02 agosto, 2014

Bairro sustentável priorizará pedestres e ciclistas

Rio Grande do Sul terá primeiro bairro certificado com o selo 'Leed for Neighborhood Development'.
A proposta foi projetada pelo arquiteto Jaime Lerner, referência no planejamento urbano com experiência em Curitiba.
Um bairro para uma comunidade de 10 mil habitantes, onde tudo possa ser feito a pé ou bicicleta, deverá começar a ser construído em Pelotas, no Rio Grande do Sul, ainda em 2014. O conceito do projeto, que prevê também prédios ambientalmente corretos com consumo reduzido de água e luz, busca garantir tudo o que uma pessoa necessita em um raio de 400 metros.
"É possível criar ilhas de sustentabilidade dentro das cidades. As pessoas podem morar, trabalhar e viver em um só lugar. Em um raio de 400 metros, elas podem ir ao trabalho, ao supermercado, ao cabeleireiro, à padaria, à lavanderia... a tudo!", afirmou ao jornal Zero Hora o diretor de um dos escritórios de engenharia responsáveis pelo projeto, Claudio Teitelbaum.
A proposta foi projetada pelo arquiteto Jaime Lerner, referência no planejamento urbano com a experiência de Curitiba, cidade que governou ao longo de três mandatos.
Por isso, o bairro, batizado de Quartier, não será só residencial. As 3 mil unidades habitacionais deverão ter, no térreo, lojas comerciais. Estão previstos, inclusive, um shopping de rua, um hotel de luxo e um palco coberto de grama para espetáculos ao ar livre. E o que tem de verde em tudo isso?
Primeiro, o próprio projeto. O bairro será o primeiro do Rio Grande do Sul a ser certificado pela organização US Green Building Council (GBC) por meio do selo "Leed for Neighborhood Development (Leed), que comprova que o bairro é sustentável.
O título só é concedido se o empreendimento cumpre uma série de determinações: ter boa localização, priorizar transportes alternativos, preservar a natureza, ter construções com consumo reduzido de água e energia, ser um misto de residências, comércio e serviços em que tudo possa ser feito a pé, e fomento ao progresso local.
O investimento inicial é de R$ 40 milhões (mas deve chegar a R$ 2 bilhões ao longo de oito anos). Já o preço de cada apartamento ou área comercial ainda não foi definido. O bairro Quartier deverá começar a receber terraplanagem e instalações elétricas até o fim deste ano e ficar inteiramente pronto dentro de dez anos.
Pelotas foi escolhida para sediar o que o escritório de engenharia classifica como "primeiro projeto de muitos" por causa da expansão do polo naval de Rio Grande (cidade ao sul do estado), entre outros fatores. O empreendimento ficará dentro do bairro Três Vendas.
Cada construção tem especificidades para atender ao propósito de ser sustentável. Confira algumas diretrizes:
Energia: O projeto prevê a instalação de placas solares no teto dos prédios ou uma estação de produção de energia eólica. As lâmpadas deverão ser todas de LED, mais econômicas que as comuns. Com isso, a conta de luz pode sair até 40% mais barata para os moradores.
Água: Cada prédio terá um reservatório para a água da chuva. O acumulado poderá ser usado para tudo, menos nos usos que necessitem de água potável, como beber e cozinhar. Além disso, haverá opção de consumo reduzido em torneiras, mictórios e sanitários — cada um terá duas opções de descarga, com dois botões: um para três litros e outro para seis litros. As medidas podem gerar redução de 30% na conta de água de cada morador.
Temperatura: Uma malha de garrafas pet, instalada entre a parede interna dos apartamentos e a fachada do prédio, manterá a temperatura quente no inverno e fria no verão. O controle também é mantido com telhados e paredes verdes, de grama. Economia de 25% a 30% no uso do ar condicionado.

Construção civil: Toda madeira usada nos prédios deverá ser certificada, evitando a compra de material retirado de forma ilegal do meio ambiente, e com garantia de reflorestamento. Na compra dos materiais, será levado em conta o critério de regionalidade: quanto mais perto for adquirido, menor será a emissão de gases por conta do transporte. Além disso, os compostos utilizados na obra deverão ter conteúdos recicláveis nas suas fórmulas.

Conheça como devem ser as áreas comuns: Além das normas que cada prédio deve seguir, também existem padrões nas áreas comuns, que o empreendimento vai oferecer. Conheça as estruturas comunitárias:

Descarte de lixo: O lixo deverá ser separado em orgânico, metal, papel, plástico e eletrônico. Os resíduos das coletoras localizadas nas vias públicas do bairro serão levados a uma central de reciclagem própria.

Esgoto:Estação de tratamento de esgoto deverá abastecer todo o bairro com fornecimento de água de reuso — de chuva.

Área verde: Dos 30 hectares do bairro, dez serão de mata, que se transformará em parque com deques, trilhas, ciclovias, academia ao ar livre, quadras poliesportivas e playgrounds. As plantas escolhidas serão uma mistura das nativas com espécies que precisam de pouca água. O sistema de irrigação terá sensores, instalados no chão, que ligarão torneiras para distribuir somente o necessário para desenvolvimento das espécies.

Transporte: As vias serão projetadas para dar prioridade a pedestres e ciclistas. Os postes de luz nas ciclofaixas serão mais baixos que os usados nas vias dos carros, cuja velocidade máxima será de 30 km/h.

Clima: Para ajudar a manter o "microclima mais agradável para a região", como explica o engenheiro civil e diretor técnico da Sustentech Marcos Casado, serão criadas lagoas no bairro. Outra medida para evitar a absorção do calor será a cor do chão, todo claro.

Ruas: As vias internas serão de concreto, em vez de asfalto, porque o material é permeável, favorece a infiltração da água no solo, leva menos água da chuva para a rede municipal de esgoto e, assim, evita alagamentos. Além de o concreto ser de cor clara, o que reduz a sensação de calor, e ter durabilidade maior do que a do asfalto.
 
Eco Desenvolvimento