Faltavam dez minutos para as seis da tarde quando eu e o fotógrafo Gabriel Quintão chegamos à Igreja de Jesus Lindo e Cheiroso.
A ideia de descobrir a origem do nome no mínimo curioso surgiu durante
uma reunião de pauta, e eu fui escalada para a investigação. A ruazinha
no bairro do Picanço, em Guarulhos, vivia mais uma tarde dominical, com
crianças brincando, vizinhos conversando e mulheres arrumadas caminhando
pela calçada. Quando o táxi estacionou em frente à casa cor-de-laranja,
com aspecto de comércio multifacetado, percebi que ali estava nosso
objeto de estudo.
Tinha combinado com o Gabriel de irmos com trajes “respeitosos”,
afinal, era uma igreja e, embora não seguíssemos nenhuma religião, fomos
criados indo às missas de domingo na católica. Ele foi de camisa, eu,
de saia longa. Porém, ao entrarmos no estabelecimento de esquina,
notamos um clima bem casual. Fomos recebidos pelo Pastor André
e seu casal de filhos. De camisa polo, o jovem rapaz se apresentou e
pediu licença para se aprontar para o culto – vestiu um terno cinza e se
perfumou. Este último hábito seria repetido algumas vezes durante nossa
visita.
Tudo na igreja é perfumado. O chão é ungido antes dos cultos, as
prateleiras possuem uma variedade de frascos de perfume, o altar tem
garrafas com fragrâncias e óleos usados na oração. A esta altura, eu
ainda não sabia o que o perfume teria a ver com Jesus.
Enquanto o pastor fazia a oração inicial, ajoelhado no altar,
observei os detalhes do lugar: na entrada, uma fonte de água com gelo
seco recebia os fiéis. Ao lado, uma lojinha de brindes – ganha-pão da
família em horário comercial – dispunha de eletrônicos, CDs de música
gospel e roupas. Uma televisão ligada reproduzia um DVD de orações, com
vídeos de jovens louvando e dançando.
Foi então que André, ainda orando, se aproximou e me entregou seu celular. Na linha, Missionária Alexandra,
líder da igreja, ligando direto de Imbituba, Santa Catarina, onde deve
abrir uma filial da IEJLC. Minha primeira pergunta foi sobre a origem do
nome tão curioso:
- Um dia, eu estava com muita dor nas costas e comecei a orar. De repente, visualizei Jesus Cristo na minha frente, curando meu sofrimento com um bálsamo. Senti um perfume muito bom e tive vontade de repetir algumas vezes “Jesus, você é lindo e cheiroso”.
A revelação fez com que Alexandra sentisse a necessidade de começar
um ministério para levar o evangelho às pessoas. Há quase oito anos,
decidiu abrir uma igreja que levasse o nome de sua cura, aquele Jesus
perfumado que apareceu em sonho. Como uma pessoa em missão, os
obstáculos a superar foram muitos. A princípio, nem o cartório onde
Alexandra queria registrar a marca queria permitir um nome tão incomum.
“Achavam que era uma brincadeira desrespeitosa”, conta. As outras
igrejas evangélicas também demonstraram preconceito com o nome, e
Alexandra diz ter virado motivo de chacota na internet. “Pregamos o
mesmo evangelho, mostramos o mesmo Jesus que a Bíblia e acreditamos na
cura pelo Senhor. Não entendo por que tantas críticas”, a missionária
desabafa.
Ainda assim, a igreja parece atrair uma legião de fiéis. Edna,
advogada, frequenta os cultos dominicais há dois meses e diz gostar mais
do que a igreja evangélica da qual veio. Durante o culto, músicas
gospel no telão e crianças dançando dão o tom familiar do local,
enquanto o pastor borrifa perfume no ar.
Já na hora de ir embora, fomos convidados a participar de uma oração.
De frente para os fiéis, apresentada como a “jornalista Ana Beatriz”,
tive que contar como fiquei sabendo da igreja em um microfone. Recebi de
volta um coro dando boas vindas a nós, novatos. Então começou a oração:
entre exclamações de “aleluia” e “glória a Deus” dos fiéis, de mãos
erguidas, fomos ungidos e abençoados por André e outra pastora. Segundo
ela, “meu sofrimento estava prestes a acabar” e “alguém especial”
apareceria em minha vida. ¯\_(ツ)_/¯ Saímos de lá com o perfume cheiroso de Jesus em nossas roupas, mãos e cabelo, prontos para enfrentar mais uma semana.
“Aproximou-se
dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor,
e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa”
(Mateus 26:7).
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