vemos nas empresas. Porém, há críticas de que não estamos evoluindo. Barbosa: Eu não concordo. Evoluímos muito nas últimas décadas. Posso concordar que a velocidade desta evolução não é a que gostaríamos. Mas não há dúvidas que evoluímos. Até o McDonald's faz propaganda dizendo que sua carne não é proveniente de áreas desmatadas. Por que você acha que falam isso? Porque é importante para o negócio. Meu ponto é geracional. Se a minha geração não deixou um Brasil melhor aos nossos filhos, ela deixou filhos melhores ao Brasil. Ecoa: E como isso se traduz nos negócios? Barbosa: Quando os jovens vão consumir, eles querem saber se a embalagem do produto é reciclada, qual a origem da matéria-prima, se a empresa se preocupa com diversidade, qual o impacto de carbono. Eles cobram isso das empresas. Isso não é pregar no deserto. Eu não sei fazer projeção de economia, mas demografia eu sei. As pessoas que têm 10 anos hoje terão 20 daqui a 10 anos. E determinarão um novo padrão de consumo. Quem não estiver conectado com estes consumidores vai perder. |
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| | Praia do Cumbe, em Aracati, no Ceará | Arquivo Associação Quilombola do Cumbe |
| A polêmica da energia limpa: eólicas podem privatizar praias? E o mar? |
| Enquanto Luana Piovani e Neymar discutiam nas redes sociais, e o Brasil inteiro acompanhava no Congresso um projeto de lei que poderia liberar a privatização das praias, movimentos de agricultores e povos originários pediam um minuto de atenção. Segundo eles, pode parecer inusitado, mas suas praias foram privatizadas faz tempo. Algumas teriam até catracas para passar. Tudo em nome da energia renovável e limpa. Por falta de uma legislação adequada, parques eólicos teriam instalado, no passado, suas torres gigantes (e barulhentas) em santuários do nosso litoral, em que viviam comunidades pesqueiras, agricultores locais, quilombolas e povos indígenas. Segundo denúncias, estas usinas teriam ocupado o território sem cuidados socioambientais, ora expulsando a população que ali vivia, ora tornando a vida local impraticável e insalubre devido ao forte ruído incessante das torres, muitas vezes fincadas próximas demais às casas. Moradores seriam impedidos de pescar e circular nas praias, que sempre foram de domínio público e a fonte de subsistência local. Há denúncias ainda de desmatamento, destruição da vegetação nativa e poluição de lençois freáticos. Mais do que praias, a geração de energia eólica no Brasil deve ocupar ainda mais espaço nos próximos anos. A ideia agora é partir para o mar: há hoje 97 projetos de parques off shore submetidos ao sistema de licenciamento do Ibama. Se aprovados, teremos 15.500 turbinas eólicas nos mares brasileiros. O foco é a tão sonhada (e necessária) produção de hidrogênio verde. Porém, especialistas alertam que ainda não há estudos conclusivos sobre estes impactos em águas brasileiras, nem um planejamento espacial marinho, como determina a Unesco. Mesmo assim, já estamos em processo de industrialização do mar. |
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| Empresa de detecção precoce de incêndios ajuda a reduzir danos no Pantanal |
| O Pantanal está ardendo. Uma área quatro vezes maior que a cidade de São Paulo já queimou na região somente neste ano. São mais de 9 mil focos de incêndio - quase sete vezes mais do que os registros no mesmo período do ano anterior. As últimas semanas registraram um recorde de queimadas e mostram que a situação está fora de controle. Mas tudo poderia ser ainda pior se não fosse a atuação de uma startup: a umgrauemeio. Desde 2021, a empresa é responsável por um moderno sistema de detecção precoce de pontos de incêndio. Graças ao sistema, até o momento, houve uma redução de 75% do número de incêndios em relação a 2020, quando o fogo também atingiu um patamar recorde na região. Trata-se de um sistema de câmeras instalado em torres giratórias em diversos pontos do território. Estas câmeras detectam e alertam focos de incêndio em até 3 minutos. Antes os focos eram detectados apenas por satélite e demoravam até 3 dias para chegarem aos bombeiros e brigadistas. Por conta desta rapidez, a umgrauemeio já conseguiu reduzir quase 80% do fogo em áreas de monitoramento. A vigilância faz parte do software Pantera, uma solução completa de gestão de incêndio oferecida pela empresa. "Toda ação de incêndio depende de algumas etapas: prevenção, detecção do risco, resposta e análise do impacto. O Pantera emite mapas diários que apontam, por exemplo, quais os riscos de fogo para aquele dia e os próximos", explica Osmar Bambini, CIO e cofundador da umgrauemeio. Atualmente o Pantera já cobre 18 milhões de hectares no Brasil, com 136 pontos de monitoramento. No Pantanal, a empresa integra desde 2022 a iniciativa Abrace o Pantanal, uma parceria do setor privado com organizações locais. A área total de cobertura do Pantera na região é de 2,5 milhões de hectares. |
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| | "Vamos Falar de ESG? - Provocações de um pioneiro em sustentabilidade empresarial" Autor: Ricardo Voltolini Editora Voo O livro reúne artigos escritos por Voltolini, uma das principais referências de consultoria em ESG no Brasil, publicados nos últimos anos. São textos saborosos e elegantes, que trazem para debate os avanços do ESG dentro das empresas, o posicionamento de lideranças frente ao tema, além de análises do autor publicadas durante o período de pandemia. Vale a leitura tanto para quem já é do meio como para quem pretende começar no assunto. |
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