08 março, 2015

Eu Adoro quem não se curva!!!




in Expresso Diário, 24 Fevereiro 2015

"O sentido deste número é dizer que 'a vida continua'", explica o cartonista Riss, do jornal satírico francês, que retoma esta quarta-feira as suas edições semanais. Na nova edição do "Charlie Hebdo" há cartoons sobre os atentados de Copenhaga e sobre o julgamento de Strauss-Kahn, a par de uma entrevista ao novo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis.

"Nova partida" é a legenda do cartoon de capa da nova edição do jornal satírico francês, que sai para as bancas esta quarta-feira, com "Charlie Hebdo" a surgir como um cachorro a fugir de uma matilha raivosa, cuja linha da frente integra o antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy e a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, logo seguidos pelo Papa Francisco e por um jiadista com uma Kalashnikov na boca.

"O sentido deste número é dizer que 'a vida continua'", explica o cartoonista Riss em declarações ao jornal "Libération", nas instalações do qual a equipa editorial do "Charlie Hebdo" está provisoriamente a funcionar, em sequência dos atentados dos dois irmãos radicais islâmicos que a 7 de janeiro mataram 12 elementos da equipa em Paris.

A edição número 1179 do jornal, que sai esta quarta-feira para as bancas com uma tiragem de 2,5 milhões de exemplares, assinala o regresso da publicação à sua periodicidade semanal.

"Nós precisávamos de uma pausa, de um descanso... Havia aqueles que precisavam de voltar logo a trabalhar, como eu, e aqueles que queriam ter mais tempo (...). De modo que chegámos a um compromisso e concordámos na data de 25 de fevereiro para recomeçar numa base semanal", afirma o novo diretor da publicação satírica Gérard Biard, em declarações à televisão France 24. O anterior diretor, Charb, foi uma das vítimas do aataque terrorista.

Após os atentados, o jornal lançou apenas uma edição, que ficou conhecida como "o número dos sobreviventes", apresentando na capa um cartoon de Maomé a segurar um cartaz a dizer "Eu Sou Charlie", a frase que foi usada em manifestações em diversos pontos do mundo, em memória das vítimas dos atentados e em defesa da liberdade de imprensa.

Esse número especial contou com uma tiragem total de oito milhões de cópias (a tiragem anterior era de apenas 60 mil), criando novas tensões e ameaças vindas de grupos de radicais islâmicos.

O incontornável extremismo 

O extremismo volta a estar em destaque neste novo número, que inclui cartoons sobre os recentes atentados de Copenhaga, conforme frisara Biard.

"Depois de Copenhaga, nós seremos forçados a voltar a falar nisso (...). É tão relevante como antes. Eu sei que alguns dirão que nós estamos obcecados, mas não somos nós que estamos obcecados (...). São aqueles que criam as notícias que são os obcecados. E esses que as criam são terroristas", afirmou.

"Mas há também Dominique Strauss-Kahn, nós temos sorte em tê-lo", acrescentou o diretor do "Charlie Hebdo", em referência ao ex-diretor do FMI, cujo corrente julgamento por proxenetismo está também em foco nesta edição, que conta ainda com uma entrevista ao novo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis.

"Neste número, nós estamos a recomeçar. Os funerais tiveram lugar, nós temos de o fazer com a falta dos outros, e isso é o que é difícil", disse por seu turno o colunista Patrick Pelloux, numa entrevista televisiva.

Com a redação reduzida, o jornal recorreu à ajuda de outros desenhadores, entre os quais Pétillon, do semanário satírico "Canard Enchaîné".

Mais de 10 mil polícias e militares franceses continuam a assegurar as medidas especiais de segurança em locais que são considerados potenciais alvos, como escolas judaicas, locais turísticos e órgãos de comunicação social, "Charlie Hebdo" incluído, obviamente, cujos colaboradores se encontram sob medidas de proteção especiais.


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