Rio Grande do Sul terá primeiro bairro certificado com o selo 'Leed for Neighborhood Development'.
A proposta foi projetada pelo arquiteto Jaime Lerner, referência no planejamento urbano com experiência em Curitiba.
Um
bairro para uma comunidade de 10 mil habitantes, onde tudo possa ser
feito a pé ou bicicleta, deverá começar a ser construído em Pelotas, no
Rio Grande do Sul, ainda em 2014. O conceito do projeto, que prevê
também prédios ambientalmente corretos com consumo reduzido de água e
luz, busca garantir tudo o que uma pessoa necessita em um raio de 400
metros.
"É
possível criar ilhas de sustentabilidade dentro das cidades. As pessoas
podem morar, trabalhar e viver em um só lugar. Em um raio de 400
metros, elas podem ir ao trabalho, ao supermercado, ao cabeleireiro, à
padaria, à lavanderia... a tudo!", afirmou ao jornal Zero Hora o diretor de um dos escritórios de engenharia responsáveis pelo projeto, Claudio Teitelbaum.
A
proposta foi projetada pelo arquiteto Jaime Lerner, referência no
planejamento urbano com a experiência de Curitiba, cidade que governou
ao longo de três mandatos.
Por
isso, o bairro, batizado de Quartier, não será só residencial. As 3 mil
unidades habitacionais deverão ter, no térreo, lojas comerciais. Estão
previstos, inclusive, um shopping de rua, um hotel de luxo e um palco
coberto de grama para espetáculos ao ar livre. E o que tem de verde em
tudo isso?
Primeiro,
o próprio projeto. O bairro será o primeiro do Rio Grande do Sul a ser
certificado pela organização US Green Building Council (GBC) por meio do
selo "Leed for Neighborhood Development (Leed), que comprova que o
bairro é sustentável.
O
título só é concedido se o empreendimento cumpre uma série de
determinações: ter boa localização, priorizar transportes alternativos,
preservar a natureza, ter construções com consumo reduzido de água e
energia, ser um misto de residências, comércio e serviços em que tudo
possa ser feito a pé, e fomento ao progresso local.
O
investimento inicial é de R$ 40 milhões (mas deve chegar a R$ 2 bilhões
ao longo de oito anos). Já o preço de cada apartamento ou área
comercial ainda não foi definido. O bairro Quartier deverá começar a
receber terraplanagem e instalações elétricas até o fim deste ano e
ficar inteiramente pronto dentro de dez anos.
Pelotas
foi escolhida para sediar o que o escritório de engenharia classifica
como "primeiro projeto de muitos" por causa da expansão do polo naval de
Rio Grande (cidade ao sul do estado), entre outros fatores. O
empreendimento ficará dentro do bairro Três Vendas.
Cada construção tem especificidades para atender ao propósito de ser sustentável. Confira algumas diretrizes:
Energia: O
projeto prevê a instalação de placas solares no teto dos prédios ou uma
estação de produção de energia eólica. As lâmpadas deverão ser todas de
LED, mais econômicas que as comuns. Com isso, a conta de luz pode sair
até 40% mais barata para os moradores.
Água: Cada
prédio terá um reservatório para a água da chuva. O acumulado poderá
ser usado para tudo, menos nos usos que necessitem de água potável, como
beber e cozinhar. Além disso, haverá opção de consumo reduzido em
torneiras, mictórios e sanitários — cada um terá duas opções de
descarga, com dois botões: um para três litros e outro para seis litros.
As medidas podem gerar redução de 30% na conta de água de cada morador.
Temperatura: Uma
malha de garrafas pet, instalada entre a parede interna dos
apartamentos e a fachada do prédio, manterá a temperatura quente no
inverno e fria no verão. O controle também é mantido com telhados e
paredes verdes, de grama. Economia de 25% a 30% no uso do ar
condicionado.
Construção civil: Toda
madeira usada nos prédios deverá ser certificada, evitando a compra de
material retirado de forma ilegal do meio ambiente, e com garantia de
reflorestamento. Na compra dos materiais, será levado em conta o
critério de regionalidade: quanto mais perto for adquirido, menor será a
emissão de gases por conta do transporte. Além disso, os compostos
utilizados na obra deverão ter conteúdos recicláveis nas suas fórmulas.
Conheça como devem ser as áreas comuns: Além
das normas que cada prédio deve seguir, também existem padrões nas
áreas comuns, que o empreendimento vai oferecer. Conheça as estruturas
comunitárias:
Descarte de lixo: O
lixo deverá ser separado em orgânico, metal, papel, plástico e
eletrônico. Os resíduos das coletoras localizadas nas vias públicas do
bairro serão levados a uma central de reciclagem própria.
Esgoto:Estação de tratamento de esgoto deverá abastecer todo o bairro com fornecimento de água de reuso — de chuva.
Área verde: Dos
30 hectares do bairro, dez serão de mata, que se transformará em parque
com deques, trilhas, ciclovias, academia ao ar livre, quadras
poliesportivas e playgrounds. As plantas escolhidas serão uma mistura
das nativas com espécies que precisam de pouca água. O sistema de
irrigação terá sensores, instalados no chão, que ligarão torneiras para
distribuir somente o necessário para desenvolvimento das espécies.
Transporte: As
vias serão projetadas para dar prioridade a pedestres e ciclistas. Os
postes de luz nas ciclofaixas serão mais baixos que os usados nas vias
dos carros, cuja velocidade máxima será de 30 km/h.
Clima: Para
ajudar a manter o "microclima mais agradável para a região", como
explica o engenheiro civil e diretor técnico da Sustentech Marcos
Casado, serão criadas lagoas no bairro. Outra medida para evitar a
absorção do calor será a cor do chão, todo claro.
Ruas: As
vias internas serão de concreto, em vez de asfalto, porque o material é
permeável, favorece a infiltração da água no solo, leva menos água da
chuva para a rede municipal de esgoto e, assim, evita alagamentos. Além
de o concreto ser de cor clara, o que reduz a sensação de calor, e ter
durabilidade maior do que a do asfalto.
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