A petição não é recente, ela é de 1959, e o autor do “poema” é o advogado (já falecido) Afif Jorge Simões Filho que defende um agricultor que “desceu o braço” na esposa. É interessante verificar como os costumes mudam, pois se hoje um advogado faz uma petição nestes moldes (em relação à tese de defesa) a galera o apedreja em praça pública por fazer apologia à violência e etc.
Mais uma cena de briga,Entre um casal de campanha.Mais um marido que espanca,Mais uma esposa que apanha.O réu espancou a esposa,Porque esta, na sua ausência,Fez uma conta compridaNo bodegão da Querência.Ao regressar da empreitada,Todo saudoso e folheiro,Caiu de costas ao verAs notas do bodegueiro.Eram brincos e tetéias,Riscado, lenço e chapéu,Para os parentes da esposa,Tudo por conta do réu.Como da plata que trouxeNão lhe sobrasse um vintém,Egídio exemplou a esposa,E, agindo assim, agiu bem.Quem de nós não quis um dia,Com a esposa gastadeira,Fazer o mesmo que fez,O réu Egídio Siqueira.É bruto cortar arroz,Metido no lodaçal,E deixar todo o salárioNo bolicho do Sinval.Tá certo que se gastasseCom erva, farinha e pão,Mas não com brincos de orelhaE coisas sem precisão.Mas a esposa arrependeu-se,Conforme disse ao depor,De haver trazido à JustiçaO marido espancador.Se ela se diz conformada,E arrependida da queixa,Não vamos dizer: ‘prossegue’Quando ela mesma diz: ‘deixa’.Pobre réu. Estou convictoDe sua santa inocência.Mas que aproveite a aprendaEsta lição de experiência.Se outra vez surrar a esposa(Este é o pedido que eu faço),Que surre de manso e de leve,Sem deixar sinal do laço.Ou então que surre forte,Com toda força e vontade,De modo que ela nem possaVir dar parte na cidade.