Edson Roberto Codato tem 51 anos e construiu um triciclo e uma moto.
Ele também disse que já sofreu preconceito por causa da aparência.
Alan Schneider Do G1 Bauru e Marília
Padre Edson estacionou o triciclo na garagem da igreja da Paróquia São Bras (Foto: Alan Schneider/G1)
O padre Edson Roberto Codato, de 51 anos, é muito conhecido em Bauru (SP)
não só pelos fiéis da paróquia São Bras, no Núcleo Gasparini, mas
também pelos apaixonados por motos e triciclos. Integrante fundador do
motoclube ‘ByCoda’s do Asfalto’ e com uma irreverência de dar inveja,
padre Edson afirma que para aliar as funções dentro da igreja e em cima
do veículo, a batina, às vezes, cheira gasolina.
Ele construiu o triciclo em um ano e dois meses
(Foto: Alan Schneider/G1)
(Foto: Alan Schneider/G1)
“Tem
dia que chego para celebrar a missa com a batina cheirando gasolina.
Isso acontece. Faz parte porque às vezes, no atropelo, que a gente acaba
tendo que se desdobrar e, realmente, o cheiro da gasolina acaba se
tornando um pouco o cheiro da gente. Mas, é um cheiro do bem e não da
maldade”, disse o pároco, que usa um capacete com a mesma cor da batina.
A
moto começou a fazer parte da vida de Edson há 20 anos, quando saiu de
Bauru como padre para ensinar a palavra de Deus no sertão da Bahia.
“Depois que ordenei por seis anos em Bauru, fui para a Bahia. A paixão
com a moto surgiu mais da necessidade. Gostava de moto só que não tinha.
Fui para a Bahia, consegui uma moto doada. Era o único padre que
gostava de moto. Com as estradas ruins, a necessidade era maior de usar a
moto e comecei a pegar mais amor pela coisa”, lembrou.
Alguns anos mais tarde, padre Edson foi transferido para Passos,
em Minas Gerais. E foi lá que a moto entrou de vez em sua rotina.
“Comecei a fazer parte e ajudei a fundar o motoclube ‘ByCoda’s do
Asfalto’. Ai veio aquele negócio: eu preciso ter uma moto também”,
enfatizou.
Sem
dinheiro, ele usou as técnicas que apreendeu aos 16 anos em um curso de
mecânica do Senai para construir a própria moto, ou melhor, um
triciclo. “Não queria ter uma motinha, queria uma moto grande. Quer
saber de uma coisa? Dinheiro pra comprar uma moto eu não tenho. Então,
vou ter que fazer a minha. E fiz o meu triciclo há 10 anos. Já andei 50
mil km com ele”, explicou.
O
triciclo levou um ano e dois meses para ficar pronto e, até hoje,
recebe vários acessórios. Além do triciclo, padre Edson também já montou
uma Styllus Chopper 450. Convidado nos anos 2000 para retornar a Bauru,
ele disse que engatou a moto atrás do triciclo e pegou a estrada rumo
ao Centro-Oeste Paulista. “Construí os dois veículos usando pedaços de
outros. Peça por peça. Deixei a oficina em Passos, mas voltei a Bauru
dirigindo o triciclo com a moto no engate.”
Com traje de motociclista, padre Edson em momento de reflexão no altar da igreja Foto: Alan Schneider/G1)
Peregrinação na estrada
Além de participar de vários eventos de motoclubes pelo país e de celebrar missas aos fiéis do Núcleo Gasparini e do distrito de Tibiriça, padre Edson sempre relacionou a vontade de andar de moto com a religião. Tanto é que ele integra a “Pastoral da Estrada” com a finalidade de evangelizar as pessoas que vivem nas rodovias. “Buscamos evangelizar as pessoas que estão afastadas de Deus, da Igreja. E na estrada encontramos muitas. É uma grande satisfação ter essa missão cumprida. Você saber que está na estrada para evangelizar. E quando você celebra uma missa diferenciada, especiais, com liturgia diferenciada, as pessoas veem até você, debruçam, choram no seu ombro. É recompensador”, contou.
Além de participar de vários eventos de motoclubes pelo país e de celebrar missas aos fiéis do Núcleo Gasparini e do distrito de Tibiriça, padre Edson sempre relacionou a vontade de andar de moto com a religião. Tanto é que ele integra a “Pastoral da Estrada” com a finalidade de evangelizar as pessoas que vivem nas rodovias. “Buscamos evangelizar as pessoas que estão afastadas de Deus, da Igreja. E na estrada encontramos muitas. É uma grande satisfação ter essa missão cumprida. Você saber que está na estrada para evangelizar. E quando você celebra uma missa diferenciada, especiais, com liturgia diferenciada, as pessoas veem até você, debruçam, choram no seu ombro. É recompensador”, contou.
Com o estilo motociclista no “sangue”, o pároco precisou atender ao celular durante a entrevista aoG1. Detalhe: uma das músicas ícones do rock’n'roll, Born to be wild, é o toque principal do aparelho.
Preconceito
Padre Edson afirmou também que já sofreu preconceito por causa de sua aparência. Ele, inclusive, lembrou uma situação. “Sofri preconceito quando morava na Bahia pelo fato de ter esse estereótipo mais despachado. Quando viajava da Bahia para São Paulo ou para Bauru, no começo me achava um cara de muita sorte porque sempre viajava sozinho no ônibus. Depois comecei a perceber que não era sorte. Era preconceito. E durante as viagens comecei a conversar com as pessoas, que quando sabiam que era padre. Poxa, era um marginal e, de repente, parecia Jesus. Foi um pulinho. Lá eu sofri.”
Padre Edson afirmou também que já sofreu preconceito por causa de sua aparência. Ele, inclusive, lembrou uma situação. “Sofri preconceito quando morava na Bahia pelo fato de ter esse estereótipo mais despachado. Quando viajava da Bahia para São Paulo ou para Bauru, no começo me achava um cara de muita sorte porque sempre viajava sozinho no ônibus. Depois comecei a perceber que não era sorte. Era preconceito. E durante as viagens comecei a conversar com as pessoas, que quando sabiam que era padre. Poxa, era um marginal e, de repente, parecia Jesus. Foi um pulinho. Lá eu sofri.”
Padre já andou cerca de 50 mil km com o triciclo
(Foto: Alan Schneider/G1)
(Foto: Alan Schneider/G1)
Para
o “padre motociclista”, a religião tem várias maneiras de evangelizar,
independentemente da cara e do corte de cabelo. “Sou padre. Celebro como
qualquer outro padre da igreja Católica Apostólica Romana. Só que eu
gosto de moto. E uso a moto como uma ferramenta para evangelizar as
pessoas que muitas vezes estão afastadas da igreja por algum motivo. E
eu consigo aproximar essas pessoas exatamente pelo jeito de
evangelizar”, disse.
Dentro
da igreja e nos eventos de motoclubes, ele informou que jamais sofreu
discriminação. “Meus fiéis me aceitam do jeito que sou carinhosamente e
vários começaram a gostar de moto por causa de mim. Alguns fieis vão aos
encontros de moto e tocam nas missas. Já no motoclube sempre se espanta
um pouquinho, porque eles concebem a ideia de um padre, com jeito de
padre, cara de padre, roupa de padre. A princípio o pessoal assusta, mas
depois quando você começa a conversar um pouquinho, já se derrete, vira
amigo de infância e quer tirar uma foto pra mandar para a mãe.”
O
padre avisou que suas missas são diferenciadas. E citou uma comparação.
“Existe o médico. Só que cada médico tem uma especialidade. Um cuida do
joelho, outro do coração, do pé. É importante a gente perceber que
dentro da igreja também tem suas diversidades. Todos são padres, mas
cada um tem uma vocação específica. Tem padre que cuida da saúde, dos
camilianos, e eu, sou um padre que escolhi evangelizar a estrada, os
motociclistas. Não sou uma andorinha sozinha, existem outros com a mesma
vocação. É onde me encontrei, me sinto bem e consigo me realizar”.
Despesas
Uma vez por semana, os motociclistas da turma do padre Edson fazem um churrasco beneficente para ajudar nas despesas da “Pastoral da Estrada” e da Paróquia São Bras.
Uma vez por semana, os motociclistas da turma do padre Edson fazem um churrasco beneficente para ajudar nas despesas da “Pastoral da Estrada” e da Paróquia São Bras.
“Toda quinta-feira a gente se reúne em uma concessionária de Bauru. O
pessoal leva carne para assar e a paróquia entra com o bar, com cerveja,
refrigerante e água. A renda é revertida para a paróquia. A minha
paróquia é de periferia, pobre. A gente acaba complementando o que falta
para construir algumas coisas dentro da igreja”, informou.
São pessoas que
sabem da causa. O encontro é beneficente para ajudar a ‘Pastoral da
Estrada’. Todos estão convidados. Várias bandas participam no local, que
também tem segurança e praça de alimentação completa, DJ e globo da
morte. A entrada custa R$ 10”, completou.
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