(Foto: Dilok Klaisataporn/Getty Images)
O que esperar em 2025 2024 começou com otimismo, com a sensação de que o pior já havia passado e podíamos esperar um ano mais estável, com o mercado se reaquecendo. Mas, se os números até novembro mostram a recuperação — as startups brasileiras registraram o maior volume de investimento em três anos, US$ 2,34 bilhões —, o cenário macroeconômico ainda causou impactos, principalmente pela retomada no crescimento da taxa de juros e pela alta do dólar, que bateu recorde na cotação.
“Havia expectativa de retomada maior no segundo semestre, com IPO, juros em queda mais acelerada, mas o que temos visto é diferente. Temos uma perspectiva mais desafiadora para impulsionar a movimentação do ecossistema de startups. Essa tendência deve continuar em 2025. Há sinalização para aumento da Selic, o câmbio não tem expectativa de melhora — e muitos fundos aportam em dólar”, destaca Priscila Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).
A postura de maior diligência para investimentos deve continuar em 2025, apesar de os fundos ainda estarem com capital disponível para alocação (dry powder). Rodrigues ressalta que não há tanta competição pelos deals e que os patamares de valuation estão mais normalizados. “Agora é um bom vintage para quem tem dinheiro. Os empreendedores têm bons modelos de negócios. O ecossistema esteve mais parado em 2023, agora já vemos transações, fundos fazendo suas diligências, mas ainda estão seletivos na alocação”, pontua.
Edson Rigonatti, sócio-fundador da Astella, diz que 2024 foi um ano atípico para a gestora, que optou por fazer apenas reinvestimentos em startups do seu portfólio, sem aportes em novos negócios. “Estamos esperando mais. Antes investimos em pré-seed e seed, e agora preferimos entrar em rodadas seed e Série A para esperar mais maturidade das empresas. Também achamos que alguns valuations ainda estão caros”, comenta. A expectativa é fazer entre cinco e seis investimentos em 2025, com o dry powder do fundo 5 durando até o primeiro semestre de 2026.
“A qualidade das startups tem aumentado vertiginosamente. São empreendedores de segunda ou terceira viagem, com um sonho maior, um time melhor. Tenho uma perspectiva de otimismo a longo prazo. 2024 e 2025 no Brasil devem ser equivalentes a Israel em 2008 e 2009, anos em que começaram a investir mais em empreendedores de segunda viagem e veio o ponto de inflexão do mercado. É super empolgante”, opina Rigonatti.
Para Rodrigues, a configuração do cenário macroeconômico aponta que os unicórnios seguirão raros neste ano. Com juros altos, os investidores são mais receosos. E, como a métrica é conectada ao valuation, se não houver novas grandes rodadas, as startups próximas do título ficam sem a nova avaliação de mercado. Em 2024, apenas uma startup brasileira conquistou o título após ultrapassar o valuation de US$ 1 bilhão, a fintech QI Tech.
“O Brasil não deixou de ser atrativo na criação de modelos de negócio com potencial de ser unicórnio, somos vistos como player global. Mas, no mundo inteiro, os unicórnios serão as startups que realmente mostram que o valor é o que elas têm dentro da companhia e não apenas uma expectativa de futuro, então pode ser mais lento para acontecer”, aponta.
Para os especialistas, a janela de IPOs deve seguir fechada em 2025. A abertura de capital na bolsa é uma opção de saída para os investidores, que recuperam o capital aportado com a valorização da startup ao longo dos anos. Sem essa possibilidade, as saídas acontecem por M&A ou venda da participação para outros fundos e investidores.
“A bolsa brasileira não está cara em dólares, mas o aumento da taxa de juros faz com que o resultado das companhias listadas seja afetado nos próximos anos. O mercado vê um bom preço, mas acredita que pode cair mais. O capital está com tempo para ser paciente. O desafio principal é atração de capital estrangeiro e, para isso, precisamos fazer rodadas maiores, com liquidez diária de milhões de dólares. R$ 500 milhões não são nem US$ 100 milhões. Fundos globais, como Blackrock e Fidelity, não querem fazer cheques pequenos”, opina Rodrigues.
Rigonatti e Rodrigues acreditam que as fintechs devem continuar se destacando. Para o sócio da Astella, fintechs de serviço e de soluções para pequenas e médias empresas devem despontar. “Esse parece ser o grande talento brasileiro, nas mais diversas funcionalidades e setores. É um celeiro gigantesco”, afirma.
A inteligência artificial também se apresenta como oportunidade para novas startups em 2025. “Incumbentes não foram criados com uma mentalidade orientada para a IA, estamos vendo uma série deles tentando acoplar a tecnologia em suas soluções. Isso abre uma oportunidade sem precedentes para novos entrantes trazerem soluções disruptivas ao mercado. Estou animado com soluções tanto verticais quanto horizontais, principalmente na camada da aplicação”, diz Philip Trauer, diretor-gerente de Wayra Brasil e Vivo Ventures.
A dica de Rodrigues para os empreendedores é focar no modelo de negócios. “O Brasil sempre é volátil e cíclico. Nunca existe momento perfeito para começar a empreender. Conheça os desafios que existem hoje e saiba como se adequar. Se o modelo de negócios estiver redondo, atender realmente o cliente, vai ser atrativo para o investidor”, pontua.
Rigonatti concorda: o foco não deve estar no que o investidor vai querer – a indústria de venture capital deve ser vista como um facilitador e não o motivo para empreender. “Dá para criar coisas incríveis com nenhum ou pouco dinheiro. O foco é criar grandes negócios e usar o capital de risco para acelerar, sem depender dessa indústria para dizer como fazer e quando fazer”, finaliza. |