A
alta de roubos que atinge a cidade de São Paulo afeta mais os bairros
pobres que os bairros ricos. Na periferia, moradores estão mudando a
rotina para fugir dos assaltos.
Mulheres
já não vão mais sozinhas aos pontos de ônibus de manhã. Comércio aberto
após as 19h conta com a "caixinha" do assaltante.
Pertences roubados que não têm serventia para o ladrão estão sendo descartados em pontos de desova, já mapeados pelos moradores.
Apu Gomes/Folhapress | ||
Carro deixa mulheres em ponto de ônibus na rua São Caetano do Sul, Grajaú, zona sul |
Os
DPs responsáveis pelas áreas dos dez distritos administrativos mais
pobres da capital registraram juntos, em 2014, 18.972 roubos -aumento de
37% em relação a 2013.
Já
os DPs que cobrem as áreas dos dez distritos mais ricos da cidade
tiveram 15.030 roubos, 19,1% a mais, na mesma comparação (2013-2014).
Na capital como um todo, os roubos subiram 26,5% de um ano para o outro
Em
janeiro deste ano, os roubos na cidade caíram 1,7% em relação a janeiro
de 2014 -após 19 meses seguidos de aumento. Os DPs das dez áreas mais
ricas tiveram queda de 19,1%. Os das dez áreas mais pobres, alta de
6,5%.
AUMENTO DO CONSUMO
"Isso
rompe o mito de que são os ricos que sofrem mais com a violência", diz
Rafael Alcadipani, professor da FGV que pesquisa segurança.
Ele
e o analista criminal Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, afirmam que esses crimes cresceram mais na periferia
porque, hoje, os mais pobres têm mais acesso a bens de consumo -com o
crescimento da renda na última década, 54% da população hoje faz parte
da classe C- e há menos policiais nesses locais.
"Hoje,
o celular também está na mão do pobre. Então, o bandido tem na
periferia um produto caro e com muita saída. E todo mundo sabe que na
periferia tem menos polícia", afirma Mingardi.
Alegando
razões de segurança, a Secretaria da Segurança Pública não informa como
é a distribuição dos policiais pelos bairros da cidade.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress | ||
O
início da manhã, quando centenas de pessoas estão nos pontos de ônibus,
virou horário crítico, segundo moradores. Os alvos são mulheres, cujas
bolsas e celulares são levados por jovens que, normalmente, chegam em
motos. Segundo os moradores, muitos bandidos moram por ali (leia texto
nesta página).
"Eles
pegam a bolsa, arrastam a pessoa, pintam o sete. Este Grajaú não era
assim", diz uma doméstica de 60 anos, que acorda antes das 5h para pegar
o ônibus em direção ao Paraíso, onde trabalha.
No ponto de onde parte o ônibus, na rua São Caetano do Sul, as mulheres chegam a pé sempre em grupos. Muitas são levadas de carro pelos maridos -mesmo as que moram a três quadras dali.
No ponto de onde parte o ônibus, na rua São Caetano do Sul, as mulheres chegam a pé sempre em grupos. Muitas são levadas de carro pelos maridos -mesmo as que moram a três quadras dali.
PONTOS DE DESOVA
No
Itaim Paulista (zona leste), a moradora Beatriz França, 19, teve a
bolsa roubada a caminho do ponto de ônibus, por volta das 6h, por dois
homens aparentemente armados. Após dicas de vizinhos, recuperou a bolsa e
os documentos no córrego Tijuco Preto, a 500 m do local do crime.
Até
o cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista (zona leste), é usado
para esse fim. "Sempre aparece uma carteira ou mochila nos telhados.
Algumas ficam grudadas na cerca em cima do muro", conta o agente de
apoio do cemitério Jorge de Aragão, 52.
Na
região, o córrego que segue a avenida Rio das Pedras é ladeado por
bolsas, malas e cartões de banco. "CNH eu acho sempre, mas o que vou
fazer com isso? Os dias que mais têm são nos fins de semana e depois de
pagamento", diz um catador de lixo.
Abertas
à noite, farmácias na avenida Belmira Marin, no Grajaú, zona sul,
"colecionam" assaltos. Uma foi roubada três vezes em fevereiro, em três
domingos seguidos.
Os
ladrões eram um casal que levava leite, fraldas e o dinheiro do caixa.
Ao assaltar outra farmácia na mesma avenida, pelo quarto domingo, o
homem foi baleado pela PM.
Roubos crescem mais na periferia de São Paulo em Jornal Flit Paralisante
Jornal da Gazeta |
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A favela de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, tem cinco mil
comerciantes. A grande maioria dos pequenos empreendedores ainda aposta
na divulgação boca à boca para vender o serviço ou produto. Alguns se
destacam obtendo sucesso nos negócios graças à força das redes sociais.
Repórter: Luciano Penteado
Repórter: Luciano Penteado