31 março, 2015

Culto noturno atrai jovens com shows, teatro e megafestas.



Com luz baixa, som alto, piscina para batismo e carros de luxo no estacionamento, igreja Lagoinha atrai jovens e lota templo em Charitas.

Sabe aquela imagem tradicional de uma igreja evangélica, onde as paredes são todas brancas e o espaço bem iluminado? Esqueça. Fundada em julho de 2013, a Lagoinha, em Charitas, foge dos padrões, investe na luz baixa, no som alto, no jogo de iluminação e no estilo despojado. E dá certo. Em um ano e oito meses, a igreja já conta com 5.700 fiéis. Só no culto do último domingo à noite, 89 jovens foram batizados, numa dinâmica que mais parece com a de grandes shows internacionais — com piscina, mudança de piso do palco, fotos, vídeos e GoPro. Três mil pessoas lotaram o espaço de dez mil metros quadrados, mesmo com o temporal que atingiu a cidade.
Logo na entrada, nota-se que o ambiente é diferente. Voluntários entregam balas com o logotipo da igreja e, mais adiante, um grande painel se torna parada obrigatória, especialmente para jovens, que não perdem a oportunidade de fazer uma selfie, como é comum na entrada de boates. Moças usam e abusam de maquiagens e saltos altos. Rapazes investem nas camisas polo e nos mais variados estilos de corte de cabelo — alguns coloridos. O próprio pastor Felippe Valadão, de 32 anos, foge do terno e gravata e aposta na calça colorida, mas diz que não existe um foco em atrair mais os jovens:
— Temos aqui fiéis de todas as faixas etárias, famílias inteiras. A ideia, na verdade, era que o espaço fosse frequentado por pessoas que nem pensariam em entrar numa igreja evangélica tradicional. Nada contra, pelo contrário, elas são importantíssimas, mas queríamos mostrar que somos diferentes. A luz baixa é para que as pessoas se concentrem mais durante o culto, para que não fiquem olhando umas para as outras. Apenas isso.
Mas a semelhança com a fachada de boates é inevitável. Tanto que o atual baixista da banda da Lagoinha, Gustavo Moura Ferreira, o Guto, conheceu a igreja por acaso, em novembro de 2013. Ele estava passando de carro quando viu uma grande fila, resolveu entrar e se surpreendeu.
— Na época, eu era usuário de drogas. Estava indo a um morro comprar para usar. Quando vi a fila, não pensei duas vezes. Como liam a Bíblia em smartphones, não parecia ser a entrada de uma igreja. Achei realmente, pelo tamanho, que era uma boate. Entrei, vi tudo lotado, e só quando o pastor começou a falar percebi o que estava acontecendo. Tentei até sair, mas estava tão cheio que acabei ficando. A partir dali me converti. Os R$ 50 que ia usar para comprar drogas doei para a igreja — conta Guto, que no último dia 14 se casou com Alessandra, uma jovem que já frequentava o templo.

A Lagoinha é conduzida pelo pastor Felippe Valadão e pela mulher dele, Mariana. A igreja é tradicional em Belo Horizonte e chegou a Niterói por acaso. Diante de uma crise familiar, o casal decidiu voltar a morar na cidade. Aos poucos, os encontros de oração dentro de casa foram lotando e houve a necessidade de buscar um espaço para receber mais pessoas. A dupla, que não gosta de falar sobre dinheiro, garante que a igreja sobrevive das doações que recebe e que todos que lá trabalham — inclusive eles — são voluntários.
— Não gostamos de tocar nessa questão do dinheiro, tanto que durante o culto eu falo bem rápido sobre a contribuição. Acho que, por isso também, acabamos atraindo mais as pessoas. Não é uma exploração. Temos aqui médicos, advogados, megaempresários que se sentem mais à vontade frequentando a Lagoinha porque não forçamos nada em relação a dinheiro — explica o pastor, informando que o aluguel mensal do espaço gira em volta de R$ 100 mil.

FERRARIS NO ESTACIONAMENTO
A frequência de fiéis de maior poder aquisitivo pode ser notada já no estacionamento. Grande parte das 260 vagas é ocupada por Ferraris, Hondas, Mitsubishis. Figuras conhecidas como o goleiro Jefferson, da seleção e do Botafogo, e o funqueiro MC Leozinho participam dos cultos sempre que podem. Muita gente do Rio, de bairros como Barra da Tijuca, Flamengo e Olaria, comparece aos cinco cultos espalhados na semana — o de sábado à noite é focado nos jovens.
O técnico de segurança Bruno Miguez, morador de Olaria, vai sempre com o carro lotado de amigos e familiares do Rio.
— A cada dia que passa tenho ainda mais vontade de vir — diz ele:
O clima de paquera entre jovens, muitas vezes, é incentivado pelo próprio pastor, no culto.
— O mundo aí fora está muito ruim, muita coisa triste acontecendo. Está solteiro? Venha aos cultos, especialmente ao culto jovem. É aqui que você vai se arrumar. É melhor que os casais se formem aqui dentro, casais de Deus. E nós gostamos de saber quando eles começam a namorar, abençoamos. Já saíram muitos casamentos daqui.

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