100 ANOS DE CARLITOS
Carlitos ou o mais comumente conhecido como “O Vagabundo” (The Tramp) está completando 100 anos em 2014. A estreia cinematográfica de Charlie Chaplin aconteceu em 2 de fevereiro de 1914 com “Carlitos Repórter” (Making a Living), mas o personagem do Vagabundo surgiu pela primeira vez em seu segundo filme, lançado em 7 de abril de 1914, o curta-metragem (11 minutos) “Kid Auto Races at Venice”, dirigido por Henry Lehrman e produzido por Mack Sennett também para a Keystone.
“Carlitos Repórter”, dirigido por Henry Lehrman e produzido por Mack Sennett para os Estúdios Keystone, foi lançado em 2 de fevereiro de 1914 e marcou a estreia de Chaplin nos cinemas.
Assista no YouTube os dois primeiros filmes estrelados por Charlie Chaplin:
Em “Kid Auto Races at Venice” percebemos o primeiro esboço daquele que se tornaria o mais memorável personagem de todo o período silencioso.
Em sua autobiografia, Chaplin contou que enquanto se encaminhava para o vestiário, pensava sobre com quais roupas iria vestir seu personagem: “Eu não tinha ideia sobre que maquiagem usar. Eu não gostava do personagem do repórter de imprensa [em "Carlitos Repórter"]. Entretando, no caminho para o guarda-roupa, eu pensei em vestir calças largas, sapatos grandes, uma bengala e um chapéu coco. Eu queria que tudo fosse uma contradição: as calças folgadas, o casaco apertado, o chapéu pequeno e os sapatos grandes. Eu estava indeciso se o personagem seria velho ou jovem, mas lembrando que [Mack] Sennett esperava que eu fosse um homem muito mais velho, eu adicionei um pequeno bigode que eu raciocinei que acrescentaria idade sem esconder minha expressão. Eu não tinha ideia do personagem. Mas no momento em que eu estava vestido, as roupas e a maquiagem me fizeram sentir a pessoa que ele era. Comecei a conhecê-lo e quando entrei em cena ele estava totalmente criado.”
Talvez Chaplin tenha exagerado na sua modesta descrição de como criou seu personagem imortal – uma simples caminhada até o guarda-roupa de um estúdio não condiz com a genialidade que se percebe em cada gesto e expressão usada por ele toda vez que atuava como o Vagabundo. Talvez esse pequeno instante na carreira de Chaplin – sua caminhada até o guarda-roupa – tenha ficado marcado em sua memória como o momento em que o personagem ganhou vida própria, como se criador e criatura se unissem em uma única pessoa. A verdade é que em “Mabel’s Strange Predicament”, seu terceiro filme, lançado em 9 de abril de 2014, o personagem já estava definitivamente concebido.
O ponto de virada na carreira de Chaplin, porém, veio ainda durante sua permanência nos estúdios da Keystone, durante as filmagens de seu 9º curta-metragem, “Mabel at the Wheel”. Dirigido pela própria Mabel Normand, no qual Chaplin não vive o Vagabundo, mas o vilão da história. Normand e Chaplin estavam decidindo sobre uma gag para o filme na qual Chaplin tinha trabalhado durante algum tempo. “Nós estávamos em locação, nos subúrbios de Los Angeles, e Mabel queria que eu ficasse com uma mangueira molhando o chão para que o carro do vilão derrapasse. Eu sugeri que eu pusesse o pé sobre a mangueira prendendo a água e quando eu olhasse para baixo em direção ao bico, o jato de água sairia diretamente na minha cara. Mas ela me calou rapidamente dizendo ‘Não temos tempo! Não temos tempo! Faça como você disse’”.
Aquilo foi o bastante para Chaplin que não aceitou o que queriam que ele fizesse em cena: “Desculpe, senhorita Normand. Eu não vou fazer o que me disseram. Eu não acho que você é competente para me dizer sobre o que fazer”. Sennett ficou sabendo da discussão e estava decidido a despedir Chaplin no final daquela semana. Entretanto, no dia seguinte ele recebeu um telegrama de Nova York pedindo freneticamente por mais filmes de Chaplin. Sennett então tratou de colocar panos quentes sobre o assunto levando Normand e Chaplin para jantar. As filmagens terminaram e o filme foi lançado em 18 de abril de 1914.
Aquele momento de rebeldia de Chaplin se tornaria o seu primeiro passo para se tornar independente. Em seu filme seguinte, “Twenty Minutes of Love”, dirigido por Joseph Madden e lançado em 20 de abril de 2014, Chaplin já conseguiu usufruir de maior liberdade criativa, tanto que muitos historiadores acreditam que este foi de fato o primeiro filme que ele dirigiu. Oficialmente, a estreia de Chaplin como diretor veio com “Caught in the Rain”, lançado em 4 de maio de 1914. No filme, Chaplin interpretava um bêbado que perseguia a personagem de Alice Davenport dentro de um hotel. Foi um sucesso absoluto e desde então Chaplin não precisou mais trabalhar para ninguém, além de si próprio.
Como ator da Keystone, Chaplin parecia ter esgotado os estereótipos do cinema pastelão da época, entre bêbados, bolinadores e garçons atrapalhados, mas quando começou a dirigir a si próprio, ele criou um sentido de ritmo que fazia da comédia uma espécie de dança cuidadosamente coreografada, e revelou ao mundo um dom para sempre encontrar uma reviravolta inesperada em qualquer situação cômica capaz de subverter as expectativas do público – seja atrasando ou negando aquilo que o público ansiava por ver e em vez disso apresentando uma situação que ninguém havia pensado antes. Colocar dinheiro de seu próprio bolso – suas economias de uma vida inteira para garantir que seus filmes saíssem do jeito que ele queria – faria Chaplin se lançar como produtor e dono de seu próprio estúdio de cinema, a United Artists.
Pode-se dizer que Chaplin filmava comédias como D.W. Griffith dirigia seus dramas, estabelecendo regras e ditando normas que formariam a cartilha básica para qualquer um que mais tarde resolvesse enveredar pela comédia ou pelo drama, respectivamente. Mesmo quando em seus filmes Chaplin parecia estar apenas fazendo variações sobre um mesmo tema como nos filmes em que atuou para Mack Sennett, a lógica interna de seus personagens criava uma sensação de expectativa que fazia com que o público fosse recompensado de forma mais gratificante no final, algo além daquilo que o absurdo e as surpresas de qualquer roteiro ofereciam.
“É evidente que Chaplin derrubou os limites da comédia em cada fase sucessiva de sua carreira, assim como Picasso derrubou os limites da arte em cada fase sucessiva de sua carreira”, escreveu Rick Levinson em seu “Ranking the Silent Comedians”: “Você tem que ter uma noção do que era a comédia antes, durante e após a carreira de Chaplin para ter uma noção do imenso impacto que ele fez sobre a cultura do século 20″.
Não era apenas uma questão de ver algo que ninguém nunca vira ou fizera antes de Chaplin. O público imediatamente percebeu que não só havia algo diferente em seus filmes, mas também que Chaplin tinha algo realmente especial para oferecer a ele durante aqueles anos de cinema mudo, e com quem apenas Douglas Fairbanks e Mary Pickford, seus futuros sócios na United Artists, poderiam concorrer em termos de bilheteria e fama.
Sabedoria, Saúde e Suce$$o: Sempre.
Aquele momento de rebeldia de Chaplin se tornaria o seu primeiro passo para se tornar independente. Em seu filme seguinte, “Twenty Minutes of Love”, dirigido por Joseph Madden e lançado em 20 de abril de 2014, Chaplin já conseguiu usufruir de maior liberdade criativa, tanto que muitos historiadores acreditam que este foi de fato o primeiro filme que ele dirigiu. Oficialmente, a estreia de Chaplin como diretor veio com “Caught in the Rain”, lançado em 4 de maio de 1914. No filme, Chaplin interpretava um bêbado que perseguia a personagem de Alice Davenport dentro de um hotel. Foi um sucesso absoluto e desde então Chaplin não precisou mais trabalhar para ninguém, além de si próprio.
Como ator da Keystone, Chaplin parecia ter esgotado os estereótipos do cinema pastelão da época, entre bêbados, bolinadores e garçons atrapalhados, mas quando começou a dirigir a si próprio, ele criou um sentido de ritmo que fazia da comédia uma espécie de dança cuidadosamente coreografada, e revelou ao mundo um dom para sempre encontrar uma reviravolta inesperada em qualquer situação cômica capaz de subverter as expectativas do público – seja atrasando ou negando aquilo que o público ansiava por ver e em vez disso apresentando uma situação que ninguém havia pensado antes. Colocar dinheiro de seu próprio bolso – suas economias de uma vida inteira para garantir que seus filmes saíssem do jeito que ele queria – faria Chaplin se lançar como produtor e dono de seu próprio estúdio de cinema, a United Artists.
Pode-se dizer que Chaplin filmava comédias como D.W. Griffith dirigia seus dramas, estabelecendo regras e ditando normas que formariam a cartilha básica para qualquer um que mais tarde resolvesse enveredar pela comédia ou pelo drama, respectivamente. Mesmo quando em seus filmes Chaplin parecia estar apenas fazendo variações sobre um mesmo tema como nos filmes em que atuou para Mack Sennett, a lógica interna de seus personagens criava uma sensação de expectativa que fazia com que o público fosse recompensado de forma mais gratificante no final, algo além daquilo que o absurdo e as surpresas de qualquer roteiro ofereciam.
“É evidente que Chaplin derrubou os limites da comédia em cada fase sucessiva de sua carreira, assim como Picasso derrubou os limites da arte em cada fase sucessiva de sua carreira”, escreveu Rick Levinson em seu “Ranking the Silent Comedians”: “Você tem que ter uma noção do que era a comédia antes, durante e após a carreira de Chaplin para ter uma noção do imenso impacto que ele fez sobre a cultura do século 20″.
Não era apenas uma questão de ver algo que ninguém nunca vira ou fizera antes de Chaplin. O público imediatamente percebeu que não só havia algo diferente em seus filmes, mas também que Chaplin tinha algo realmente especial para oferecer a ele durante aqueles anos de cinema mudo, e com quem apenas Douglas Fairbanks e Mary Pickford, seus futuros sócios na United Artists, poderiam concorrer em termos de bilheteria e fama.