in Expresso Diário, 24 Fevereiro 2015
"O
sentido deste número é dizer que 'a vida continua'", explica o
cartonista Riss, do jornal satírico francês, que retoma esta
quarta-feira as suas edições semanais. Na nova edição do "Charlie Hebdo"
há cartoons sobre os atentados de Copenhaga e sobre o julgamento de
Strauss-Kahn, a par de uma entrevista ao novo ministro das Finanças
grego, Yanis Varoufakis. "Nova partida" é a legenda do cartoon
de capa da nova edição do jornal satírico francês, que sai para as
bancas esta quarta-feira, com "Charlie Hebdo" a surgir como um cachorro a
fugir de uma matilha raivosa, cuja linha da frente integra o antigo
Presidente francês Nicolas Sarkozy e a líder da Frente Nacional, Marine
Le Pen, logo seguidos pelo Papa Francisco e por um jiadista com uma
Kalashnikov na boca.
"O sentido deste número é dizer que 'a vida
continua'", explica o cartoonista Riss em declarações ao jornal
"Libération", nas instalações do qual a equipa editorial do "Charlie
Hebdo" está provisoriamente a funcionar, em sequência dos atentados dos
dois irmãos radicais islâmicos que a 7 de janeiro mataram 12 elementos
da equipa em Paris.
A edição número 1179 do jornal, que sai esta
quarta-feira para as bancas com uma tiragem de 2,5 milhões de
exemplares, assinala o regresso da publicação à sua periodicidade
semanal.
"Nós precisávamos de uma pausa, de um descanso... Havia
aqueles que precisavam de voltar logo a trabalhar, como eu, e aqueles
que queriam ter mais tempo (...). De modo que chegámos a um compromisso e
concordámos na data de 25 de fevereiro para recomeçar numa base
semanal", afirma o novo diretor da publicação satírica Gérard Biard, em
declarações à televisão France 24. O anterior diretor, Charb, foi uma
das vítimas do aataque terrorista.
Após os atentados, o jornal
lançou apenas uma edição, que ficou conhecida como "o número dos
sobreviventes", apresentando na capa um cartoon de Maomé a segurar um
cartaz a dizer "Eu Sou Charlie", a frase que foi usada em manifestações
em diversos pontos do mundo, em memória das vítimas dos atentados e em
defesa da liberdade de imprensa.
Esse número especial contou com
uma tiragem total de oito milhões de cópias (a tiragem anterior era de
apenas 60 mil), criando novas tensões e ameaças vindas de grupos de
radicais islâmicos.
O incontornável extremismo
O extremismo volta a estar em destaque neste novo número, que inclui
cartoons sobre os recentes atentados de Copenhaga, conforme frisara
Biard.
"Depois de Copenhaga, nós seremos forçados a voltar a
falar nisso (...). É tão relevante como antes. Eu sei que alguns dirão
que nós estamos obcecados, mas não somos nós que estamos obcecados
(...). São aqueles que criam as notícias que são os obcecados. E esses
que as criam são terroristas", afirmou.
"Mas há também Dominique
Strauss-Kahn, nós temos sorte em tê-lo", acrescentou o diretor do
"Charlie Hebdo", em referência ao ex-diretor do FMI, cujo corrente
julgamento por proxenetismo está também em foco nesta edição, que conta
ainda com uma entrevista ao novo ministro das Finanças grego, Yanis
Varoufakis.
"Neste número, nós estamos a recomeçar. Os funerais
tiveram lugar, nós temos de o fazer com a falta dos outros, e isso é o
que é difícil", disse por seu turno o colunista Patrick Pelloux, numa
entrevista televisiva.
Com a redação reduzida, o jornal recorreu à
ajuda de outros desenhadores, entre os quais Pétillon, do semanário
satírico "Canard Enchaîné".
Mais de 10 mil polícias e militares
franceses continuam a assegurar as medidas especiais de segurança em
locais que são considerados potenciais alvos, como escolas judaicas,
locais turísticos e órgãos de comunicação social, "Charlie Hebdo"
incluído, obviamente, cujos colaboradores se encontram sob medidas de
proteção especiais.
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Saúde, Sorte e $uce$$o: Sempre.
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