A Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus) ameaçou entrar na Justiça contra o cartunista Vitor Teixeira por conta de uma charge feita pelo artista no início deste mês. Na imagem, um dos 'gladiadores do altar' da igreja aparece matando uma mãe de santo com uma espada.
A
notificação extrajudicial chegou a Teixeira por e-mail, na semana
passada. O documento, assinado pelo jurídico da igreja, diz que "a
propagação da intolerância religiosa feita pelo 'cartunista' precisa ser cessada de forma imediata, de forma que o provedor Notificado deve retirar de imediato a página do ar, sob pena de dano irreparável ou de difícil reparação".
"Não
poderia tirar a página do ar e correr o risco de perder trabalhos. Sou
ilustrador independente e a página já tem um alcance grande", conta
Teixeira. Com medo de perder a fan page, o cartunista afirma que fez um acordo com a Iurd e retirou a charge,
que já contava com mais de 2 milhões de visualizações, de sua página.
Em troca, segundo ele, a igreja desistiria de processá-lo.
Apesar do trato, Teixeira decidiu trazer à tona a ameaça de processo
ao reproduzir a notificação em sua página no Facebook. "É uma questão
de honra. Eles são um império da comunicação - têm TV, jornal e rádio - e
estão falando para uma pessoa independente que ela não pode falar,
atacando um peixe pequeno. É um absurdo", explica.
Vídeos dos gladiadores do altar começaram a circular na internet no início deste mês. As imagens mostravam uma espécie de "exército" da Igreja Universal: jovens uniformizados marcham, batem continência e gritam
"estar prontos para a batalha". A junção de religião com militarismo
ganhou ares de fundamentalismo e, após a repercussão, os vídeos foram
retirados do YouTube.
Em suas ilustrações, Teixeira deixa claro seu apoio às minorias e defende os direitos humanos. O cartunista diz que fez o desenho para "alertar a população de religiões de raiz africana" e avisa: vai continuar fazendo mais charges críticas:
Procurada pela reportagem, a Igreja Universal do Reino de Deus
confirmou o envio da notificação extrajudicial. Por meio de nota, a Iurd
afirmou que quis alertar o cartunista de que "a publicação incitava o
ódio contra as religiões de matriz africana e contra a própria
Universal, o que é vedado pela lei brasileira".
De acordo com a
igreja, o pedido para retirar a página do ar não chegou a ser
encaminhado ao Facebook porque "o autor espontaneamente apagou a
postagem". "Só não é cabível falar em censura e em cerceamento da
liberdade de expressão, pois ele atendeu o pedido de modo voluntário",
completa a nota.