24 julho, 2013

Dominguinhos e Zé Hilton...



A morte não vai calar a sanfona de Dominguinhos
Músico estava internado desde janeiro em Sâo Paulo
dominguinhos_r7Daia Oliver/R7

Dominguinhos foi o sanfoneiro mais importante da música brasileira
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Nesta terça-feira, aos 72 anos, o cantor, compositor e sanfoneiro Dominguinhos saiu de cena, deixando o som da sanfona mais triste ecoando no coração dos brasileiros. Após quase sete meses internado em coma no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o cantor não resistiu a complicações infecciosas e cardíacas.
Durante sete anos Dominguinhos, filho nobre de Garanhuns (PE), lutou contra um câncer no pulmão, resistindo a duros tratamentos e a consequência da doença, como insuficiência ventricular, arritmia cardíaca e diabetes. Mas só no limite da doença que chegou a cancelar shows, em 2012.
Foi no dedilhar de sua inseparável sanfona que José Domingos de Moraes, nascido no dia 12 de fevereiro de 1941, ganhou o País e se tornou o principal nome da música nordestina, considerado o grande herdeiro musical de Luiz Gonzaga.
Dominguinhos adorava um papo sem tempo marcado. Sentar na roda de amigos e falar sobre seu amor à música. Mas, mais ainda, sentar e colocar sua sanfona no colo e fazê-la chorar, para alegrar o povo, pra cantar seu povo nordestino. O instrumento era quase uma extensão de seu coração. Foi com ele que Dominguinhos imortalizou sucessos como Eu Só Quero um Xodó, De Volta pro Meu Aconchego e Isso Aqui Tá Bom Demais, entre outros.
O sanfoneiro tinha tanto amor à vida que evitava a todo custo viajar de avião, mesmo em trajetos longos. Tanto que os shows eram marcados com distancias um dos outros, para dar tempo de chegar de carro e chegou até a recusar turnês fora do País por causa do pânico.
Herdeiro musical de Gonzagão
O amor de Dominguinhos pela sanfona começou em casa. O pai do músico foi um famoso tocador e afinador de foles de oito baixos e instigou o pequeno Neném a se entregar ao choro da gaita.
A influência levou o garoto tomar gosto pela música. Dominguinhos começou a tocar sanfona aos seis anos de idade, juntamente com mais dois irmãos, no interior de Pernambuco. Juntos, eles formaram, mais tarde, o trio Os Três Pinguins.
A vida de Dominguinhos mudou definitivamente quando, aos oito anos, conheceu o mestre Luiz Gonzaga na porta de um hotel. Gonzagão acabou se tornando o seu padrinho artístico. Foi dele que o jovem Domingos recebeu a sugestão da escolha do nome artístico. Gonzaga considerou que o apelido de infância, Neném, não era tão apropriado.
 Dominguinhos
Dominguinhos ao lado de Ivete Sangalo. Sanfoneiro tinha 72 anos (Foto: Divulgação)

Em 1957, aos 16 anos, Dominguinhos participou da primeira gravação, tocando sanfona em um álbum de Luiz Gonzaga, na música Moça de Feira (Armando Nunes e J.Portela).
Em viagem ao Espírito Santo, em 1957, ele se juntou a Borborema e Miudinho para formar o Trio Nordestino, seu segundo grupo musical.
Depois de se aventurar na gafieira e no bolero, ele fez parte de uma excursão de Luiz Gonzaga ao Nordeste, como sanfoneiro e motorista. Foi dessa turnê que Dominguinhos se aproximou da cantora Anastácia, com quem formou parceria e se casou.
O xodó que conquistou o Brasil
As parcerias musicais de Dominguinhos rendem uma lista gigante. Chegou a trabalhar com Gal Costa e Gilberto Gil, antes de se tornar famoso nacionalmente. E foi da parceria de um ano e meio com Gil que gravou seu maior sucesso, em parceria com a mulher Anastácia, Eu Só Quero um Xodó. Em pouco tempo, a canção teve 20 regravações, inclusive no exterior.
E era só o começo. Foi na década de 1980 que Dominguinhos conquistou popularidades com as canções "De Volta pro Meu Aconchego" (em parceria com Nando Cordel), gravada por Elba Ramalho, e Isso Aqui Tá Bom Demais(parceria com Chico Buarque), que foram parar na trilha sonora da novelaRoque Santeiro (Globo).
Ao todo, nos mais de 60 anos dedicados à música, foram 40 álbuns lançados, entre registros ao vivo, em estúdio e coletâneas. O primeiro DVD foi gravado ao vivo, em 2009, no maior teatro ao ar livre do mundo, o Nova Jerusalém, em Pernambuco. O álbum teve participações de Elba Ramalho, Renato Teixeira, a filha Liv Moraes, Waldonys, Cezinha, a mulher Guadalupe e Jorge de Altinho.
Em 2007, participou do primeiro disco solo de sua filha, Liv Moraes, fazendo o arranjo e tocando acordeom em algumas faixas.
Sanfoneiro mais importante do Brasil
O último trabalho de Dominguinhos foi o DVD "Iluminado Dominguinhos", um projeto que contou com o apoio do Ministério da Cultura, que celebrava os 60 anos dedicados à música. Do álbum, participaram os artistas Elba Ramalho, Wagner Tiso, Gilberto Gil, Yamandu Costa, Waldonys e Gilson Perazzeta.
No mesmo ano, realizou participação especial no CD Sorrir Faz a Vida Valer, de Roberta Miranda, na faixa Forrópeando. O disco chegou a ser indicado ao prêmio Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja.
A carreira de Dominguinhos é cheia de prêmios e honras. Em 2002, ganhou o Grammy Latino com o CD Chegando de Mansinho. Em 60 anos de carreira recebeu seis prêmios Sharp.  Em 2008, foi o grande homenageado no Prêmio Multishow, enquanto, em 2010, foi contemplado com o prêmio Shell de Música, pelo conjunto de sua obra. No mesmo ano, participou e foi o homenageado principal do 2º Festival Internacional da Sanfona, realizado em Juazeiro (BA).
Dominguinhos deixa dois filhos, Mauro da Silva Moraes, do primeiro casamento do músico, e Liv Moraes, que é cantora e filha de Maria Guadalupe, sua última companheira.

De: "Montanhas em Ação" < donotreply@wordpress.com >

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