O
presidente Lula falou como convidado de honra na abertura do 2º
Congresso dos Diários do Interior, organizado pela Associação dos
Diários do Interior do Brasil.
O
convite foi um reconhecimento de tudo o que seu governo fez para
democratizar a publicidade oficial do governo, passando a anunciar na
imprensa regional, inclusive em pequenos jornais e rádios do interior.
Lula
explicou que essa pequena imprensa acaba sendo mais importante para o
cidadão porque informa as coisas do interesse do povo: abertura de vagas
em escolas, chegada de médicos, inscrição para a casa própria, direitos
sociais, conquistas de benfeitorias, obras, etc. Orienta o cidadão a
conhecer e exercer seus direitos. A imprensa nacional (o PIG - Partido
da Imprensa Golpista) só noticia os defeitos, mesmo quando é exceção.
No fim, Lula defendeu também a democratização das comunicações na imprensa nacional também.
Eis a transcrição do discurso na íntegra:
É
sempre um prazer dialogar com os jornalistas e empresários da imprensa
regional brasileira. Por isso agradeço o convite da Associação dos
Diários do Interior do Brasil para participar desse Congresso.
Vocês
acompanharam as transformações que ocorreram no Brasil nesses 11 anos e
que beneficiaram o conjunto do país, não apenas os privilegiados de
sempre ou as grandes capitais.
Sabem exatamente como essa mudança chegou às cidades médias e aos mais distantes municípios.
O
Brasil antigo, até 2002, era um país governado para apenas um terço dos
brasileiros, que viviam principalmente nas capitais. A grande maioria
da população estava condenada a ficar com as migalhas; excluída do
processo econômico e dos serviços públicos, sofrendo com o desemprego, a
pobreza e a fome.
Os
que governavam antes de nós diziam que era preciso esperar o país
crescer, para só depois distribuir a riqueza. Mas nem o país crescia o
necessário nem se distribuía a riqueza.
Nós
invertemos essa lógica perversa, adotando um modelo de desenvolvimento
com inclusão social. Criamos o Fome Zero e o Bolsa Família, que hoje é
um exemplo de combate à pobreza em muito países.
Adotamos
uma política de valorização permanente do salário e de expansão do
crédito, que despertaram a força do mercado interno, e ao mesmo tempo
garantimos a estabilidade, controlando a inflação e reduzindo a dívida
pública.
O
resultado vocês conhecem: 36 milhões de pessoas saíram da extrema
pobreza, 42 milhões alcançaram a classe média e mais de 20 milhões de
empregos foram criados.
O
Brasil não é mais um país acanhado e vulnerável. Não é mais o país que
seguia como um cordeirinho a política externa ditada de fora. Não é só o
país do futebol e do carnaval, embora tenhamos orgulho da alegria e do
talento do nosso povo.
O Brasil tornou-se um competidor global – e isso incomoda muita gente, contraria interesses poderosos.
A
imprensa cumpre o importante papel de traduzir essa nova realidade para
a população. E isso não se faz sem uma imprensa regional fortalecida,
voltada para aquela grande parcela do país que não aparece nas redes de
TV.
Todo
governo democrático tem a obrigação de prestar contas de seus atos à
sociedade. E tem obrigação de divulgar os serviços públicos à disposição
da população.
A
publicidade oficial é o instrumento dessa divulgação, que se faz em
parceria com os veículos de imprensa – desde a maior rede nacional até
os jornais do interior profundo do país.
Uma das mudanças mais importantes que fizemos nestes 11 anos foi democratizar o critério de programação da publicidade oficial.
Quero
recordar que esta medida encontrou muito mais resistências do que
poderíamos imaginar, embora ela tenha sido muito importante para
aumentar a eficiência da comunicação de governo.
Essa medida foi também uma questão de justiça, para reconhecer a importância do interior no desenvolvimento do Brasil.
Quando
o companheiro Luiz Gushiken, que era o ministro da Secom em meu
primeiro mandato, começou a democratizar a publicidade oficial, muita
gente foi contra.
As
agências de publicidade, os programadores de mídia e os representantes
dos grandes veículos achavam que era uma mudança desnecessária.
Reclamaram quando o Luiz Dulci incluiu a imprensa regional na programação de publicidade do governo federal.
E
reclamaram ainda mais quando o Franklin Martins aprofundou a política
de democratização da publicidade, abrangendo as empresas estatais.
Diziam que para falar com o Brasil bastava anunciar nos jornais de circulação nacional e nas redes de rádio e TV.
Hoje
é fácil ver como estavam errados, pois a imprensa regional está cada
vez mais forte. São 380 diários que circulam 4 milhões de exemplares por
dia, de acordo com os dados da ADI-Brasil.
Isso ocorre porque temos políticas que levam progresso e inclusão social ao interior do país.
De cada 3 empregos criados no ano passado, 2 se encontram em cidades do interior e apenas 1 nas regiões metropolitanas.
Nunca
antes o governo federal investiu tanto no desenvolvimento regional,
para combater desequilíbrios injustos e injustificáveis.
Nunca antes a relação entre o governo federal, os Estados e as prefeituras foi tão republicana quanto nestes 11 anos.
E são jornais do interior – e não os veículos nacionais – que traduzem essa realidade.
Quando
chegamos ao governo, a publicidade oficial era veiculada em anunciava
em 249 rádios e jornais. Em 2009, o governo federal já estava anunciando
em 4.692 rádios e jornais de todo o país.
Meus amigos, minhas amigas
Pediram-me
para contar aqui uma experiência com a imprensa regional no período em
que fui presidente da República. Vou contar o que aprendi comparando a
cobertura da imprensa regional com a que fazem os grandes jornais.
Quando
o Luz Pra Todos chega numa localidade rural ou numa periferia pobre,
está melhorando a vida daquelas pessoas e gerando empregos. Isso é uma
notícia importante para os jornais da região.
Os
grandes jornais nunca deram valor ao Luz Pra Todos, mas quando o
programa superou todas as expectativas e alcançou 15 milhões de
brasileiros, um desse jornais deu na primeira página: “1 milhão de
brasileiros ainda vivem sem luz”. Está publicado, não é invenção.
Onde é que estava esse grande jornal quando 16 milhões de brasileiros não tinham luz?
Quando
chega o momento de plantar a próxima safra, são os jornais regionais
que informam sobre as datas, os prazos, os juros e as condições de
financiamento nas agências bancárias locais.
Mas
na hora de informar à sociedade que em 11 anos o crédito agrícola
passou de R$ 30 bilhões para R$ 157 bilhões, o que a gente lê num grande
jornal é que a inflação pode aumentar porque o governo está expandindo o
crédito.
Quando
uma agência bancária da sua cidade recebe uma linha do BNDES pra
financiar a compra de tratores e veículos pelo Mais Alimentos, vocês
sabem que isso aumenta a produtividade e aquece o comércio local. É uma
boa notícia.
Mas
quando o programa bate o recorde de 60 mil tratores e 50 mil veículos
financiados, a notícia em alguns jornais é que o governo “está
pressionando a dívida interna bruta”.
Quando nasce um novo bairro na cidade, construído pelo Minha Casa Minha Vida, essa é uma notícia local muito importante.
Mas
um programa que contratou 3 milhões de unidades, e já entregou mais da
metade, só aparece na TV e nos grandes jornais se eles encontram uma
casa com goteira ou um caso qualquer de desvio.
Quando
o governo federal inaugura um hospital regional, isso é manchete nos
jornais de todas as cidades daquela região. O mesmo acontece quando
chega o SAMU ou um posto do Brasil Sorridente.
Mas
lendo os grandes jornais é difícil ficar sabendo das quase 300 UPAs, 3
mil ambulâncias do SAMU e mais de mil consultórios odontológicos que
foram abertos por todo o país nestes 11 anos.
A
maior cobertura de políticas públicas que os grandes jornais fizeram,
nesse período, foi para apoiar o fim da CPMF, que tirou R$ 50 bilhões
anuais do orçamento da Saúde.
Quando
sua cidade recebe profissionais do Mais Médicos, vocês sabem o que isso
representa para os que estavam desatendidos. Vão entrevistar os
médicos, apresentá-los à população.
Mas
quando 15 mil profissionais vão atender 50 milhões de pessoas no
interior do país, a imprensa nacional só fala daquela senhora que
abandonou o programa por razões políticas, ou daquele médico que foi
falsamente acusado de errar numa receita.
Quando
um novo câmpus universitário é aberto numa cidade, os jornais da região
dão matérias sobre os novos cursos, as vagas abertas, debatem o
currículo, acompanham o vestibular.
Lendo
os grandes jornais é difícil ficar sabendo que nestes 11 anos foram
criadas18 novas universidades e abertos 146 novos campi pelo interior do
país.
É
nos jornais do interior que se percebe a mudança na vida de milhões de
jovens, porque eles não precisam mais sair de casa, deixar para trás a
família e os valores, para cursar a universidade.
O
número de universitários no Brasil dobrou para 7 milhões, graças ao
Prouni, ao Reuni e ao FIES. Os grandes jornais não costumam falar disso,
mas são capazes de fazer um escândalo quando uma prova do ENEM é
roubada de dentro da gráfica – que por sinal era de um dos maiores
jornais do país.
Quando
uma escola técnica é aberta numa cidade do interior, essa é uma notícia
muito importante para os jovens e para os seus pais, e vai sair com
destaque em todos os jornais da região.
Quando
eu informo que nesses 11 anos já abrimos 365 escolas técnicas, duas
vezes e meia o que foi feito em século neste país, os grandes jornais
dizem apenas que o Lula “exaltou o governo do PT e voltou a atacar a
oposição”.
Quando
chega na sua cidade um ônibus, um barco ou um lote de bicicletas para
transportar os estudantes da zona rural, essa é uma boa notícia.
O
programa Caminho da Escola já entregou 17 mil ônibus, 200 mil
bicicletas e 700 embarcações, para transportar 2 milhões de alunos em
todo o país. Mas só aparece na TV se faltar combustível ou se o
motorista do ônibus não tiver habilitação.
Eu
costumo dizer que os grandes jornais me tratam muito bem. Mas eu
gostaria mesmo é que mostrassem as mudanças que ocorrem todos os dias em
todos os cantos do Brasil.
Meus amigos, minhas amigas,
Quanto
mais distante estiver da realidade, mais vai errar um veículo de
comunicação. Basta ver o que anda publicando sobre o Brasil a imprensa
econômica e financeira do Reino Unido.
O
país deles tem uma dívida de mais de 90% do PIB, com índice recorde de
desemprego, mas eles escrevem que o Brasil, com uma dívida líquida de
33%, é uma economia frágil.
Não
conheço economia frágil com reservas de US$ 377 bilhões, inflação
controlada, investimento crescente e vivendo no pleno emprego.
Escrevem
que os investidores não confiam no Brasil, mas omitem que somos um dos
cinco maiores destinos globais de investimento externo direto, à frente
de qualquer país europeu.
Dizem
que perdemos o rumo e devemos seguir o exemplo de países obedientes à
cartilha deles. Mas esquecem que desde 2008, enquanto o mundo destruiu
62 milhões de postos de trabalho, o Brasil criou mais de 10 milhões de
novos empregos.
O
que eu lamento é que alguns jornalistas brasileiros fiquem repetindo
notícias erradas que vêm de fora, como bonecos de ventríloquo. Isso é
ruim para a imprensa, porque o público sabe distinguir o que é realidade
do que não é.
Alguns
jornalistas dos grandes veículos passaram o ano de 2013 dizendo que a
inflação ia estourar, mas ela caiu. Passaram o ano dizendo que a
inadimplência ia explodir, mas ela também caiu.
Diziam
que o desemprego ia crescer, e nós terminamos o ano com a menor taxa da
história. Chegaram a dizer que o Brasil entraria em recessão, mas a
economia cresceu 2,3%, numa conjuntura internacional muito difícil.
Eu
gostaria que esses jornalistas viajassem pelo interior do país,
conhecessem melhor a nossa realidade, estudassem um pouco mais de
economia, antes de repetir previsões pessimistas que não se confirmam.
E
vou continuar defendendo a liberdade de imprensa e o direito de
opinião, porque sei que, mesmo quando erra, a imprensa livre é
protagonista essencial de uma sociedade democrática.
Meus amigos, minhas amigas,
A
democracia é o único sistema que permite transformar um país para
melhor. E ela não existe sem que as pessoas participem diretamente da
vida política. Por isso digo sempre aos jovens: se querem mudar a
política, façam política. E façam de um jeito melhor, diferente. Negar a
política é o caminho mais curto para abolir a democracia.
Aprimorar
a democracia significa também garantir ao cidadão o direito à
informação correta e ao conhecimento da diversidade de ideias, numa
sociedade plural. Esse tema passa pela construção do marco regulatório
da comunicação eletrônica, conforme previsto na Constituição de 1988.
O
Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962, quando no país inteiro
havia apenas 2 milhões de aparelhos de TV. Como diz o Franklin Martins,
havia mais televizinhos do que televisores.
É
de um tempo em que não havia rádio FM, não havia computadores, não
havia internet. De um tempo em que era preciso marcar hora para fazer
interurbano.
No
Brasil de hoje é preciso garantir a complementariedade de emissoras
privadas, públicas e estatais. Promover a competição e evitar a
contaminação do espectro por interesses políticos. Estimular a produção
independente e respeitar a diversidade regional do país.
Uma
regulação democrática vai incentivar os meios de comunicação de caráter
comunitário e social, fortalecer a imprensa regional, ampliar o acesso à
internet de banda larga. Por isso foi tão importante aprovar o Marco
Civil da Internet.
Este
é o desafio que se apresenta aos meios de comunicação, seus dirigentes e
seus profissionais, nesse novo Brasil: o desafio de ser relevante num
país com uma população cada vez mais educada, com um nível de renda que
favorece a independência de opinião e com acesso cada vez mais amplo a
outras fontes de informação.
Quero
cumprimentar a ADI-Brasil, mais uma vez, pela realização desse
Congresso, e dar os parabéns aos seus associados, que levam notícias
para a população do interior desse imenso país.
Muito obrigado.
Subject: Os Amigos do Presidente Lula
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