10 abril, 2020

Charles Chaplin recebe Oscar honorário por trajetória profissional

10 de Abril de 1972   - Ator inglês volta aos EUA depois de um hiato de vinte anos, vítima das perseguições do macartismo


Como parte de sua primeira visita aos Estados Unidos em 20 anos, Charles Chaplin, gênio da Sétima Arte, recebe um prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por sua “incalculável contribuição” à arte do cinema, em 10 de abril de 1972. Chaplin, a mais fulgurante estrela de ator e diretor do cinema mudo, deixara os EUA debaixo de tempestuosa controvérsia em 1952.


Nascido em Londres, em 1889, Chaplin era filho de artistas de “vaudeville” e de teatro mambembe itinerante, tendo subido ao palco ainda muito jovem. Seu pai morre e sua mãe é levada a uma instituição para doentes mentais, deixando-o em terrível orfandade que foi amenizada quando ele juntou-se ao seu meio-irmão numa trupe de vaudeville aos 17 anos. Mack Sennett, o inovador da comédia burlesca nos Estados Unidos, descobriu Chaplin quando estava de visita ao país com sua trupe. Já em 1913, foi contratado para atuar em curtos filmes cômicos para a Companhia Sennett's Keystone.

Em seu Segundo filme, "Kid Auto Races at Venice" (1914), Chaplin já começava a criar o personagem que o tornaria famosíssimo no mundo inteiro – “O Pequeno Vagabundo”.  O vagabundo vestia um chapéu-coco, bigodinho bem cortado, calças bastante folgadas e uma bengala, além de um andar afetado com as pernas arqueadas, os pés bem abertos, calçando sapatos rotos de número muito maior. Era um herói desamparado, destinado a perder as paradas, no entanto amado pelos cinéfilos. Chaplin trabalharia desta maneira em mais de 70 desses filmes.



Charles Chaplin (à direita) recebe Oscar honorário em 1972 das mãos do Ator Jack Lemmon.


Na era do cinema mudo, reinava a comédia pastelão e Chaplin era o grande mestre da mímica. Tornou-se uma das personalidades mais reconhecidas dos Estados Unidos, percebendo então os maiores salários do mundo artístico. Pouco depois, assumiu a direção de seus próprios filmes. Com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D.W. Griffith, fundou a United Artists em 1919 de sorte a ter maior controle sobre seus projetos e produção.

Chaplin dirigiu, atuou, escreveu, produziu e compôs músicas para as suas comédias de longa metragem: “O Garoto” (1921), “Em Busca do Ouro” (1925), “Luzes da Cidade” (1931), “Tempos Modernos” (1936) e “O Grande Ditador” (1940). Esses filmes abordavam questões políticas e sociais de então, as quais, olhadas do ponto de vista do Pequeno Vagabundo, mostravam-se um pouco mais acentuadas.

Após o advento do filme sonoro no final dos anos 1920, Chaplin aparecia em intervalos maiores, todavia sua fama não cessou de crescer. Seus filmes ganharam novas audiências no mundo todo, tornaram-se clássicos e o personagem do pequeno vagabundo ganhou novos nomes, como “Charlot” ou “Carlitos”.

Fora das câmeras, a vida privada de Chaplin com frequência chegava às manchetes sensacionalistas da imprensa marrom. Casou-se quarto vezes, três delas com as heroínas de seus filmes. Em 1943 foi acusado por uma mulher de ser o pai de seu filho. Naquele mesmo ano, numa decisão que causou escândalo, casa-se com Oona O'Neill, 18 anos, filha do célebre dramaturgo Eugene O'Neill. Chaplin tinha 54. No entanto, Oona foi sua companheira até os últimos dias.

As visões políticas de Chaplin também eram criticadas pelos setores conservadores de direita assim como sua evasiva em adotar a cidadania norte-americana.

Acusado de defender causas subversivas pelo Comitê de Atividades Anti-americanas, presidido pelo senador Joseph McCarthy, Chaplin deixa os Estados Unidos em 1952. Informado que seu eventual regresso não seria necessariamente bem-vindo, respondeu “Não tenho intenções de voltar nem se o presidente fosse Jesus Cristo”. Passou a viver com sua família em Corsier-sur-Vevey, Suíça, à beira do lago Leman. Chegou a fazer alguns filmes mais, entre os quais se destacou “Luzes da Ribalta”, com a célebre canção Smile.

Em abril de 1972, resolveu aceitar a honraria da Academia de Arte Cinematográfica e viajou para Hollywood, Los Angeles e recebeu pessoalmente a estatueta, debaixo de intermináveis aplausos de uma plateia que o reconhecia. Previamente, já havia ganho um Oscar honorário, em 1929, pelo filme “O Circo” (1928). Morreu em 25 de dezembro de 1977, aos 88 anos.