'O que me encantou foi a elegante e precursora estrutura de concreto', escreveria a arquiteta Lina Bo Bardi sobre sua primeira visita à Fábrica de Tambores de Pompeia, em 1976 - o local, construído em 1938, pela firma alemã Mauser & Cia Ltda, trazia galpões que a remeteram a projetos ingleses do início da industrialização europeia, no século XIX. Na segunda vez em que foi à fábrica, encontrou crianças jogando futebol, mães preparando churrasquinhos e um teatro de bonecos. 'Pensei: isso tudo deve continuar assim'. Nascia dessas visitas a proposta de Lina para o Sesc Pompeia, na zona oeste de São Paulo.
Maquetes, vídeos e registros de eventos realizados na unidade desde 1982 poderão ser vistos na exposição 'Sesc Pompeia: 30 anos', que entra em cartaz amanhã e é coordenada por dois arquitetos que participaram da obra de Lina Bo Bardi como estagiários: André Vainer e Marcelo Ferraz.
A mostra será acompanhada pelo lançamento de 'Cidadela da Liberdade: Lina Bo Bardi e o Sesc Pompeia' (Edições Sesc SP), que reproduz croquis, fotos e textos sobre o centro de lazer. Também organizado por Vainer e Ferraz, o livro é uma ampliação do catálogo de uma exposição montada por eles em 1999, na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Nesse trabalho, eles buscavam destacar como os conceitos adotados por Lina Bo Bardi no Sesc Pompeia atendiam 'uma das mais nobres funções da arquitetura': criar espaços de convivência.
Quando o Sesc Pompeia foi inaugurado, em 1982, São Paulo 'aspirava se tornar um espaço de convivência', escreve Danilo Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, na abertura do livro. A cidade, diz, 'experimentava uma mobilização histórica singular, animada por valores humanistas e pelo desejo de justiça social irradiado a partir das campanhas por eleições diretas no país'.
Pouco depois da abertura, a unidade abrigava o festival punk 'O Começo do Fim do Mundo', evento que acabou em pancadaria e repressão policial. Foi o 'batismo de fogo' da entidade, como define Erivelto Busto Garcia, que foi superintendente de planejamento do Sesc de São Paulo. Em seu artigo no livro, ele discute o problema enfrentado por muitos centros culturais: como abrigar a subversão, sendo um órgão institucional? E como estar aberto ao imprevisível, mesmo seguindo uma programação?
O projeto de Lina Bo Bardi ajuda a equilibrar esses aspectos por meio da flexibilidade espacial. 'A área de convivência era em si mesma uma inovação provocadora - ?um lugar para não fazer nada' no coração de uma instituição que se pretendia educativa -, onde tudo poderia acontecer', escreve Garcia.
Nascida em Roma, em 1914, Lina se naturalizou brasileira em 1951 e aqui viveu até morrer, em 1992. É responsável, também, pelo prédio do Masp e pela sede do Teatro Oficina, entre outras obras.
A exposição 'Sesc Pompeia: 30 anos', fica em cartaz de 28/2 a 30/6, de terça a domingo, das 10h às 20h. A entrada é gratuita.
Informações: (11) 3871-7700
Google Imagens http://is.gd/YPM8ZW
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